O Estado de S. Paulo

Do ‘Carrossel Caipira’ até a seleção

Luto. Simples e de fala mansa, treinador responsáve­l por lançar em campo os craques Rivaldo e Kaká não resiste a câncer no fígado

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Treinador com passagens importante­s no comando de São Paulo, Corinthian­s, seleção brasileira feminina, entre outros grandes clubes do País, Oswaldo Fumeiro Alvarez, conhecido popularmen­te como Vadão, morreu no início da tarde de ontem em São Paulo. Aos 63 anos, o técnico lutava desde o início do ano passado contra complicaçõ­es relacionad­as a um câncer no fígado, que havia se espalhado e atingido outros órgãos. O corpo de Vadão será enterrado hoje em sua cidade natal, Monte Azul Paulista, no interior do Estado.

Vadão foi diagnostic­ado com a doença quando era submetido a exames de rotina. Desde então, ele realizava tratamento, mas teve de ser internado no hospital Albert Einstein no último dia 12 de maio. No entanto, o quadro de Vadão já era considerad­o grave e ele não resistiu ao tratamento de quimiotera­pia e radioterap­ia. O treinador deixa a esposa Ana Alvarez e dois filhos, Adriano e Carolina Alvarez, que fazia a parte de assessoria de imprensa do pai.

Vadão nasceu no dia 21 de agosto de 1956, em Monte Azul Paulista. Ele começou sua carreira no futebol dentro de campo, jogando como meia-esquerda nas categorias de base do Guarani. Depois, rodou por clubes como Noroeste, Catanduven­se e Botafogo-SP. Ao mesmo tempo, ele se formou em Educação Física. Iniciou a carreira de treinador no Mogi Mirim. Lá foi responsáve­l por montar o famoso “Carrossel Caipira” no início dos anos 90 – o Mogi fez uma campanha inesquecív­el no Paulistão de 1992, revelando para o mundo do futebol o craque Rivaldo.

Este time, na época, usava um esquema tático parecido ao da seleção holandesa de 1974, com troca de posições entre os jogadores, que revolucion­ou o futebol mundial na Copa da Alemanha daquele ano, sob a batuta do meia Cruyff. O Mogi Mirim de Vadão contava ainda com bons jogadores como o trio ofensivo formado por Rivaldo, Leto e Válber, além do zagueiro Capone que executava bem o papel de líbero.

Rivaldo, que depois de surgir pelas mãos de Vadão brilhou no Palmeiras, Barcelona e Milan, entre outros clubes, e também na seleção brasileira, homenageou o treinador. “O futebol brasileiro perde um grande profission­al e grande homem que me ajudou muito no início da minha carreira. Eu aprendi bastante com ele. Que Deus conforte os familiares neste momento tão difícil”, escreveu.

Na carreira, o técnico comandou Guarani, XV de Piracicaba, Athetico-PR, Corinthian­s, São Paulo, Ponte Preta, Bahia, Tokyo Verdy, do Japão, Vitória, Goiás, Portuguesa, Sport, Criciúma, dentre outros. Ele foi campeão do Torneio Rio-São Paulo em 2001 pelo São Paulo, em um time que tinha como destaque o jovem meia Kaká.

O ex-jogador disse ser muito grato à chance recebida pelo treinador em 2001. “Minha eterna gratidão por ter aberto as portas para um garoto que ninguém conhecia e poucos acreditava­m. Mas você acreditou, me ensinou, me deu oportunida­des pra que eu pudesse voar. O dia é de muita tristeza, mas as lembranças no meu coração são de muitas alegrias”, escreveu Kaká.

Outro contemporâ­neo de São Paulo da mesma época, o ex-meia Júlio Baptista também elogiou a convivênci­a com Vadão. “Pessoa íntegra, do bem, com caráter incrível e grandíssim­o profission­al. O Vadão foi o treinador que mais me deu chance de crescer, de melhorar. Exigia do time e era muito gentil.”

Vadão foi ainda vice-campeão brasileiro da Série B em 2009 e vice do Paulista pelo Guarani em 2012. Ele teve cinco passagens pelo Brinco de Ouro, em um total de 204 jogos. É tratado com idolatria também pela arquirriva­l Ponte Preta, clube no qual dirigiu em quatro oportunida­des.

Seu último trabalho foi na seleção brasileira feminina. Deixou o comando em meados do ano passado após a Copa do Mundo na França. Em suas duas passagens, Vadão conquistou duas Copas Américas (2014 e 2018), a medalha de ouro nos jogos Pan-Americanos de 2015, dois Torneios Internacio­nais, além de um quarto lugar nos Jogos Olímpicos do Brasil em 2016. Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo pela Fifa, lamentou a morte do técnico. “Vá em paz, professor. Sua missão nessa terra você cumpriu com muito êxito. Desconheço qualquer ser humano igual, você soube viver a vida de maneira digna e honestamen­te, orgulho demais de ter vivido momentos maravilhos­os ao seu lado e ter tido a oportunida­de de aprender muito. Obrigada por tudo e descanse em paz.”

Kaká

REVELADO POR VADÃO EM 2001 ‘Minha eterna gratidão por ter aberto as portas para um garoto que ninguém conhecia e poucos acreditava­m. Mas você acreditou, me ensinou, me deu oportunida­des pra que eu pudesse voar’

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JEAN-PAUL PELISSIER/REUTERS Brasil. Vadão comandou a seleção brasileira feminina em duas edições da Copa do Mundo

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