MOTO POR CIMA, CARRO POR BAIXO
O casamento entre motocicleta e automóvel não é comum, mas existe
Tradicionalmente, motocicletas são veículos práticos e pequenos, com motores igualmente compactos. Mas há exceções. Alguns fabricantes resolveram deixar de lado as convenções e passaram a desenvolver veículos de duas rodas com motores de automóveis. Foi o caso, por exemplo, das brasileiras Amazonas e Kahena, e também de algumas marcas estrangeiras.
A Amazonas surgiu no final dos anos 70, numa época em que a produção nacional estava se especializando em modelos de baixa cilindrada e as importações eram proibidas.
Foi assim que os mecânicos Luiz Antônio Gomi e José Carlos Biston criaram a Amazonas AME 1.60, equipada com motor 1600 do Volkswagen. O modelo já nascia com o título de moto produzida em série com o maior motor do mundo.
Eram mais de 2 metros de comprimento, quase 400 quilos e motor de quatro cilindros contrapostos com 1.584 cm³, refrigerado a ar, que gerava 50 cv. Havia até marcha a ré.
Em uma antiga avaliação publicada no Jornal do Carro,o repórter Marcelo Fenerich chegou à conclusão que a Amazonas não oferecia conforto na cidade. O acionamento da embreagem era pesado e chegava a causar dor no braço. Por outro lado, o assento largo proporcionava boa posição de pilotagem.
O câmbio tinha engates “invertidos” em relação ao das motos. A primeira era acionada para cima e as demais, para baixo. Além disso, para que os engates fossem feitos com precisão, era necessário acelerar um pouco antes das trocas. A ré era engatada por uma alavanca na lateral direita. Para engrená-la, era preciso deixar o câmbio no neutro antes de puxar a haste para trás, numa operação que demandava um certo cuidado. Embora gigantesca, seu desempenho impressionava. A força em baixas rotações fazia o pneu traseiro patinar se o piloto não controlasse bem a embreagem.
Sua trajetória foi interrompida em 1991, por causa da abertura das importações, ocorrida a partir do início dos anos 1990. A volta das importadas decretou o fim da moto grandalhona, que teve apenas 420 unidades produzidas.
Kahena. Após o fim da Amazonas, e mesmo com as máquinas importadas de grande cilindrada começando a chegar ao País, surgiu a Kahena. A moto foi desenvolvida pela mesma dupla que concebeu a Amazonas, e chegou em 1994, também com motor 1600 refrigerado a ar da Volkswagen. Era produzida pela empresa Técnica Paulista de Máquinas (Tecpama), e trazia evoluções em relação à pioneira, caso da transmissão por eixo cardã em vez de corrente, da suspensão traseira monobraço e do alternador em vez de dínamo, entre outras melhorias. Resistiu até 2001, e teve cerca de 430 unidades produzidas.
Estrangeiras. Fora do Brasil também há experiências do gênero. É o caso da Boss Hoss. Trata-se de uma pequena fabricante dos Estados Unidos especializada em projetos customizados, de duas e três rodas. A empresa surgiu em 1990, e seu primeiro trabalho foi uma motocicleta com motor Chevrolet V8. A combinação de motor V8 em motos (com potências que vão de 445 a 563 cv), aliás, permanece até hoje como uma das especialidades da empresa.
A holandesa Eva também sabe chamar a atenção. Não bastasse utilizar motor de carro, a empresa ainda optou por um propulsor a diesel. A Track T800-CDi recebeu o motor do Smart ForTwo. Outro item incomum na moto era o câmbio automático CVT.
O nome já diz tudo. A alemã Münch Mammut surgiu em meados dos anos 60 com motor de 996 cm³ e 55 cv do Prinz, modelo produzido pela antiga NSU, marca que depois passou a fazer parte da Audi. A empresa tentou um ressurgimento por volta de 2000, igualmente em grande estilo. A Mammut 2000 tinha motor 2.0 turbo, da Cosworth, mas poucas unidades foram feitas.
No início dos anos 2010, a Sabertooth Motorcycles criou modelos com motor Ford V8. Havia até uma versão chamada Turbo Cat, com motor 4.6 V8 biturbo de 600 cv. A empresa não sobreviveu.