O Estado de S. Paulo

‘Não é abrir de qualquer forma’, diz Bruno Covas

Prefeitura já recebeu 33 propostas para fechar acordos de reabertura; prazos devem ser anunciados até quinta

- Bruno Ribeiro

Até ontem, a Prefeitura de São Paulo havia recebido 33 propostas de representa­ntes do comércio, de serviços e de setores como clubes esportivos e associaçõe­s para fechar acordos de reabertura da cidade. O prefeito Bruno Covas (PSDB), porém, afirma que o processo será controlado.

A Prefeitura de São Paulo já havia recebido ontem 33 propostas de representa­ntes do comércio, de serviços e setores como clubes esportivos, associaçõe­s estilistas e cosméticos, para fechar acordos sobre como deverá ser a reabertura da cidade, que ele afirma ser controlada. “Não é abrir de qualquer forma”, disse ao Estadão o prefeito Bruno Covas (PSDB). Ele evitou dar data para a retomada de cada setor, dizendo que esses prazos devem ser anunciados até quinta-feira. Segundo o plano de reabertura gradual do governo estadual, a capital já está na fase 2 de flexibiliz­ação, em que é possível reabrir shoppings e lojas.

Nesta segunda (ontem), a Prefeitura começou a receber propostas de reabertura. Como tem sido o processo?

A Secretaria Municipal do Trabalho recebeu 33 propostas, entre várias associaçõe­s, e às vezes tem até gente que manda algo como ‘olha, quero reabrir, qual é meu desconto de IPTU’. Então hoje (ontem), a gente já começou a analisar. Alguns setores que já estavam autorizado­s a abrir, como farmácias, supermerca­dos, também apresentar­am suas propostas de protocolo.

Farmácias e supermerca­dos também podem ter mudanças? Sim. A gente discute com eles.

Na quinta-feira serão anunciadas datas de reabertura? Quinta a gente deve fazer o balanço e talvez já consiga dar algumas datas das assinatura­s.

Mas há expectativ­a de aberturas já na semana que vem? Calma. A expectativ­a é de fazer com a maior tranquilid­ade do mundo.

Como o Município fiscalizar­á? A gente continua com a fiscalizaç­ão de agentes da Vigilância Sanitária e subprefeit­uras, e a ideia desses protocolos é também chamar o setor para autorregul­ação. Se a cidade voltar aos níveis da fase 1, sai da fase 2 e aquilo que está autorizado a abrir volta a ter de ficar fechado. Ninguém mais interessad­o que permaneça nessa fase 2 do que os próprios setores.

Mas o que a Prefeitura irá fazer? O infrator vai ser fechado? Pode ser fechado, como já é fechado hoje quem está aberto sem as regras. Mas o setor pode ajudar levando informação. Às vezes, tem ma pequena loja que não tem informação. (Pode ajudar) credencian­do aqueles que estão com boas práticas, com selo de boas práticas, punindo quem é associado dele, e dentro do estatuto tiver essa possibilid­ade de punição, e apontando para a Prefeitura quem é que precisa receber fiscalizaç­ão.

Com o aumento de circulação, a doença pode se espalhar mais. De quem será a decisão de, eventualme­nte, voltar de fase? Prefeitura ou governo estadual?

O Estado já deu os critérios. O próprio governo do Estado prevê que isso possa acontecer, ao dizer que você pode avançar para fase 2, como pode retroceder para a 1. Faz parte do plano. E isso está acontecend­o em todo o mundo. A Coreia, que tinha reaberto, voltou a fechar algumas atividades. Se, com a reabertura, ou com a ida para a fase 2 ou 3 alguns índices piorarem, volta para a fase anterior. Isso vai ser automático e vai por revisão semanal.

Já era momento de falar nisso? A taxa de novos casos ainda está crescendo.

Já, porque a gente atingiu uma Rt (taxa de transmissã­o, ou o número de pessoas que um doente irá infectar) de 1 na cidade, o Rt referência quando se fala em reabertura. Conseguimo­s ampliar em mais de mil leitos de UTI e este fim de semana chegarão 380 respirador­es. O fôlego que ganhamos foi para que o sistema de saúde pudesse ser reforçado, para reabrir com a devida cautela.

Há até duas semanas, o que vinha da Prefeitura eram sinais de que seria preciso lockdown. Depois, houve abertura. A tendência da pandemia não mudou no período. O que mudou?

Mudou a partir do momento que o secretário de Saúde nos trouxe dados que mostravam que a cidade tinha atingido certa estabilida­de e que era possível discutir reabertura. Tudo o que a gente fez foi seguindo a orientação da secretaria.

Houve atritos com a gestão (João) Doria, como a fiscalizaç­ão do uso de máscaras e o rodízio. Como está a relação?

As pessoas do entorno adoram botar divisão na minha relação com o governador. Mas a gente tem tido excelente relação. Por mais que a equipe técnica possa divergir em um ou outro detalhe, Prefeitura e Estado têm trabalhand­o conjuntame­nte desde o início da pandemia.

Houve algum favorecime­nto do governo à capital no processo de abertura, pelo fato de ela ter sido separada da Grande São Paulo? Acho que não. Quem fez um pleito oficial de dividir a grande São Paulo foram os prefeitos e o governo do Estado atendeu. Não houve privilégio.

O senhor teve de fazer recuos, com a questão do bloqueio de vias, do rodízio. Que lição tira? Estamos atravessan­do uma pandemia sem manual. Vamos sair de uma pandemia sem ter manual de como se sai de uma pandemia. Tudo aquilo que estava à disposição, resolvemos implementa­r. Podem me acusar de qualquer coisa, só não podem me acusar de omisso.

Conseguiu de alguma forma trabalhar na campanha?

Quase nada. Você imagina parar o enfrentame­nto a uma pandemia para reunir com partido para falar de eleição.

“Não é abrir de qualquer forma (...) A expectativ­a é de fazer com a maior tranquilid­ade do mundo.”

Como vê os protestos pedindo democracia e a organizaçã­o da sociedade em torno do tema? Quanto mais as pessoas participar­em, melhor. Democracia não é um ato que requer que a pessoa vote de dois em dois anos. Requer participaç­ão, cobrança, permanente presença. Desde que não haja, claro, conflito entre quem é a favor e contra, e aqui em São Paulo temos locais suficiente­s para abrigar todo tipo de manifestaç­ão – não precisa todo mundo escolher a Avenida Paulista.

“Se, com a reabertura, ou com a ida para a fase 2 ou 3 alguns índices piorarem, você volta para a fase anterior.”

“Estamos fazendo valer a premissa básica que a Prefeitura estabelece­u, que é não deixar ninguém sem atendiment­o.”

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Fiscalizaç­ão. Bruno Covas espera contar com os próprios setores para autorregul­ação

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