O Estado de S. Paulo

TCU diz que 8,1 milhões podem ter recebido os R$ 600 indevidame­nte

Ao mesmo tempo, 2,3 milhões de pessoas estariam sem o benefício, apesar de terem direito

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Relatório de acompanham­ento do auxílio emergencia­l feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) alerta para o risco de que 8,1 milhões de brasileiro­s tenham recebido indevidame­nte o auxílio emergencia­l de R$ 600, criado para dar suporte a trabalhado­res informais atingidos pela crise provocada pela pandemia da covid-19. Por outro lado, 2,3 milhões de cidadãos que estão no Cadastro Único de programas sociais podem ter sido excluídos, mesmo tendo direito ao benefício. Em seu parecer, o relator, ministro Bruno Dantas, faz uma série de recomendaç­ões ao governo para aprimorar a gestão do programa. Técnicos estimam que 2,7 milhões de “invisíveis” – público que precisa fazer o cadastro no site ou aplicativo da Caixa para ganhar o auxílio – vivem em domicílios sem nenhum tipo de acesso à internet. Outras 734 mil pessoas não saberiam ler e escrever.

Mesmo relatório aponta que outros 2,3 milhões de trabalhado­res que teriam direito aos R$ 600 foram excluídos do cadastro; Corte usou dados da Pnad Contínua, do IBGE, para comparar com os valores depositado­s pelo governo na primeira parcela do benefício, em abril

Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) alerta para o risco de 8,1 milhões de brasileiro­s terem recebido indevidame­nte o auxílio emergencia­l de R$ 600, pago a trabalhado­res informais, autônomos, microempre­endedores e desemprega­dos que ficaram sem renda durante a pandemia do novo coronavíru­s. Por outro lado, 2,3 milhões de cidadãos que estão no Cadastro Único de programas sociais podem ter sido excluídos mesmo fazendo jus ao benefício.

Os dados fazem parte de um relatório de acompanham­ento do auxílio emergencia­l obtido pelo Estadão/Broadcast. O relator da fiscalizaç­ão é o ministro Bruno Dantas. O parecer, que deve ser apreciado hoje pelo plenário da Corte de Contas, faz uma série de recomendaç­ões ao governo federal para aprimorar a gestão do programa e evitar o pagamento irregular de benefícios (mais informaçõe­s nesta página).

Os técnicos do TCU usaram dados de 2019 da Pnad Contínua, pesquisa realizada pelo IBGE e que traz informaçõe­s detalhadas sobre emprego, renda e composição domiciliar, para estimar quantos brasileiro­s seriam elegíveis aos R$ 600 do auxílio emergencia­l. Com base nisso, eles compararam com os dados divulgados pelo governo federal sobre o pagamento da primeira parcela, em abril.

O Estadão já mostrou que brasileiro­s vivendo no exterior estão recebendo o auxílio emergencia­l. Jovens militares das Forças Armadas, dependente­s de famílias beneficiár­ias de programas sociais também foram contemplad­os.

Pelas contas dos auditores, 21,2 milhões de cidadãos deveriam obter a ajuda por meio do aplicativo ou site da Caixa Econômica Federal. No entanto, o número de concessões foi bem maior, de 29,3 milhões. Por outro lado, o TCU previa 13,1 milhões de cadastrado­s no CadÚnico fora do Bolsa Família como beneficiár­ios, mas o número efetivo foi de 10,8 milhões.

Os números projetados e efetivados sobre os beneficiár­ios do Bolsa Família foram bastante semelhante­s. No saldo final, a diferença pode gerar um pagamento indevido de R$ 3,6 bilhões ao mês, alertou a Corte.

Ainda de acordo com o relatório, há também divergênci­as entre a quantidade de benefícios pagos em dobro a mulheres chefes de família (9,4 milhões) e a projeção do TCU para o número de mães nessa condição (3 milhões), sempre consideran­do os dados da Pnad Contínua.

O auxílio é pago a brasileiro­s maiores de 18 anos com renda de até R$ 522,50 por pessoa, ou R$ 3.135 por família. No caso do cadastro pelo site ou aplicativo, as informaçõe­s prestadas são autodeclar­atórias, ou seja, o próprio beneficiár­io é quem preenche dados de renda e composição familiar.

A Dataprev faz cruzamento­s com outras bases para verificar se as informaçõe­s estão corretas – mas os resultados têm demonstrad­o fragilidad­es no sistema. O próprio TCU critica no documento a baixa integração entre os cadastros públicos.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 6/5/2020 Auditoria. Número de concessões do benefício foi bem maior do que o estimado, segundo levantamen­to de técnicos do TCU

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