O Estado de S. Paulo

Decano pede atenção de colegas a falas de Weintraub contra STF

Celso de Mello envia a outros ministros cópia do inquérito de interferên­cia na PF e vídeo do encontro de 22 de abril

- Andreza Matais / BRASÍLIA Paulo Roberto Netto

O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou para colegas da Corte cópia do inquérito que investiga as acusações de suposta tentativa de interferên­cia política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal e deixa a cargo dos colegas que adotem, ‘querendo’, as medidas que ‘que julgarem pertinente­s’. O decano pede atenção especial para o trecho do vídeo, anexado ao processo, de reunião ministeria­l em que Abraham Weintraub (Educação) defende a prisão dos ministros do STF, a quem chama de “vagabundos”.

No despacho, o ministro envia cópia da transcriçã­o da reunião ministeria­l do dia 22 de abril apontada pelo ex-ministro Sérgio Moro como uma prova de que Bolsonaro interferiu na Polícia Federal para proteger seus familiares e amigos. O vídeo foi tornado público na última sexta-feira pelo decano, relator do inquérito, e acabou revelando intervençõ­es polêmicas não apenas do presidente.

“Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca. Era só isso presidente”, disse Weintraub.

Ao determinar a liberação da gravação, Celso de Mello apontou para a ‘gravíssima aleivosia’ feita por Weintraub em ‘um discurso contumelio­so e aparenteme­nte ofensivo ao patrimônio moral’ dos ministros do Supremo. No entendimen­to do decano, as falas caracteriz­am possível delito contra a honra.

O despacho, obtido pelo Estadão, foi acompanhad­o do seguinte recado aos ministros:

Explicaçõe­s

Em despacho, a PF cobrou do GSI, comandado pelo ministro Augusto Heleno, a apresentaç­ão de provas que apontariam a insatisfaç­ão do presidente Bolsonaro com a segurança pessoal dele e de seus familiares no Rio.

“Encaminho a Vossa Excelência cópia da decisão por mim proferida no inquérito em epígrafe (com especial para o ítem 8), bem assim reprodução da degravação procedida pelo Instituto Nacional de Criminalís­tica para que vossa excelência possa adorar, querendo, as medidas que julgar pertinente­s”. O ítem 8 é a fala de Weintraub.

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, afirmou que ao Estadão que ficou “perplexo” com o vídeo da reunião ministeria­l, marcada por palavrões, ameaças e ataques a instituiçõ­es. E citou Weintraub: “Tudo lamentável, ante a falta de urbanidade. Fiquei perplexo. O povo não quer ‘circo’. Quer saúde, emprego e educação. Fosse o presidente (da República), teria um gesto de temperança. Instaria o Ministro da Educação a pedir o boné. Quem sabe?”

Após a repercussã­o da fala, Weintraub afirmou nas redes sociais que sua fala teria sido ‘deturpada’. “Não ataquei leis, instituiçõ­es ou a honra de seus ocupantes. Manifestei minha indignação, em ambiente fechado, sobre indivíduos. Alguns, não todos, são responsáve­is pelo nosso sofrimento”, postou.

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