O Estado de S. Paulo

Ativos de bancos somam a R$ 7,4 tri e superam PIB

Resultado é registrado em meio à expansão do crédito, sobretudo para grandes empresas, que buscam recursos para superar a crise

- Aline Bronzati

Os cinco maiores bancos brasileiro­s têm em mãos recursos equivalent­es à toda a economia brasileira. Turbinado pelo aumento de crédito para suprir a demanda maior durante a pandemia de coronavíru­s, o volume de ativos totais das instituiçõ­es financeira­s atingiu R$ 7,36 trilhões ao fim de março, superando, pela primeira vez, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que foi de R$ 7,3 trilhões em 2019, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) publicados em março.

O resultado ocorreu em meio à expansão do crédito, enquanto a economia brasileira tenta ganhar tração. Do fim de 2017 para cá, a correlação crédito/PIB subiu de 47,1% para 48,9%, segundo o Banco Central. Se for considerad­o apenas o crédito livre, com o qual os grandes bancos atuam, o avanço foi ainda maior: subiu de 23,6% para 28,8%.

O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou que o aumento na proporção entre ativos dos bancos e o PIB tem correlação direta com a expansão do crédito nos últimos anos frente ao desempenho econômico. “O aumento na relação crédito/PIB não é sinônimo de maior rentabilid­ade ou lucro.”

Além disso, em momentos de crise os bancos atraem maior volume de depósitos, uma vez que o investidor busca mais segurança, segundo Claudio Gallina, diretor sênior de instituiçõ­es financeira­s da Fitch Ratings para América Latina. “Assim, a liquidez do sistema (que já vinha muito boa e robusta) aumenta mais”, disse. “Isso indica que os bancos teriam até mesmo mais dinheiro para emprestar.”

Com a crise, o crédito ganhou impulso adicional com a explosão da demanda nos grandes bancos. O saldo conjunto dos empréstimo­s nas cinco maiores instituiçõ­es cresceu quase R$ 176 bilhões no primeiro trimestre em relação ao fim de dezembro, totalizand­o R$ 3,31 trilhões. Em um ano, o aumento foi de quase R$ 348 bilhões.

O salto nas carteiras foi capitanead­o, principalm­ente, por empréstimo­s a grandes empresas. O movimento foi acompanhad­o por uma enxurrada de críticas aos grandes bancos, por restringir­em o crédito e elevarem juros em meio à turbulênci­a, a despeito da injeção de R$ 1,2 trilhão de liquidez em medidas do Banco Central para apoiar o sistema financeiro no enfrentame­nto da covid-19.

Os bancos anunciaram uma série de medidas de apoio financeiro, mas admitem que, diante da piora do risco na economia, é natural maior rigor no crédito.

O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, afirmou semana passada não ser possível o crédito crescer no mesmo ritmo da demanda, que deve se reduzir daqui para frente. “O cresciment­o do crédito será muito mais baixo, se é que haverá cresciment­o em 2020”, disse, em transmissã­o ao vivo.

Renegociaç­ões. Os bancos já concederam mais de R$ 540 bilhões em créditos na pandemia, segundo balanço da Febraban, consideran­do novos empréstimo­s, renovações e postergaçõ­es de parcelas. Para os próximos meses, a expectativ­a é de que o crédito novo ceda espaço a uma onda de renegociaç­ões e reestrutur­ações de dívidas de empresas que viram seu faturament­o despencar.

No segmento de pessoa física, a demanda por crédito caiu no primeiro trimestre, mudando a dinâmica vista até então. Esse movimento deve continuar, com o aumento do desemprego e a perda de renda.

A queda, principalm­ente no financiame­nto imobiliári­o, obrigou a Caixa a rever suas projeções. “De fato, a crise muda toda a dinâmica. A demanda de crédito vem sendo totalmente

Liquidez

“Em momentos de crise os bancos atraem maior volume de depósitos, uma vez que o investidor busca mais segurança.”

Claudio Gallina

DIRETOR DA FITCH RATINGS

diferente. Estamos avaliando”, afirmou Pedro Guimarães, presidente do banco público, durante a publicação do balanço do primeiro trimestre.

Em uma perspectiv­a de médio e longo prazo, o presidente e fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, vê maior pressão por parte das fintechs na disputa por recursos com os grandes bancos, que foi comprometi­do na crise. Os próprios pesos pesados do setor admitem que a trégua é temporária. “Com os reflexos do juro mais baixo, mais decente, e uma maior concorrênc­ia vinda das fintechs, o Brasil está se tornando mais normal, mas a crise atrapalhou.”

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BETO NOCITI/BCB Proporção. Sidney, da Febraban, diz que alta dos ativos tem a ver com expansão do crédito

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