O Estado de S. Paulo

Podcasts e humor (2)

- GUILHERME SOBOTA GUILHERME.SOBOTA@ESTADAO.COM

Opodcast pode ser uma ferramenta mais do que adequada para o exercício da comédia, e a tradição americana, como estamos explorando neste espaço, pode ensinar muito aos produtores brasileiro­s que buscam as risadas em seus ouvintes. Antes de continuar aqui a série de indicações nacionais, o assunto da semana nesse universo é a aquisição do The Joe Rogan Experience pelo Spotify.

Joe Rogan nasceu em Newark, em 1967, e ganhou seu interesse pela comédia indo a shows de Richard

Pryor (1940-2005), um dos maiores comediante­s de todos os tempos. Rogan começou a se arriscar nos palcos – em meio a outros trabalhos, muitos ligados às artes marciais, ensinando e praticando – e foi construind­o sua carreira nos clubes de Nova York nos anos 1990 e 2000, quando também se destacou na TV americana como comentaris­ta de eventos de lutas. Em 2009, ele lança o The Joe Rogan Experience, podcast que hoje soma mais de 1,4 mil episódios, entrevista­s com uma larga gama de convidados, que vão de Bernie Sanders (para quem Rogan declarou voto nas últimas primárias), Neil DeGrasse Tyson, Edward Snowden, Elon Musk, quase todo comediante norteameri­cano com algum catálogo e diversos outros. Atualmente, estima-se que o podcast tenha 190 milhões de downloads por mês, um número que leva o The New York Times a coroar Rogan como o “rei dos podcasts”.

A negociação com o Spotify – que até o fim do ano vai se tornar a plataforma exclusiva do programa – não é apenas um belo acréscimo à conta bancária de Rogan (especula-se que o valor tenha passado dos US$ 100 milhões), mas uma amostra ativa da postura agressiva da plataforma em relação a podcasts.

Nos últimos anos, o Spotify comprou outras startups de podcasts que vinham ganhando destaque, como a

Gimlet Media e a Anchor, bem como assinou contratos exclusivos com outros programas listados entre os melhores da área. Essas ambições sempre tiveram um alvo específico, a Apple, ainda líder no segmento. Mas a compra dos direitos de transmissã­o de Joe Rogan mira também outro gigante: o YouTube. Rogan é também um dos principais podcasters no YouTube, já que seus programas gravados, em formato vídeo, atraem milhões de visualizaç­ões na plataforma. Com o movimento, o Spotify ganhou US$ 1,7 bilhão em sua estimativa do valor de mercado em cerca de 23 minutos.

Os números superlativ­os apontam para mudanças na forma como as pessoas consomem conteúdo, e a quem elas recorrem para tal, conforme apontado pelo próprio Rogan em entrevista ao Times na segunda, 25. “Imagino que em um programa como o Seth Meyers (na TV, mas também disponível como podcast) existe um punhado de outras opiniões envolvidas. Certo ou errado, com podcasts o ouvinte obtém uma perspectiv­a muito individual e pura. No meu programa, é a minha opinião e a opinião do convidado. É isso. Nas redes de TV, existe uma ideia coletiva sobre o que as pessoas vão gostar ou não. Não sai nada selvagem de lá. Você não tem nada que vai te fazer ser demitido”, disse Rogan. Ele completa: “O podcast é oposto do polido. E por conta disso, ele ressoa”.

Apenas para terminar, é preciso dizer: Joe Rogan também é engraçado.

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