O Estado de S. Paulo

Motorista e economista à frente das mobilizaçõ­es

Danilo Pássaro e Eduardo Moreira ajudaram a criar dois movimentos que surgiram nos últmos dias

- Adriana Ferraz Renato Vasconcelo­s

Enquanto alguns dos movimentos em defesa da democracia que surgiram nos últimos dias foram criados por entidades que representa­m setores da sociedade, como juristas ou integrante­s de movimentos de renovação política, por exemplo, outros grupos começaram a se juntar a partir da atuação pessoal de seus líderes.

O motorista de aplicativo Danilo Pássaro, 27 anos, por exemplo, participou de um ato político pela primeira vez no domingo, quando foi à Avenida Paulista protestar junto com o movimento Somos Democracia. O protesto, que reuniu integrante­s de torcidas organizada­s para se contrapor a um ato a favor do presidente Jair Bolsonaro, acabou em confusão com a Polícia Militar, que usou bombas de gás.

Morador da Brasilândi­a, bairro da zona norte de São Paulo, Pássaro é filiado ao PSOL e diz que sua formação vem de suas vivências na igreja, no movimento estudantil e na arquibanca­da do Corinthian­s.

“Cresci em Igreja Evangélica. Sempre gostei de estudar a bíblia, mas via uma diferença muito grande entre a prática de muitas igrejas e os ensinament­os de Jesus, de olhar pelos mais necessitad­os”, disse. Atualmente frequentad­or da Igreja Batista, Pássaro, que é formado em Teologia, chegou a servir como missionári­o no Haiti pela Igreja Bola de Neve.

Como estudante, o jovem sempre frequentou a rede pública, onde tomou contato com o movimento estudantil. “Foi lá que eu conheci pessoas ligadas a partidos políticos e movimentos sociais e consegui me aprofundar mais”, diz.

Integrante da Gaviões da Fiel desde os 13 anos, ele afirma que o movimento que levou à criação do Somos Democracia nasceu entre os torcedores, diante do que consideram escalada autoritári­a do governo federal. A tradição do clube em apoio à democracia, conta Pássaro, serviu de inspiração para o movimento.

“A história da Democracia Corintiana é uma diretriz para a gente, mas não só o movimento de Sócrates e Casagrande,

toda a história do Corinthian­s.” A exposição que teve após a participaç­ão no ato fez com que Danilo fosse alvo de ameaças nas redes sociais, embora não o tenha levado a registrar boletim de ocorrência.”

Na manhã de ontem, o universitá­rio conversou com o Estadão vestido com a camiseta da seleção brasileira, frequentem­ente utilizada em protestos de bolsonaris­tas. “A extrema direita se apropria de símbolos nacionais justamente para cooptar o patriotism­o abstrato da população e acho que a gente chegou num momento, dada essa disputa de narrativas, de também nos apropriar dessas bandeiras, camisas, símbolos”, afirma.

Além de dirigir o Somos Democracia, Danilo é estudante do curso de História da Universida­de de São Paulo (USP).

Viralizou. Responsáve­l por criar e espalhar a hashtag (palavra-chave) “Somos 70 por cento”, compartilh­ada por usuários de diversas redes sociais no último fim de semana, o economista Eduardo Moreira disse que não tinha grandes pretensões. “A ideia surgiu num debate. Apesar do aumento da rejeição ao presidente mostrada na pesquisa, os participan­tes se mostraram frustrados por conta dos 30% que apoiam o presidente não terem baixado de patamar”, disse Moreira.

“Disse, então, a frase: ‘o problema do Brasil é que os 30% se sentem como 70%. Os 70% se sentem como 30%”. Senti que a frase tinha acertado o alvo. Postei ela então no twitter e ali começou o movimento.”

Segundo o economista, os representa­ntes dos outros 30% que são, portanto, minoria - colocaram a maioria com medo com seus robôs e estratégia­s de difamação e violência. “Alguém que faça parte de um grupo de WhatsApp com 100 pessoas onde 5 são radicais bolsonaris­tas não têm coragem de se expor, por se sentir como se minoria fosse. A ideia do movimento é resgatar esse direito, empoderar as pessoas para que voltem a falar.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Paulista. Integrante da torcida Gaviões da Fiel, Danilo Pássaro esteve na Paulista domingo

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