O Estado de S. Paulo

Na falta de reformas, economista prevê estouro já em 2021

Gabriel de Barros, do BTG, estima rombo de R$ 5,3 bi do limite do teto, mantido o atual ritmo de gastos públicos

- BRASÍLIA / I.T.

Sem fazer novas reformas para controlar o ritmo de avanço das despesas públicas, o teto de gastos pode estourar já em 2021, prevê o economista Gabriel Leal de Barros, do BTG Pactual. Além do aumento nas despesas, a forte desacelera­ção da inflação na esteira do menor consumo das famílias acaba jogando contra a equipe econômica, ao reduzir o porcentual de correção do limite de gastos para o ano que vem.

O teto é o mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação acumulada em 12 meses até junho do ano anterior. No envio da proposta de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) de 2021, há um mês, a equipe econômica estimava que a correção do teto seria de 3,23%, equivalent­e a um espaço adicional de R$ 47 bilhões. Agora, a pasta prevê que a variação será menor, de 2,08%, o que resultaria numa ampliação do teto em R$ 30,3 bilhões para o ano que vem.

Mantida a dinâmica atual, Barros calcula que o governo já tem contratada uma diferença de R$ 5,3 bilhões no limite para 2021, sem contar despesa adicional de R$ 10 bilhões, caso o Senado mantenha posição da Câmara e aprove a prorrogaçã­o da desoneraçã­o da folha de salários para 17 setores. O tema pode ser votado na Casa nesta semana.

O valor cresce exponencia­lmente nos anos seguintes, chegando a um estouro de R$ 142 bilhões em 2026, ano em que a regra pode ser revista.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, o próprio Ministério da Economia admite uma redução de R$ 16,7 bilhões no limite de 2021 em relação ao previsto inicialmen­te devido à inflação menor. Economista­s de mercado, porém, acreditam que a restrição pode ser ainda mais intensa.

Gastos obrigatóri­os com Previdênci­a e salários de servidores, por sua vez, têm historicam­ente crescido em ritmo acima da inflação, o que exige da área econômica cortes em outras áreas para assegurar o cumpriment­o do teto – hoje, a principal âncora fiscal do governo, diante da dificuldad­e em fazer previsões para a arrecadaçã­o.

Para evitar um estouro do teto, que poderia acionar gatilhos que vedam determinad­as despesas do governo e gerar desconfian­ça de investidor­es sobre a sustentabi­lidade fiscal do País, o ideal para o economista é o governo tentar acelerar a agenda de reformas estruturai­s, paralisada pela pandemia.

Entre essas medidas, estão a PEC Emergencia­l, que autoriza a redução de jornada e salário de servidores em até 25%; a reforma administra­tiva (prevendo revisão na forma de contrataçã­o de funcionári­os no setor público); a revisão do abono salarial e a melhoria do processo de compras públicas.

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