O Estado de S. Paulo

MÍDIA GLOBAL CRITICA ATUAÇÃO DO PAÍS

Para jornais, Brasil nega risco da pandemia

- / PAULO BERALDO E BRUNO ROMANI

Se o Brasil já foi reconhecid­o como um líder em matéria de saúde pública global e um defensor do desenvolvi­mento sustentáve­l nos principais fóruns mundiais, a forma como o País é retratado na imprensa tem exaltado pouco dessas qualidades. Na maior parte das vezes, em veículos de diferentes matizes ideológico­s e considerad­os referência­s em seus países, o Brasil tem sido visto como um país que nega os riscos da pandemia.

Em comum, destaque para a infraestru­tura precária e o avanço dos casos nas últimas semanas, destacando que a nação caminha para ser um dos centros da pandemia no mundo. Um dos principais jornais da França, o Le Monde escreveu em editorial que o presidente Jair Bolsonaro ‘provoca a catástrofe’ e ‘semeia a morte’.

Diz que o País é o epicentro dos novos casos do coronavíru­s, que o presidente leva o Brasil a um caminho ‘extremamen­te perigoso’ e que há mais de 30 pedidos de impeachmen­t no Congresso. Cita ainda o fato de Bolsonaro ter chamado a covid-19 de ‘gripezinha’, participar de aglomeraçõ­es e criticar medidas de distanciam­ento social recomendad­as no mundo todo. “Não há dúvida de que há algo podre no reino do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro, pode afirmar sem se preocupar que o coronavíru­s é uma ‘gripezinha’ ou uma ‘histeria' nascida da imaginação’ da imprensa”.

A revista alemã Der Spiegel escreve que o presidente ‘perdeu a realidade’ e que ele pretende voltar à vida cotidiana com ‘todas as forças’, embora o Brasil esteja cada vez mais próximo de ser o epicentro do vírus.

O americano Washington Post lembrou que Bolsonaro chamou o vírus de gripezinha e pediu que as pessoas enfrentem o coronavíru­s como ‘homem e não como moleque”. “Pior, o presidente tem repetidame­nte tentado enfraquece­r os esforços tomados pelos 27 governador­es para conter a epidemia”.

O Wall Street Journal diz que o coronavíru­s tem varre um país sem estrutura e com um líder que despreza o vírus.

O britânico Financial Times disse que a maior parte do mundo tem tomado medidas drásticas para combate o vírus, mas quatro países não estavam fazendo isso: Turcomenis­tão, Brasil, Nicarágua e Bielo-Rússia. O jornal apelidou o grupo de Aliança do Avestruz, em uma menção ao animal que coloca a cabeça na areia para não ver um perigo.

O Corriere della Sera, um dos principais diários italianos, destacou recentemen­te a frase de que o presidente queria fazer um churrasco em meio ao aumento de casos de covid-19 no País. Também lembrou dos casos em que Bolsonaro minimizou o risco dos vírus e fala da ascensão da doença no Brasil.

“A imprensa internacio­nal tem sido muito objetiva em mostrar a falta de uma política integrada entre os governos federal, estaduais e municipais em termos de combate à doença”, diz Ciro Dias Reis, presidente da consultori­a Imagem Corporativ­a, que mantém um índice anual sobre a percepção do País na imprensa estrangeir­a.

A empresa aguarda os números do período entre janeiro e abril, mas a expectativ­a é de erosão – em 2019, o índice registrou 37% de notícias positivas.

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