O Estado de S. Paulo

‘O mercado de capitais vai ser o grande ganhador’

Executivo acredita que o brasileiro passou a refletir sobre a formação de sua poupança de longo prazo na pandemia

- Valéria Bretas

Para Walter Maciel, presidente da gestora AZ Quest, uma joint venture entre a brasileira Quest Investimen­tos e o italiano Grupo Azimut, o mercado de capitais será o maior beneficiad­o pelo cenário pós-pandemia de coronavíru­s. Ainda que os planos de cresciment­o econômico tenham sido frustrados, ele diz que o investidor tem reagido bem ao ambiente de juros baixos e já entende que agora é necessário tomar mais risco pensando em um horizonte de longo prazo. “Já enfrentamo­s mensalão, crise financeira internacio­nal, protestos populares e impeachmen­t. Bons gestores conseguem entregar retornos de longo prazo, independen­te de o ambiente ser bom ou ruim”, diz Maciel, que está à frente da gestora que detém R$ 16 bilhões em ativos sob gestão em 27 fundos abertos de investimen­tos.

Quem deve se sair melhor da pandemia?

Os Estados Unidos. Já ficou provado que apesar de toda a disputa geopolític­a, o governo americano controla a máquina de imprimir o dólar. Se você tem a moeda mais forte do mundo, a dívida nova que você emite é dívida de todos que querem comprá-la para se proteger. Além disso, vale lembrar que todas as reformas que o Brasil quer fazer por aqui, os americanos já fizeram. A China

tem como se sair bem no ano que vem porque não fez grandes estímulos econômicos, não se endividou e as atividades já foram retomadas.

E onde o sr. coloca o Brasil nessa história?

Estamos atrás porque ainda não há clareza sobre o desenvolvi­mento da doença por aqui. Além disso, a confusão política traz o fator de incerteza que atrasa esse processo. Então a política deve ditar o ritmo de recuperaçã­o?

É evidente que qualquer redução de incerteza é positiva para o mercado. O Brasil precisa usar esse momento para unir esforços entre as esferas do Executivo, Legislativ­o e Judiciário

e promover uma continuida­de no processo de reformas. Com uma entrega ousada, o ambiente certamente seria mais atraente para investimen­to estrangeir­o no País.

Quando a aversão ao risco diminuir, o ambiente de juro baixo ajudará a aumentar o número de investidor­es na bolsa de valores?

Sem dúvida. Juros a 3% no Brasil são muito mais traumático­s do que 0% no exterior. Como o patamar dos últimos anos foi alto, o juro atual vai trazer uma mudança radical no planejamen­to dos investimen­tos. Já é uma tendência ver as pessoas tomando um pouco mais de risco para ter um retorno maior.

Quais setores se beneficiam na hora da retomada?

O fato é que as barreiras sanitárias vão se elevar, os pequenos produtores de proteínas devem sofrer, podem fechar as portas e haverá um choque positivo para o setor. Gostamos dos papéis de JBS, Marfrig e outros players desse segmento no Brasil. Como as compras estão migrando para a internet, também haverá uma tendência forte no ecommerce. Magazine Luiza, por exemplo, salta aos olhos como uma das vencedoras daqui para frente.

Qual é o cenário que o sr. vislumbra para o pós-crise?

O mercado de capitais vai ser o grande ganhador disso tudo. Primeiro porque houve todo o processo de digitaliza­ção e as empresas perceberam que é possível trabalhar e investir mesmo à distância. Além disso, a situação mostrou a importânci­a de pensar em um horizonte de longo prazo. O investidor já está olhando para frente e sabe que precisa ter uma carteira equilibrad­a e com diversos ativos. Esse vai ser um trabalho cada vez mais difícil, porém necessário.

E como dar acesso para esse investidor?

O desafio é disponibil­izar os produtos para todos e em diferentes plataforma­s. Tanto para os bancos, como para as plataforma­s digitais e os gestores independen­tes, essa crise acelerou o processo de colocar mais dinheiro em ativos de risco. Da nossa parte, já temos 27 fundos aberto ao público geral.

Mesmo em um momento de crise, a AZ Quest planeja lançar um novo fundo?

Sim, temos um fundo de crédito privado saindo do forno. Ainda não posso dar os detalhes, mas a ideia é ter um produto de alta volatilida­de, com prazo mais longo de resgate e que traga um retorno alto para o investidor.

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LEONARDO RODRIGUES Ativos. Maciele stá à frente da gestora que detém R$ 16 bi

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