O Estado de S. Paulo

UMA OUTRA HOLLYWOOD

A década dourada em Los Angeles na visão de Darren Criss e Ryan Murphy

- Javier Romualdo EFE / LOS ANGELES / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Série refaz a época dourada da indústria cinematogr­áfica dos EUA sem a vivência do racismo e de outros preconceit­os

Se Hollywood é a expressão máxima do sonho americano, ela também esconde um pesadelo. Esse é o conceito que o ator Darren Criss e o diretor Ryan Murphy quiseram mudar em uma ficção que imagina a idade do ouro do cinema sem preconceit­os e com menos racismo.

“Pensamos em histórias da

Hollywood do fim da Segunda Guerra Mundial, um mundo que todos amam porque tem algo muito bonito, mas também esconde sua parte feia”, explicou Criss, depois de um tímido “hola” em perfeito espanhol ao atender o telefone em sua residência em Los Angeles.

Embora a quarentena imposta por causa do coronavíru­s tenha impedido que o ator promovesse seu novo filme de ficção da maneira como ele gostaria, a estreia de Hollywood, uma minissérie já disponível na Netflix, é uma das mais esperadas desta temporada. “Queríamos fazer um novo relato a respeito desta indústria”, afirmou Criss, sobre a ficção chamada também de fábrica do cinema. E ... como é este relato?

Uma era dourada. A mitologia da sétima arte está repleta de relatos agridoces e de histórias com fim triste: Como a homossexua­lidade oculta de Rock Hudson ou o fracasso da carreira de Dorothy Dandridge, que iria representa­r uma Cleópatra afroameric­ana, mas suas cenas foram eliminadas e novamente gravadas com Elizabeth Taylor, porque ela era mais cotada do ponto de vista comercial.

“Na série, damos um final feliz a pessoas diferentes por sua raça ou com sexualidad­es diferentes, que, como sabemos, não o tiveram em sua vida real”, sublinhou o ator.

Criss, que ganhou um Globo de Ouro e um Emmy por sua interpreta­ção do assassino de Gianni Versace em American Crime Story, encarna em Hollywood um diretor de cinema convicto de que ele pode contar outras histórias e incluir personagen­s marginaliz­ados pela indústria. Embora o roteiro ambiente a série em 1940, o seu discurso soa muito atual nos dias de hoje.

“Isso é absolutame­nte certo”, afirma. “No fim, tudo mudou, mas, por outro lado, não mudou.” As diferenças salariais entre mulheres e homens, o escasso reconhecim­ento em relação a intérprete­s afro-americanos, e aos estereótip­os que definem personagen­s homossexua­is na tela grande foram o objetivo que teria de mudar ao longo desta década.

“Nos últimos anos, tem havido um re- nascimento de Hollywood, em termos de diversidad­e e representa­ção. Demos um passo enorme na direção correta”, disse. À medida que avança sua análise sobre as partes mais sórdidas da indústria cinematogr­áfica, que constituem o elemento central do roteiro de Hollywood, torna-se impossível não se interessar pela experiênci­a de Criss neste campo, pois ele conhece com perfeição o cinema, a televisão e também a Broadway.

“A verdade é que tive muita sorte e vivi em um mundo muito diferente. Embora eu tenha crescido em uma comunidade filipina dentro dos EUA, não tive experiênci­as negativas desse tipo, mas queria representa­r os que não tiveram a mesma sorte”, reconheceu Criss.

Alegre retrato. Ambientada em uma das épocas mais queridas pelas câmeras e com uma ambientaçã­o idílica, Ryan Murphy concebeu uma ficção que celebra a idade do ouro do cinema, mas, apesar de sua alegria, mostra um dos seus lados pouco explorados. Em Hollywood ,o jazz, os carros antigos e o glamour de então convivem com personagen­s imaginário­s e reais na grande fábrica de ilusões do século 20.

O elenco conta ainda com Mira Sorvino, no papel de Jeanne Crandall, atriz veterana que tem um caso com o dono de um grande estúdio de cinema. Mira foi uma das atrizes cuja carreira foi destruída pelo ex-produtor Harvey Weinstein, por não ceder à chantagem sexual dele.

‘QUERÍAMOS FAZER UM NOVO RELATO A RESPEITO DESTA INDÚSTRIA’

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Novo olhar. Darren Criss (centro), como um diretor revolucion­ário

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