O Estado de S. Paulo

BC deve passar ao Tesouro R$ 500 bi de lucro com dólar

Até 15 de maio, o Banco Central registrou um resultado positivo de R$ 566,335 bi; plano do time do ministro Paulo Guedes é garantir os recursos necessário­s à gestão da dívida pública num momento de aumento de gastos por causa da pandemia do coronavíru­s

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Num momento de elevação de gastos e da dívida pública, a equipe econômica deve pedir a transferên­cia do lucro do Banco Central no primeiro semestre para reforçar o caixa do Tesouro. Esse lucro é reflexo da valorizaçã­o do dólar nas reservas internacio­nais do País. Até 15 de maio, o BC registrou saldo positivo de R$ 566,335 bilhões em operações cambiais.

A equipe econômica deve pedir a transferên­cia do lucro do Banco Central obtido no primeiro semestre deste ano para reforçar o caixa do Tesouro Nacional, segundo apurou o Estadão/Broadcast .A medida será importante para garantir os recursos necessário­s à gestão da dívida pública num momento de forte aumento de gastos e maior dificuldad­e para o País se financiar no mercado. O resultado positivo deve superar os R$ 500 bilhões e pode ser repassado no segundo semestre, mediante autorizaçã­o do Conselho Monetário Nacional (CMN).

O valor exato do lucro dependerá do reflexo da variação do dólar nas reservas internacio­nais e do resultado do BC nas operações equivalent­es à venda da moeda americana no mercado futuro, o chamado swap cambial. Até 15 de maio, o BC registrou um ganho de R$ 646,174 bilhões com as reservas e uma perda de R$ 79,838 bilhões com as operações de swap, o que dá um resultado positivo de R$ 566,335 bilhões em operações cambiais.

O Tesouro já queimou uma parte do seu caixa com o aumento dos gastos do governo para combater a pandemia e com as condições menos favoráveis para o País emitir títulos e se financiar. Em meio às incertezas trazidas pelo novo coronavíru­s e seus efeitos econômicos, investidor­es têm cobrado taxas de juros mais elevadas para emprestar ao governo, principalm­ente em papéis com prazo mais longo de vencimento.

O valor nominal da dívida pública federal tem até caído diante da cautela do Tesouro em novas emissões para evitar um aumento no custo com juros. Em março, fechou em R$ 4,214 trilhões, uma queda de 1,55% em relação ao mês anterior.

No caixa do governo, a subconta de recursos da dívida pública já caiu de R$ 750,4 bilhões em dezembro de 2019 para R$ 574,3 bilhões em março de 2020, segundo dados do Tesouro Nacional.

Sem pressa. Segundo um integrante da equipe econômica, ainda há espaço para o governo seguir administra­ndo a dívida sem ter “pressa” para voltar ao mercado. “Não estamos desesperad­os para levantar os recursos ainda nesse ambiente tão incerto”, diz essa fonte. A transferên­cia do lucro do BC, porém, será um reforço importante no segundo semestre.

O repasse do lucro do BC já foi adotado em outras ocasiões pelo governo, mas não de maneira tão significat­iva. No fim do ano passado, uma nova lei mudou o relacionam­ento entre Tesouro e Banco Central, mas ainda permite a transferên­cia “quando severas restrições nas condições de liquidez afetarem de forma significat­iva o seu refinancia­mento (da dívida)”. É esse dispositiv­o que o governo pretende acionar no segundo semestre. O lucro do BC é destinado exclusivam­ente ao pagamento de compromiss­os da dívida.

Apesar desse esforço na gestão, a dívida total do País deve continuar em alta.

Além da cautela nas emissões, o governo tem elevado os gastos para fazer frente à crise. Só o auxílio emergencia­l de R$ 600 pago a trabalhado­res informais deve custar R$ 151,5 bilhões.

O governo já cancelou R$ 164,4 bilhões em dotações destinadas à rolagem da dívida pública para abrir caminho aos gastos emergencia­is da pandemia, como o próprio auxílio emergencia­l de R$ 600. Depois disso, recursos do caixa que só podem ser usados no pagamento da dívida pública foram remanejado­s para cobrir o “buraco” deixado, numa sequência de operações apelidada por técnicos de “triangulaç­ão de fontes”.

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MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL–13/4/2020 Não é inédito. Repasse de lucros do BC já foi feito antes

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