O Estado de S. Paulo

O desafio de encontrar bons investimen­tos

Saiba como ajustar os ativos da sua carteira após a pandemia mudar o cenário de curto e médio prazo

- Thiago Lasco

“Onde investir seu dinheiro” é uma frase que combina mais com as resoluções de ano-novo. No entanto, neste momento desafiador, marcado por pandemia e um novo patamar de juros no Brasil, essa dúvida parece mais recorrente, juntamente com outra: “Qual é o melhor investimen­to para 2020?”.

Definir onde aplicar o próprio dinheiro anda é mais complicado. De um lado, a taxa básica Selic já foi tão achatada que o retorno real das aplicações mais seguras se tornou pífio. De outro, o nível de volatilida­de dos investimen­tos que remuneram melhor é um obstáculo para muitas pessoas que têm pouco estômago para oscilações.

E quem se anima a correr riscos em tempos tão incertos, com os efeitos do novo coronavíru­s ameaçando empresas, empregos e, acima de tudo, pessoas?

Para tentar dar um norte que possa orientar suas próximas decisões financeira­s, conversamo­s com alguns especialis­tas e perguntamo­s quais investimen­tos eles consideram ainda válidos para este ano.

Não tente fugir dela. Com a Selic na mínima histórica de 3% ao ano, de todos os lados começaram a atirar pedras na renda fixa – que, de fato, teve a rentabilid­ade muito comprometi­da. Mas muitos investidor­es que tentaram fugir dela em busca de ganhos melhores perceberam, da pior maneira, que não estavam preparados para correr riscos maiores.

A boa notícia é que, com os riscos do cenário econômico elevados pela instabilid­ade política, os CDBs pós-fixados, que eram os patinhos feios de ontem, agora começam a oferecer taxas melhores.

“Títulos com vencimento em dois anos, que há dois meses pagavam entre 115% e 120% do CDI, agora entregam de 135% a 140% do CDI”, diz Rodrigo Moliterno, sócio da Veedha Investimen­tos. “São excelentes taxas e o risco é baixo, já que existe o respaldo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).”

Títulos públicos continuam sendo outras opções na seara mais conservado­ra, mas os especialis­tas divergem nas recomendaç­ões. Mario Kepler, sócio da Portofino, indica a NTN-b, também conhecida como Tesouro IPCA, que paga a inflação, mais um cupom de juros. Já Moliterno entende que os títulos pós-fixados são mais seguros.

“A NTN-b foi uma vedete, mas hoje pode jogar contra. O vencimento é longo, e quanto menor a Selic de hoje, maior a expectativ­a de que ela aumente. Isso pode levar o investidor a perder dinheiro em uma venda antecipada”, ele pondera.

A bola da vez. Com empresas precisando captar recursos para enfrentar a crise, não é de se admirar que o crédito privado venha se destacando como uma das modalidade­s que entregam melhores retornos neste momento. É possível emprestar dinheiro a essas empresas por meio de títulos privados como debêntures, CRIs e CRAs.

“Agora que a taxa Selic está tão baixa, é na parte de crédito privado que se encontram as oportunida­des mais interessan­tes. Muitas empresas grandes, com classifica­ção de risco ‘AAA’, tiveram grandes distorções e estão pagando taxas muito mais atrativas que no período pré-crise”, afirma Erick Scott Hood, gestor da Guide Investimen­tos. “São papéis de qualidade.”

A boa perspectiv­a de retorno anima o gestor da Guide a recomendar esses títulos até mesmo para os investidor­es conservado­res. Mas vale lembrar que sempre existe o risco de crédito, caso a empresa não honre com suas obrigações, e nesse caso o investidor não conta com a proteção do FGC.

Deixando as emoções de lado. Nesse cenário de estresse, a recomendaç­ão de Luís Bento, da Rio Bravo, são os fundos sistemátic­os ou quantitati­vos. Nesses fundos, as operações de compra e venda de ativos não são realizadas por gestores, e sim por algoritmos.

“As pessoas ficam receosas porque não há um gestor responsáve­l para dar a cara a tapa. Por outro lado, enquanto um gestor sabe muito sobre 10, 20, 30 empresas, um algoritmo consegue analisar milhares ao mesmo tempo”, diz Bento.

Outra vantagem da gestão computador­izada, de acordo com Bento, é a ausência de viés na tomada de decisão. Enquanto gestores podem sucumbir ao efeito manada em momentos de pânico no mercado, nos fundos quantitati­vos as alocações seguem regras claras que valem para todos os cenários.

“A volatilida­de não é necessaria­mente baixa, mas controlada. Não existem aquelas explosões que fazem o investidor perder dinheiro”, diz o analista da Rio Bravo.

“A NTN-b foi uma vedete, mas hoje pode jogar contra. O vencimento é longo, e quanto menor a Selic de hoje, maior a expectativ­a de que ela aumente. Isso pode levar o investidor a perder dinheiro em uma venda antecipada.”

Rodrigo Moliterno

SÓCIO DA VEEDHA INVESTIMEN­TOS

“É no crédito privado onde estão as melhores chances.”

Erick Stood Hood GESTOR DA GUIDE INVESTIMEN­TOS

 ?? RAPHAEL RIBEIRO/BCB – 19/3/2019 ?? Selic. Com taxa de juros, determinad­a pelo Comitê de Política Monetária do BC, em mínima histórica, retorno de aplicações seguras caiu
RAPHAEL RIBEIRO/BCB – 19/3/2019 Selic. Com taxa de juros, determinad­a pelo Comitê de Política Monetária do BC, em mínima histórica, retorno de aplicações seguras caiu

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