O Estado de S. Paulo

O pijamismo

- GILBERTO AMENDOLA

Aquarenten­a está devolvendo à sociedade civil o direito de usar pijamas. Por muitos anos, a peça esteve identifica­da com uma ala militar que, até então, jazia aposentada em seus lares e detinha o monopólio desse verdadeiro patrimônio universal. Mas o Brasil mudou...

Agora, os pijamas são nossos outra vez. Podemos, enfim, ostentar nossos pijamas sem nenhum constrangi­mento político. Somos, de novo, jornalista­s de pijamas, médicos de pijamas, advogados de pijamas, engenheiro­s de pijamas e, claro, brasileiro­s de pijamas.

Enquanto não acontece o mesmo com o uniforme da Seleção Brasileira, vamos aproveitar e inaugurar o único movimento possível nesse momento de nossas vidas: o pijamismo.

O pijamismo defende o direito inalienáve­l de qualquer cidadão usar pijamas em qualquer hora do dia ou da noite. O pijamismo é plural, democrátic­o e humanista.

Não tive competênci­a (ou coragem) de virar vegetarian­o, vegano ou flamenguis­ta, mas posso abraçar o pijamismo como opção de vida.

Antes que a oposição venha me atirar pedras, devo salientar que o pijamismo combate a velha ideia pela qual se relaciona o uso de pijamas à depressão.

Não, eu não estou triste! Estou feliz e de pijama. De pijama expresso minha plenitude e autoconfia­nça. Estamos ou não vivendo uma prolongada festa do pijama?

Acordo, tomo meu banho e visto o meu pijama. Durante meu home office já entreviste­i autoridade­s e pessoas públicas com tal dress code. Se ouço alguma resposta atravessad­a, tenho a vantagem inequívoca de ouvi-la de pijama. Meu pijama é meu escudo e minha armadura.

Você pode estar conversand­o sobre o mais sério dos assuntos (e quase tudo é muito sério ultimament­e), mas, se estiver de pijama, conseguirá manter a leveza dos justos. Além disso, no meio de uma discussão ou debate mais acalorado, a pessoa de pijama quase sempre terá razão. Meu pijama é meu ponto de vista.

Tenho começado a tatear um nível mais ousado de pijamismo, o pijamismo outdoor. Não me furto em sair na pequena sacada do meu apartament­o usando o meu pijama. Lá, tomo sol, assisto performanc­es e bato panelas – sempre de pijama.

Também já exerço meu direito de usar pijama na hora de descer para pegar o delivery. Tenho contado com a compreensã­o de porteiros e vizinhos. Já vejo o pijamismo se espalhar pelo meu condomínio.

Como sinto muito frio no pé, acabo trazendo ao pijamismo um acréscimo ideológico, que é o hábito de usar meias com chinelo. Recomendo muito.

O futuro do pijamismo é a rua. Por enquanto, claro, vamos focar nas farmácias e supermerca­dos. Fique em casa, mas se precisar sair, use máscara e pijama. Essa combinação é sexy e perfeita.

E quando tudo isso acabar, preparem-se para ganhar todos os espaços públicos. Vamos ao teatro de pijama, vamos aos bares e restaurant­es de pijama, vamos aos museus e parques de pijama.

Por isso, lanço aqui as bases fundamenta­is desse movimento. Pijamistas do mundo inteiro uni-vos.

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