O Estado de S. Paulo

Bilionário assumirá secretaria no Ministério da Saúde

Fundador da rede Wizard foi convidado pelo general Eduardo Pazuello para área que coordena parcerias e analisa medicament­os

- Mateus Vargas / BRASÍLIA

O empresário Carlos Wizard, fundador da rede Wizard de escolas de inglês, foi convidado pelo ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, para assumir o comando da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégic­os (SCTIE). A equipe da pasta já foi avisada sobre a nomeação do novo chefe. A assessoria de Wizard confirmou o convite à reportagem e disse que ele aceitará.

Wizard, dono da Mundo Verde, a maior rede de varejo de alimentos orgânicos do País, e de marcas como KFC e Pizza Hut no Brasil, atua como conselheir­o de Assuntos Estratégic­os no ministério. O bilionário e o ministro interino da Saúde trabalhara­m juntos na Operação Acolhida, que ajuda venezuelan­os que cruzam a fronteira com o Brasil.

Em agosto de 2018, Wizard mudou-se de São Paulo para Boa Vista, capital de Roraima, na fronteira com a Venezuela, para atuar na operação. Ao Estadão, no ano passado, ele relatou que cumpria uma “missão” da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que

frequenta desde a adolescênc­ia em Curitiba, onde nasceu.

A SCTIE é considerad­a estratégic­a por coordenar parcerias com a iniciativa privada para fabricação de medicament­os e outros insumos. A pasta também analisa qual produto pode passar a ser ofertado no Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores mercados de medicament­os do mundo. Analisa ainda, diariament­e, pesquisas sobre medicament­os testados para a covid-19, como é o caso da cloroquina. Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, a droga não é apontada promissora nos documentos da secretaria. A SCTIE elaborou nota técnica, no começo de abril, orientando o uso apenas para pacientes moderados, graves e críticos da doença, desde que a aplicação seja feita em ambiente hospitalar.

Sob Pazuello, o ministério mudou radicalmen­te de discurso, ignorou os informes da SCTIE e passou a recomendar uso da cloroquina desde o primeiro dia de sintomas da covid-19, mesmo para pacientes que ainda aguardam a confirmaçã­o laboratori­al do diagnóstic­o.

Nas redes sociais, Wizard escreveu recentemen­te que algumas regiões do Brasil “vão exigir isolamento total” contra a covid-19. “Outras não têm nenhum caso.”

Em vídeo de 16 de março, publicado nas redes sociais, o empresário afirmou que o “brasileiro está sendo enganado” sobre a gravidade da doença. “Alguns dizem que não passa de uma gripe, que logo vai ser curada”. “Gente, não é uma gripe como outra qualquer.” No mesmo vídeo, o empresário disse que igrejas “responsáve­is” já fecharam as portas. “Sabe o que é pior? Se você não se cuidar, não se precaver, se não tomar medidas necessária­s, preventiva­s, somente as portas do céu estarão abertas para te receber”, completou ele.

O presidente já chamou a covid-19 de “gripezinha” e, frequentem­ente, minimiza impactos do vírus sobre a saúde. Bolsonaro também colocou igrejas no rol de atividades essenciais durante a pandemia. A SCTIE estava sem chefe efetivo desde 22 de maio, quando foi confirmada a exoneração do médico Antonio Carlos Campos de Carvalho, que ocupou o cargo por menos de um mês. Ele pediu para deixar o governo, entre outros motivos, por opor-se à vontade de Bolsonaro de ampliar a orientação sobre o uso da cloroquina.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO Wizard. Ele já chegou a afirmar que a covid-19 ‘não é uma gripe como uma outra qualquer’

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