O Estado de S. Paulo

‘Vamos abrir de 25 a 30 lojas em 2020’

Apesar do coronavíru­s, executivo diz que rede tentará aproveitar boas oportunida­des para garantir pontos de venda

- Fernando Scheller Mônica Scaramuzzo

Em meio à crise do coronavíru­s, a varejista Pernambuca­nas pretende manter a abertura de lojas perto do plano originalme­nte traçado. A companhia espera inaugurar entre 25 e 30 unidades em 2020. De acordo com o presidente do grupo, Sérgio Borriello, a crise traz oportunida­des e deixa disponívei­s pontos de venda em locais onde a companhia quer ter presença. O executivo participou ontem da série de entrevista­s ao vivo Economia na Quarentena, do Estadão.

Segundo Borriello, uma das estratégia­s da Pernambuca­nas para ganhar força em relação à concorrênc­ia é o relacionam­ento com os consumidor­es no crediário. Sabendo de uma possível alta da inadimplên­cia por causa do cresciment­o do desemprego, o executivo afirmou que a rede buscou reduzir juros e dar mais prazo aos clientes durante a pandemia. “Queremos plantar atendiment­o para colher fidelidade.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

A Pernambuca­nas vinha em uma forte expansão nos últimos anos, abrindo cerca de 30 lojas por ano. Como a crise da covid19 afeta esse movimento?

Toda crise traz oportunida­des, e o varejo não é um caminhão que se freia de uma vez. Então, neste ano, acredito que gente terá umas 25 lojas novas porque já estava no nosso caminho. A gente quer ir um pouquinho além. A crise também possibilit­a ir para lugares em que gostaríamo­s de estar. Devemos ter de 25 a 30 lojas e manter a expansão.

Qual vai ser a estratégia?

O modelo de expansão da Pernambuca­nas seguirá a área de atuação: Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Temos um estudo sobre tamanho de cidade e renda que, apesar da crise, continua válido. Temos bastante oportunida­de no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, no norte de Minas e no Sul, sobretudo Rio Grande do Sul. São Paulo sempre será um foco, mas nossa presença já é grande.

A empresa acelerou o projeto de transforma­ção digital durante a crise?

Esses números estão loucos hoje em dia. Com o fechamento das lojas físicas, a participaç­ão do digital disparou. Essa questão digital é claramente uma oportunida­de. A nossa fintech, por exemplo, tem 1,5 milhão de contas digitais. Avançamos na pandemia e queremos continuar a crescer depois dela. Tivemos um cresciment­o de 1.500% do nosso e-commerce. Nossa fintech poderá alcançar muitos tipos de serviços, buscando parcerias. É a hora de acelerar o trabalho já feito.

Quantas lojas estão abertas? Temos um processo de inteligênc­ia que acompanha casos e óbitos reportados versus os leitos disponívei­s. E as lojas acompanham o que cada prefeito está falando sobre autorizaçã­o de funcioname­nto. Temos 378 lojas, das quais 256 estão abertas. Nessas 256, há diversos modelos. Algumas são abertas dia sim, dia não. Outras têm horário limitado, outras capacidade limitada.

Diante dessa configuraç­ão, o grupo demitiu ou suspendeu contratos?

Não houve demissão. Fizemos redução de jornadas em alguns casos. Onde as lojas estavam fechadas, fizemos suspensão de contratos. Queremos preservar ao máximo os empregos. Boa parte dos nossos funcionári­os está na Medida Provisória 936.

Para a rede, como deveria ser a volta do comércio?

O assunto não é político, é técnico. De nada adianta a loja estar aberta se o consumidor não aparecer. E não vale a pena colocar em risco os trabalhado­res. A visão tem de ser regionaliz­ada, pois as situações são muito diferentes nos municípios em que a gente opera. A abertura tem de ser escalonada, gradual. Não dá hoje para tomar uma única decisão para a empresa inteira.

Com o aumento do desemprego, como fica a questão da inadimplên­cia?

Acho que tem dois tipos de inadimplên­cia. Se a pessoa perdeu 100% da renda, só vai cumprir as necessidad­es básicas, de contas da casa e alimentaçã­o. O fato de o cliente não pagar não é escolha, é falta de opção. Tem a segunda inadimplên­cia, em que houve perda parcial de renda. E o consumidor, para fechar o orçamento, precisa escolher quais contas vai pagar depois de água, luz e alimento. Nesse segundo caso, há uma oportunida­de de usar o relacionam­ento com o cliente para ser escolhido por ele.

Como?

A gente sempre teve crediário, somos uma empresa de 112 anos. Todo mundo tem uma história com a Pernambuca­nas. É por isso que fizemos isenção de juros e multa nos períodos de atraso, demos carência para os clientes pagarem, fizemos parcelamen­to. E por que isso? Queremos plantar atendiment­o para colher fidelidade. Queremos que ele traga o salário para a nossa conta digital, que ele venha para cá se o banco colocar um “x” do Serasa nele.

Por mais que a venda digital cresça, não existe um ‘teto’ para a venda pela internet quando o tema é confecção?

O teto vai subir, embora exista um limite especialme­nte para o vestuário. A padronizaç­ão dos tamanhos na nossa indústria de confecções ainda é falha. Essa flutuação de modelagem obriga o cliente a provar a roupa. O teto estava, no vestuário, por volta de 3,7%. Ele vai subir, pode passar de 15%, mas não supera 20%. Por outro lado, em outros departamen­tos, nos eletrônico­s, celulares e cama, mesa e banho, a proporção pode ser bem maior.

“De nada adianta a loja estar aberta se o consumidor não aparecer. E não vale a pena pôr os trabalhado­res em risco. A visão tem de ser regionaliz­ada.”

Como o sr. vê a influência da crise política na economia?

A questão do coronavíru­s é de saúde, e não política. Precisamos nos preocupar com a saúde das pessoas e o emprego. A polarizaçã­o é a pior coisa para o País.

 ??  ?? Inadimplên­cia. Sérgio Borriello diz que varejista reduziu juros e deu mais prazo a clientes
Inadimplên­cia. Sérgio Borriello diz que varejista reduziu juros e deu mais prazo a clientes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil