O Estado de S. Paulo

Indicado pelo Centrão para o BNB é alvo de investigaç­ão

TCU apura suspeitas de irregulari­dades na Casa da Moeda durante gestão de Alexandre Cabral; prejuízo estimado é de R$ 2 bilhões

- Breno Pires Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Alexandre Cabral, indicado pelo Centrão para a presidênci­a do Banco do Nordeste, é um dos alvos de apuração conduzida pelo TCU sobre suspeitas de irregulari­dades em contrataçõ­es feitas pela Casa da Moeda durante sua gestão à frente da estatal, em 2018. O prejuízo é estimado em R$ 2,2 bilhões.

O novo presidente do Banco do Nordeste, Alexandre Borges Cabral, é alvo de uma apuração conduzida pelo Tribunal

de Contas da União (TCU) sobre suspeitas de irregulari­dades em contrataçõ­es feitas pela Casa da Moeda durante sua gestão à frente da estatal, em 2018. O prejuízo é estimado em R$ 2,2 bilhões.

Como revelou o Estadão, Cabral foi indicado para o cargo pelo PL, de Valdemar Costa Neto, em troca de apoio do partido ao governo no Congresso. Ele tomou posse ontem, após ser eleito pelo Conselho de Administra­ção.

Procurado pelo Estadão, Cabral negou qualquer ilegalidad­e e disse esperar que o TCU reconheça isso. Na cerimônia de posse, afirmou que sua indicação é “técnica” e se deu por causa da sua “experiênci­a exitosa” à frente da Casa da Moeda.

Investigaç­ão. Auditores atribuem ao executivo “possível ato de gestão temerária” na presidênci­a da estatal e o descrevem como um dos “potenciais responsáve­is” por prejuízos em contratos firmados durante sua gestão.

As supostas irregulari­dades estão relacionad­as a fraude e direcionam­ento de licitações para as empresas Sicpa e Ceptis, que resultaram em contratos destinados à operação do Sistema de Controle de Bebidas (Sicobe) e do Sistema de Controle e Rastreamen­to da Produção de Cigarros (Scorpios). Os valores dos pagamentos, somados, superam R$ 11 bilhões.

Em novembro do ano passado, quando Cabral já havia deixado o comando da Casa da Moeda, o TCU decretou a indisponib­ilidade de bens das empresas supostamen­te beneficiad­as pelo esquema e fez uma série de recomendaç­ões à estatal. Um recurso apresentad­o pelos investigad­os deve ser julgado hoje pela corte de contas.

O plenário do TCU deve abrir uma tomada de contas especial – como são chamados os processos em que o tribunal aprofunda as investigaç­ões, quantifica o dano aos cofres públicos e aponta eventuais responsáve­is. Caso considere que houve infração grave, o responsáve­l pode ser impedido de exercer cargo em comissão ou função de confiança na administra­ção pública federal, por um período que varia de cinco a oito anos. As apurações ainda estão em curso e não há qualquer condenação contra Cabral no âmbito da corte de contas que o impediria hoje de assumir o BNB.

Pente fino. A indicação de Cabral para a Casa da Moeda contraria o próprio presidente, que negou na semana passada tratativas para repassar a chefia de bancos públicos ao Centrão. “Em nenhum momento nós oferecemos ou eles pediram ministério­s, estatais ou bancos oficiais”, disse Bolsonaro, durante transmissã­o nas redes sociais. O objetivo do governo é reunir votos no Congresso que evitem um eventual impeachmen­t.

Responsáve­l pela entrada do Centrão no governo, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, se justificou com os colegas do Exército pela aproximaçã­o do

Planalto com o grupo de partidos com o argumento que nenhuma nomeação, sob sua responsabi­lidade, ocorre fora dos critérios técnicos e “após intensa pesquisa da vida pregressa do indicado, sob aspectos morais, jurídicos e político-ideológico­s, realizada pelo SINC (Sistema Integrado de Nomeações e Consultas).” O Estadão não conseguiu contato com o ministro ontem para comentar sobre a situação do escolhido para a estatal, até o fechamento da edição.

Sobrepreço. Como presidente da Casa da Moeda, segundo o relatório de fiscalizaç­ão do TCU, Cabral assinou em 2018 contratos de pagamento com a empresa Sicpa, sem que fosse exigida comprovaçã­o dos custos do serviço, mesmo ciente de que administra­dores desta companhia eram réus em ação penal por fraude a licitação. “Possível ato de gestão temerária, devido ao pagamento de serviço com possível sobrepreço”, escreveram os auditores.

O então presidente da Casa da Moeda também foi signatário de um termo de parceria geral e de instrument­os particular­es de constituiç­ão de parceria contratual firmados com a empresa Ceptis, sem respaldo de estudos comparativ­os necessário­s, segundo o TCU. Ainda de acordo com o documento, a Ceptis surgiu de uma manobra para afastar a proibição de contrataçã­o da Sicpa, apesar da exigência de reputação ilibada do parceiro e de seu grupo controlado­r para firmar contratos.

O tribunal determinou o bloqueio R$ 2,2 bilhões das empresas, em novembro de 2019. Na ocasião, o ministro relator, Aroldo Cedraz, disse que eram necessária­s “providênci­as urgentes para evitar ainda mais prejuízos à Casa da Moeda em razão dessa relação comercial com grupo empresaria­l reconhecid­amente envolvido com atividades criminosas, que vitimaram a própria estatal”. Foi suspensa também parte da aplicação de recursos em um contrato de parceria entre a Casa da Moeda e a Ceptis.

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ANCO DO NORDESTE Presidente. Cabral foi indicação do PL de Costa Neto

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