Gilles Lapouge
A pandemia revelou a dolorosa verdade de que a vida dos idosos não é valorizada.
De Melbourne a Bruxelas, de Los Angeles a Budapeste, a imprensa mundial evoca uma “guerra de idades”, entre os chamados “baby boomers” e os jovens da chamada geração Z, os “zoomers”, nascidos depois de 1990.
Lembramos que os sociólogos dividem os humanos em quatro grandes grupos segundo a idade. Os mais velhos são os “baby boomers” (nascidos entre 1944 e 1964), que, em sua idade adulta, viveram um período de prosperidade excepcional. Um mundo em paz. A economia em recuperação. Foi o início do que chamamos na França de “Os 30 Anos Gloriosos”.
Em seguida, vem a geração X, dos nascidos entre 1966 e 1976 (alguns autores propõem outras datas: entre 1961 e 1981). Essa geração presenciou a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria, as ilusões embriagadoras de um mundo apaziguado. Mas também chegou o período da aids e do pesadelo do emprego precário. Depois, temos a geração Y, dos millennials, nascidos entre 1984 e 1996, que sofrem com o desemprego e o início da globalização.
Finalmente, os que nasceram entre 1996 e 2015 formam a geração Z, os chamados “zoomers”. O aquecimento climático não é mais uma mania dos estudiosos, mas uma probabilidade que semeia o terror, sobretudo entre os jovens. O tempo da despreocupação, da felicidade, acabou. E, para completar, vêm se somar a ascensão dos populismos e a fadiga da ideia democrática.
A chegada de um inimigo invisível, difícil de localizar e desconhecido, o coronavírus, que em poucos meses encheu os cemitérios com uma preferência marcante, segundo os médicos e as estatísticas, pela carne murcha dos velhos.
Os sociólogos ainda não batizaram essa geração perdida. Sem dúvida, perceberam que depois do Z (zoomers) o alfabeto não tem mais letras. Os linguistas foram pegos desprevenidos. Se eu fosse profeta ou especialista em Cabala, concluiria que o fim do mundo está próximo e o apocalipse, impaciente para entrar em ação, já que não existe nenhuma letra depois do Z. Felizmente, não sou profeta.
Retornemos aos velhos. Eles não têm um grande poder de fogo. Nos asilos onde vivem, não dizem nada, e se contentam em morrer. Alguns países, como China, Itália, França, se aproveitam disso. Eliminam das suas estatísticas as mortes de pessoas idosas. É uma maneira de reduzir o número de mortes da pandemia e de levar a crer que a França (e outros países que fizeram o mesmo cálculo) administra com brio esta nova provação, porque sua medicina é excelente, seus hospitais perfeitos, seu sistema de saúde é o primeiro do mundo. Tudo é falso.
A medicina francesa foi notável outrora. Não é mais. O sistema de saúde está em frangalhos. Os médicos e enfermeiras estão no limite. Rapidamente conhecemos a verdade, e ela é cruel: nos primeiros dias do confinamento, os asilos, longe de serem poupados pela covid-19, apresentaram uma taxa de mortalidade espantosa. Idosos morriam às dezenas ou centenas. Assim, muito rapidamente, e para evitar que a polêmica se agravasse, os velhos mortos foram reintroduzidos nas estatísticas (a mesma besteira foi cometida por outros países europeus).
Os americanos têm uma palavra para designar as discriminações em detrimento das pessoas idosas: “ageísmo”. Essa discriminação é reprovada, mas faz parte da cultura americana. O Los Angeles Times realça os sinais de uma fratura entre gerações. “As pessoas idosas testemunham comportamentos e discursos que deixam entender que sua vida não tem tanto valor quanto a reativação da economia.”
O vice-governador do Texas, Dan Patrick, foi ainda mais franco: “Há coisas mais importantes que a vida. Como salvar este país para seus filhos e seus netos”. O Washington Post expressou indignação: “A pandemia revelou uma dolorosa verdade: a América não se preocupa com os velhos . Os EUA perdem seus velhos porque eles são frágeis, claro, mas eles morrem igualmente de uma outra epidemia que é ainda mais grave – a desvalorização da vida das pessoas idosas.”