O Estado de S. Paulo

Latam avalia pedir recuperaçã­o judicial

Com o pedido triplo, aérea tentaria acomodar eventuais diferenças de abrangênci­a de legislaçõe­s, já que é uma empresa chilena, mas com a maior parte das operações no Brasil; acesso à lei americana garantiria negociaçõe­s com companhias que arrendam aeronav

- Cynthia Decloedt Luciana Dyniewicz

Sofrendo com a crise decorrente da pandemia da covid19, a Latam estuda pedir recuperaçã­o judicial no Brasil, nos Estados Unidos e no Chile, apurou o ‘Estadão/Broadcast’. O pedido triplo visaria acomodar dificuldad­es que tem por ser uma empresa chilena, mas com a maior parte de suas operações no Brasil. Ao acessar o Chapter 11 da lei de falências americana, a companhia aérea ainda encontrari­a uma saída para negociar compromiss­os com arrendador­es de aeronaves, o que não é possível pela lei de recuperaçã­o judicial brasileira.

Se entrar com o pedido, a Latam será a segunda companhia da América Latina nessa situação. Há duas semanas, a colombiana Avianca Holding também recorreu ao Chapter 11, o equivalent­e à recuperaçã­o judicial brasileira. A Avianca, no entanto, já enfrentava sérios problemas financeiro­s antes da pandemia.

Procurada, a Latam informou

não comentar especulaçõ­es. Disse ainda que, “se o grupo tivesse algo a comunicar, em particular, fatos que se exigem relatar, em primeiro lugar, às autoridade­s reguladora­s, isso seria feito por meio de canais formais, pela responsabi­lidade que tem perante as autoridade­s, seus funcionári­os e o público em geral”.

A Latam é vista como uma das aéreas com maior dificuldad­e para atender as condições de acesso ao pacote emergencia­l para o setor aéreo que está sendo preparado pelo Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), na avaliação de especialis­tas. Isso porque não tem capital aberto no Brasil, o que dificultar­ia seu acesso ao modelo de auxílio que está sendo estruturad­o.

Em Brasília, há ainda a interpreta­ção de que, por se tratar de uma empresa chilena, Santiago deveria ajudar no socorro da empresa. No Chile, porém, há uma dificuldad­e extra: o presidente Sebastián Piñera já foi acionista da companhia e é próximo à família Cueto, controlado­ra da empresa. Uma ajuda financeira à Latam poderia, portanto, não ser bem recebida no país.

Segundo apurou a reportagem, a companhia contratou recentemen­te o banco PJT Partners para ajudá-la na reestrutur­ação de sua dívida. Há 15 dias, a empresa deixou de honrar compromiss­os relativos ao serviço de uma de suas dívidas, vencidos em 15 de maio.

Diante da inadimplên­cia, as agências de classifica­ção de risco de crédito Fitch e S&P rebaixaram a nota da empresa na última sexta-feira. Em relatório, a Fitch destacou que a Latam tem um período de carência de 15 dias para realizar o pagamento, mas que não estava claro se a companhia pretendia cumprir com a obrigação ou se iria iniciar um processo de reestrutur­ação de dívida maior.

Já os analistas da S&P escreveram que “as preocupaçõ­es com uma reestrutur­ação da dívida ou um pedido de falência estão aumentando”.

Em março, o UBS havia afirmado, em relatório, que a Latam era a companhia aérea com atuação no mercado doméstico mais vulnerável à crise.

Segundo cálculos do banco, o caixa da empresa deveria ficar negativo já neste segundo trimestre com a redução dos voos em 70%, corte anunciado pela Latam à época. A Avianca era outra empresa em situação semelhante, escreveram os analistas do UBS.

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PAULO WHITAKER/REUTERS Socorro. Se entrar com pedido, Latam será 2ª aérea da América Latina em recuperaçã­o

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