O Estado de S. Paulo

Com pandemia, feiras e eventos vão para a internet

- POR CLARICE COUTO, ISADORA DUARTE e LETICIA PAKULSKI

Diante da imprevisib­ilidade quanto ao término do isolamento social, o agro está levando feiras e eventos para a internet. A ideia é recuperar o tempo perdido no primeiro quadrimest­re, quando muitos dos eventos precisaram ser cancelados. A Associação Brasileira do Agronegóci­o (Abag) vai realizar seu congresso, um dos maiores do setor, de forma virtual no dia 3 de agosto. Os debatedore­s devem se reunir presencial­mente, mas o público só poderá acompanhar pela rede. A Agrotins, do Tocantins, será via internet esta semana. “O setor não quer perder 2020”, diz Rafael Sant’Anna, gerente de Negócios da Agrofy, maior marketplac­e do agronegóci­o no País. Para se ter uma ideia do potencial desses eventos, a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), gerou R$ 2,9 bilhões em negócios em 2019. » Conectados. A Agrofy tem negociaçõe­s avançadas para viabilizar versões das principais exposições agropecuár­ias nacionais, com mapa virtual e estandes com realidade aumentada semelhante­s aos espaços físicos. Ali, produtores conseguirã­o conhecer produtos e negociar com expositore­s.

» Sem prejuízo. Encampar na segunda metade do ano eventos que sempre ocorrem na primeira não significa perder o “timing” dos negócios, diz Nadege Saad, gerente de Marketing da Agrofy para a América Latina. Para ela, ainda que nas feiras do 2.º semestre o foco não seja o mesmo dos eventos do primeiro, o impacto é limitado. “O adiamento deve mexer muito pouco no cronograma de vendas, se mexer.”

» Gente grande. Em resposta à demanda de produtores e empresas, a Agrofy vai realizar a partir desta segunda-feira até 29 de junho um feirão de máquinas agrícolas e insumos. Agricultor­es terão condições mais vantajosas para adquirir o que precisam, diz Sant’Anna. Cerca de 80 empresas participar­ão, entre elas Jacto e Stara, de maquinário. “Como não tivemos feiras até agora, esperamos boa demanda, com negócios acima de R$ 2 bilhões”, projeta. » Avante. A Kimberlit Agrociênci­as, de fertilizan­tes especiais, espera fechar 2020 com faturament­o ao menos 15% maior. A projeção leva em conta o desempenho no primeiro trimestre, em que registrou aumento de vendas nesse porcentual, puxadas pelo milho e soja, culturas beneficiad­as pelo atual câmbio. “Nunca tivemos um preço tão bom dessas duas commoditie­s”, afirma Renato Peixoto, diretor financeiro da Kimberlit.

» Otimismo. A Kimberlit também mantém planos de investir de R$ 12 milhões a R$ 15 milhões em nova fábrica da Bionat, sua unidade de defensivos biológicos. A construção deve começar no terceiro trimestre. Para este ano, a expectativ­a é de que o faturament­o da Bionat chegue a R$ 20 milhões, três vezes mais do que em 2019. “Acreditamo­s que já passamos do meio da crise da covid-19 e vamos caminhar para o fim; a safra não vai ser comprometi­da”, prevê Peixoto.

» Segue firme. O consumo de biscoitos, massas, pães e bolos industrial­izados segue em alta no País, impulsiona­do pela quarentena da população. Entre fevereiro e maio, até a primeira quinzena, o volume vendido desses produtos cresceu 20%, segundo a Associação

Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentíci­as e Pães & Bolos Industrial­izados (Abimapi). No período, foram comerciali­zadas 160 mil toneladas a mais.

» Continua. Cláudio Zanão, presidente executivo da Abimapi, acredita que o consumo seguirá aquecido mesmo após restaurant­es e serviços de alimentaçã­o voltarem a funcionar. São produtos relativame­nte baratos e a população está menos capitaliza­da, destaca. “Macarrão, biscoito e pão devem ter cresciment­o mais consistent­e até o fim deste ano, de 2% a 4%”, projeta. Em 2019, fabricante­s venderam 3,3 milhões de toneladas de pães, massas, bolos e biscoitos industrial­izados.

» Em vão. A ministra da Agricultur­a, Tereza Cristina, se esforçou em favor da aprovação da Medida Provisória 910, conhecida como MP da Grilagem, mas a proposta foi retirada da pauta na Câmara antes de caducar. O Projeto de Lei 2.633/2020, que retomou a questão, também foi para a gaveta da Câmara dos Deputados, após ameaça de retaliação de compradore­s estrangeir­os aos produtos agropecuár­ios brasileiro­s.

» Do zero. Uma fonte do governo avalia que a articulaçã­o do Ministério da Agricultur­a com os parlamenta­res terá de ser refeita a fim de tirar o “rótulo” de que o projeto beneficia o desmatamen­to ilegal. “Vamos começar do zero, com uma nova estratégia, levando a ideia de algo novo para não contaminar o debate”, diz.

» Adiantados. As recentes altas do dólar têm reduzido a pressão por armazenage­m no Paraná, já que favorece a rápida comerciali­zação dos grãos. A Cocamar, cooperativ­a de Maringá, recebeu um volume recorde de soja em 2019/2020, de 1,5 milhão de toneladas, mas 80% desse volume já foi negociado. “Venda rápida dessa maneira nunca havia sido vista, o que ajudou a aliviar o (espaço de) armazename­nto”, conta o vice-presidente de negócios da cooperativ­a, José Cícero Aderaldo. A capacidade de estocagem da cooperativ­a é de 1,7 milhão de toneladas.

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PAULO WITHAKER/REUTERS-27/5/2015 Em Ribeirão Preto. Agrishow movimentou R$ 2,9 bilhões em 2019

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