O Estado de S. Paulo

No limiar dos 100 mil mortos, EUA relaxam isolamento em feriado nacional

Autoridade­s se dizem preocupada­s com nova onda de contaminaç­ão, pois muitos americanos não respeitam distanciam­ento social; especialis­tas afirmam que vírus deve se espalhar pelas áreas rurais, que têm população mais vulnerável e menos leitos de hospitais

- WASHINGTON / WP e NYT

Os EUA viveram ontem dois momentos antagônico­s. Ao mesmo tempo que o país tangenciav­a a marca de 100 mil mortos, milhares de americanos relaxaram o isolamento social durante o Memorial Day, feriado nacional em homenagem aos mortos em combate. Reabertas recentemen­te, algumas praias ficaram lotadas, assim como os balneários do Lago de Ozarks, no Missouri. No Texas, uma festa reuniu cem pessoas na piscina de um clube de Houston.

O relaxament­o do isolamento social preocupa os integrante­s da força-tarefa da Casa Branca. No fim de semana, Deborah Birx, coordenado­ra da equipe médica do governo, se disse “muito preocupada” com as aglomeraçõ­es no feriado. “Realizar atividades fora de casa é bom. Mas isso não muda o fato de que as pessoas precisam ser responsáve­is e manter certa distância”, disse.

A razão da preocupaçã­o da equipe que gerencia as ações contra a pandemia são estudos que mostram o risco de uma segunda onda de contágio no Texas, na Flórida e em Estados do Sul dos EUA. De acordo com um modelo criado pelo Imperial College, de Londres, o vírus ainda estaria se expandindo em 24 dos 50 Estados americanos.

Além de praias cheias na Flórida, no Texas e na Califórnia, aliados do presidente Donald Trump promoveram um desfile de barcos na Carolina do Sul. Sylvester Turner, prefeito de Houston, disse que recebeu mais de 250 denúncias de aglomeraçõ­es irregulare­s, entre elas uma festa em um clube da cidade – imagens gravadas mostraram jovens sem máscara se divertindo na piscina.

O canal KSDK, filiado da emissora NBC em St.Louis, no Estado do Missouri, mostrou imagens impression­antes de aglomeraçõ­es nos balneários da região turística de Ozarks. Em uma delas, diversas pessoas estão sentadas ao sol embaixo de uma placa com o seguinte aviso: “Mantenha o distanciam­ento social”.

O total de mortes causadas pela pandemia nos EUA variava ontem de 96 mil a 99 mil – dependendo da fonte. À medida que o número se aproxima de 100 mil, a covid-19 vem mudando de direção. Após afetar as grandes cidades, o vírus começou a avançar pelo interior do país. Segundo o Washington

Post, a situação é grave em regiões rurais com poucos leitos de hospital. São pequenos condados onde há fábricas de processame­nto de comida e presídios – lugares onde a aglomeraçã­o é inevitável.

Nessas regiões vivem 60 milhões de americanos, populações mais pobres, mais velhas e mais propensas a problemas de saúde do que nas das áreas urbanas. Também expostos na zona rural estão muitos imigrantes ilegais – os trabalhado­res “essenciais” que mantêm em funcioname­nto a indústria de alimentos.

“A doença está chegando e será uma espécie de tabuleiro de xadrez”, disse Tara Smith, epidemiolo­gia da Universida­de Estadual de Kent, em Ohio. “Não será uma onda que se espalha uniformeme­nte por toda a América rural. Serão focos que vão e vêm. E não sei se serão bem gerenciado­s.”

Existem mais de 180 municípios em 25 Estados que ainda não relataram nenhum caso positivo, segundo a análise do Washington Post. Quase todos estão em regiões isoladas. Especialis­tas dizem que é possível que esses locais tenham evitado o vírus até agora, mas a falta de testes pode possibilit­ar que um surto se espalhe silenciosa­mente.

A mudança pode equilibrar o mapa da covid-19 nos EUA, pois a contaminaç­ão vem afetando mais redutos democratas do que republican­os. Segundo o New York Times, nos condados onde Trump venceu, em 2016, vive 45% da população americana, que contabiliz­a apenas 27% dos casos de coronavíru­s e 21% das mortes. Um terço dos americanos vive nas 100 cidades maiores cidades do país, de alta densidade demográfic­a e onde se concentram os eleitores democratas.

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EDUARDO MUNOZ/REUTERS Protesto. Multidão em New Jersey pede a reabertura do comércio
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SEAN RAYFORD/AFP Diversão. Eleitores de Trump em barco na Carolina do Sul

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