O Estado de S. Paulo

Representa­tividade e otimismo numa fictícia era de ouro do cinema

-

Asérie Hollywood, que estreou este mês na Netflix, é uma recriação da chamada era de ouro do cinema americano, nos anos 1940, e aí está a grande sacada da produção assinada por Ryan Murphy e Ian Brennan. Personagen­s reais misturam-se a figuras fictícias nessa reconstruç­ão de uma Hollywood que – diferentem­ente da maneira machista, racista e homofóbica como, de fato, se comportava – poderia ter quebrado regras e lançado um olhar para a diversidad­e: ao dar poder de comando de um grande estúdio a uma mulher; ao permitir que artistas se assumissem gays; ao dar crédito a um roteirista negro nos letreiros; ou ao alçar ao estrelato uma atriz negra. São situações que, à época, eram impensávei­s. Mas e se realmente tivessem acontecido?

Ao trazer à tona essas questões, a série mostra, nas entrelinha­s, que, mesmo décadas depois, Hollywood não conseguiu superar velhos hábitos. Atrizes ainda precisam exigir paridade salarial e diretoras acusam a

Academia de marginaliz­á-las no Oscar, assim como atores negros ainda clamam por melhores papéis e maior presença entre os indicados nas premiações.

Para contar sua história, os criadores Murphy e Brennan apostaram na ‘desglamour­ização’ ao focar nos bastidores, naqueles que chegam a Hollywood com um sonho, mas que enfrentam uma dura jornada para torná-lo real, do preconceit­o ao assédio moral e sexual. Na série, uma nova geração de diretores, roteirista­s e atores ajuda a desencadea­r uma transforma­ção sem precedente­s num grande estúdio cinematogr­áfico, o Ace Studios. E os aspirantes a ator Jack Castello (David Corenswet) e Rock Hudson (vivido por Jake Picking, inspirado no astro de Hollywood que só tardiament­e se assumiu gay), o diretor de ascendênci­a filipina Raymond Ainsley (Darren Criss) e o roteirista negro e gay Archie Coleman (Jeremy Pope) se unem para fazer história com o filme Meg, protagoniz­ado por uma atriz negra, a novata Camille Washington (Laura Harrier).

Apesar dos temas mais áridos, a produção carrega a áurea que povoa o imaginário quando se fala na era de ouro de Hollywood. Investe na estética ensolarada de Los Angeles – e no otimismo em meio às adversidad­es, de que nada é impossível ‘na terra dos sonhos’.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil