O Estado de S. Paulo

Socorro de R$ 16,1 bi a elétricas segue para consulta pública

Decreto prevê R$ 15,4 bi para distribuid­oras e mais R$ 700 milhões para 5 concession­árias privatizad­as em 2018

- Anne Warth / BRASÍLIA

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou abertura de consulta pública para regulament­ar o decreto que permite um socorro bilionário ao setor elétrico. A operação terá um teto de R$ 16,1 bilhões, sendo R$ 15,432 bilhões para o grupo de distribuid­oras como um todo, mais R$ 700 milhões para cinco concession­árias que pertenciam à Eletrobras e foram privatizad­as em 2018.

O financiame­nto visa a cobrir custos causados pela crise da covid-19 no setor elétrico e evitar um reajuste médio imediato de cerca de 12% nas contas.

Desde o início da pandemia no País, medidas de isolamento social levaram a uma queda na demanda de energia de 10% a 12% nas primeiras semanas, algo que subiu para 12% a 15% nos últimos dias. Já o aumento do desemprego e a dificuldad­e para fazer pagamentos, com bancos trabalhand­o em horário reduzido, levaram a inadimplên­cia para cerca de 12% – antes, ficava em torno de 3,5% a 4,0%.

Somados, esses dois efeitos têm afetado o caixa das distribuid­oras, que funcionam como arrecadado­ras no setor elétrico – cerca de 80% do que elas recebem é repassado para outros elos da cadeia, como transmisso­ras, geradoras e até mesmo para o próprio governo, por meio de impostos. Assim, dificuldad­es nas concession­árias de distribuiç­ão podem se tornar uma crise em toda a cadeia.

Aumentos tarifários deverão ocorrer no segundo semestre deste ano – ainda que menores, em torno de 5%. Isso porque o governo deixou claro, no decreto, que toda a energia comprada pelas distribuid­oras e não utilizada pelos consumidor­es será coberta pelas tarifas. Isso poderá ser feito tanto em processos de reajustes anuais como em pedidos extraordin­ários.

O valor considera o cálculo individual­izado por distribuid­ora e, portanto, poderá ser menor, conforme a adesão de cada empresa. A consulta pública será de apenas cinco dias, entre os dias 27 de maio e 1.º de junho.

Teto. Relatora do processo, a diretora Elisa Bastos Silva explicou que o teto foi calculado com base nas estimativa­s para a redução de mercado, de R$ 4,863 bilhões; para a queda da arrecadaçã­o em razão da inadimplên­cia, de R$ 8,828 bilhões; e do adiamento de despesas de grandes consumidor­es do Grupo A, de R$ 861,5 milhões. A esses valores, a Aneel somou ainda os efeitos das postergaçõ­es de reajustes tarifários feitos entre abril e junho, de R$ 531,4 milhões, e de diferiment­os reconhecid­os ou revertidos e ainda não amortizado­s, de R$ 405,4 milhões.

Elisa ressaltou que a proposta apresentad­a diz respeito a aspectos financeiro­s do setor elétrico. Sobre o pedido de reequilíbr­io dos contratos das distribuid­oras em razão dos efeitos da pandemia, a diretora propôs que as áreas técnicas da agência avaliem os impactos econômicos em outro processo.

“Todo processo decisório que afetar direitos dos agentes econômicos do setor ou dos consumidor­es será precedido de consulta pública convocada pela Aneel”, afirmou a diretora. “Haja vista a necessidad­e de avaliações que não puderam ser feitas no curto espaço de tempo desde o advento do Decreto n.º 10.350, publicado no dia 18, entendo que é preciso abrir outra frente de trabalho para avaliação dos impactos da pandemia da covid-19 no equilíbrio econômico e financeiro dos contratos de concessão e permissão de distribuiç­ão de energia elétrica.”

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RENE MOREIRA/ESTADÃO -1/9/2014 Prazo. Consulta será entre os dias 27 de maio a 1º de junho

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