Sem jogo, a hora é de aprender e evoluir
Futebol. Com agenda mais livre, atletas se dedicam a atividades de crescimento pessoal, como cursos de inglês, finanças e até música
Em vez de treinos com bola, viagens, horas em hotéis e várias partidas por mês, alguns jogadores estão concentrados em apostilas de inglês, cursos online, estudos sobre finanças, terapia com psicólogo e aulas de música. Tudo isso porque, com a paralisação do calendário pela pandemia do novo coronavírus, os atletas passaram a ter a rara oportunidade para investir em atividades de desenvolvimento pessoal e aprender coisas diferentes na vida. Alguns estão aproveitando o tempo livre.
Como ainda não há uma data certa para o retorno do futebol, os atletas têm uma rotina reduzida de treinos e, por não precisarem viajar para os jogos, conseguem colocar em prática o plano de se aperfeiçoar em algum ramo que talvez a rotina intensa do futebol não permita. Em São Paulo, os clubes mantêm treinos em casa. Por isso, tem muito jogador que dispensou as horas livres na frente do videogame ou nas redes sociais para virar aluno exemplar.
“Acho importante que a gente tente melhorar um pouco mais como pessoa. Fazer coisas que antes não tinha tempo devido à vida corrida e cheia de compromissos que todos temos”, afirmou o goleiro do Coritiba, Alex Muralha. Com a agenda mais folgada, ele tem visto nesta quarentena vídeos com dicas de culinária e comprou um violão novo para praticar.
Um outro exemplo é o do zagueiro Igor Rabello, do Atlético-MG. Formado em educação física, ele tem feito cursos de gestão de pessoas e reforçado as aulas particulares de inglês. “Estudo duas vezes por semana. Eu sempre quis aprender outra língua, para crescer no meu trabalho e na vida pessoal”, disse ele ao Estadão, em inglês.
Outro a se dedicar ao idioma estrangeiro é o volante Felipe Araruna. Revelado pelo São Paulo, o jogador está no Reading, da Inglaterra, e durante a paralisação, comprou livros para resolver exercícios gramaticais e procurar resolver a dificuldade de entender o sotaque britânico do dia a dia. “No Brasil é muito difícil manter uma rotina de treino, estudo e fazer inglês. O calendário é muito cheio e você tem viagens muito longas também. Agora, com a pandemia, tenho conseguido aprender coisas novas, principalmente expressões e gírias que são da Inglaterra”, afirmou.
Araruna é formado em administração de empresas e usou a agenda livre para voltar a estudar temas como empreendedorismo e investimento. O mesmo assunto tem atraído o meia Renatinho, do CSA, para livros e lives feitas por profissionais da área. “É bom para entender mais a parte de investimentos, ações e fundos. Antes não tinha tempo de estudar sobre isso, agora estou mais preparado para lidar com o dinheiro”, contou. Renatinho também intensificou as palestras com um coach.
O aspecto comportamental também pesou para o volante Judson, do San José Earthquakes, dos EUA. Antes resistente a fazer terapia, agora ele tem feito sessões frequentes com um psicólogo. “Eu aprendi a me cobrar menos, a controlar a ansiedade. Acho que vou estar mais preparado para a volta do futebol, porque consegui me entender melhor como pessoa e como jogador”, revelou.
Em Goiânia, o atacante Victor Andrade, de Goiás, também deve retornar ao time com uma novidade após a pandemia. No caso dele, o foco está na prática do cavaquinho, instrumento que sempre gostou de tocar, mas lhe faltava tempo para praticar. “Estamos acostumados com a rotina de treinos, jogos, concentrações, viagens, hotéis. Quando sai disso a gente precisa de algo diferente para fazer, para manter a mente ativa. Não podemos deixar a quarentena nos abater”, prega.