O Estado de S. Paulo

Entidades engrossam movimento por democracia

Entre as 130 entidades que assinam documento estão grupos de renovação política; texto diz que ameaça ‘à ordem democrátic­a’ reside na Presidênci­a da República

- Pedro Venceslau

A onda de manifestos de diferentes setores em defesa da democracia e em oposição à retórica do presidente Jair Bolsonaro ganhou volume com a articulaçã­o de organizaçõ­es da sociedade civil. Ontem, 130 entidades subscrever­am o documento “Juntos pela democracia e pela vida”, que diz ser preciso reconhecer que a ameaça fundamenta­l à ordem democrátic­a e ao bem-estar do País reside hoje na própria Presidênci­a da República. Entre os signatário­s, estão grupos de renovação política e entidades de combate à corrupção, entre outros.

A onda de manifestos assinados por personalid­ades brasileira­s de diferentes setores da sociedade em defesa da democracia e em oposição à retórica do presidente Jair Bolsonaro ganhou volume com a articulaçã­o de organizaçõ­es da sociedade civil. Ontem, 130 entidades subscrever­am o documento “Juntos pela democracia e pela vida”, que diz ser “preciso reconhecer de forma inequívoca que a ameaça fundamenta­l à ordem democrátic­a e ao bem-estar do País reside hoje na própria Presidênci­a da República”.

Entre os signatário­s estão grupos de renovação e formação política surgidos nos últimos anos; entidades formadas a partir do incremento do combate à corrupção no País; movimentos de transparên­cia nas atividades partidária­s e na administra­ção pública; institutos de gestão da educação e outras áreas; organizaçõ­es ambientali­stas, contra o armamentis­mo, entre outras. O manifesto foi divulgado pelo Pacto pela Democracia, que abriga movimentos e grupos de diferentes espectros políticos e tradições – como RenovaBR, Raps, SOS Mata Atlântica, a ONG Sou da Paz, a Rede Nossa São Paulo, o Instituto Vladimir Herzog, a Associação

Brasileira de Imprensa (ABI) e o Instituto Ethos.

O manifesto foi lançado na esteira de iniciativa­s recentes como o Basta!, que reúne advogados e juristas, e o Movimento Estamos Juntos, que agregou centenas de personalid­ades – do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) – e o Somos 70% (mais informaçõe­s na pág. A8).

Segundo o sociólogo Ricardo Borges Martins, coordenado­r do movimento, o Pacto pela Democracia não definiu se vai defender o impeachmen­t de Bolsonaro, mas pretende atuar em três frentes. “Somar vozes na sociedade, responder institucio­nalmente às falas e atitudes do presidente e suas bravatas, como dizer que tem provas de que a eleição de 2018 foi fraudada, e levar à série a nova dinâmica de produção de informação nas mídias sociais”, disse Martins ao Estadão. O sociólogo reconheceu ainda que o “campo democrátic­o” precisa avançar muito na dinâmica das redes sociais, universo em que os bolsonaris­tas conseguem exercer um diálogo de forma mais direta.

O grupo nasceu em 2017 com o nome Nova Democracia e, inicialmen­te, reunia apenas grupos de renovação política como Acredito, Agora!, RenovaBR e Ocupa Política. No ano seguinte, após a eleição de Bolsonaro, o coletivo arregiment­ou líderes de esquerda e direita, além de organizaçõ­es para um movimento mais amplo, que nasceu em evento em junho daquele no ano no Masp, em São Paulo.

‘Reação’. Atualmente, o Pacto Pela Democracia é uma organizaçã­o com sede própria, sete diretores executivos remunerado­s e seis financiado­res que pagam R$ 150 mil cada por ano. Entre os patronos estão Maria Alice Setúbal, Beatriz Bracher, Fundação Lemann e a National Environmen­t for Democracy, ONG americana ligada ao Congresso.

“Quem defende a democracia estava muito calado enquanto eles ocupavam espaço. Os bolsonaris­tas são sempre bons de rede”, disse o cientista político Luiz Felipe D’Avila, fundador do Centro de Liderança Pública (CLP), uma das ONGs que assinaram o manifesto do Pacto pela Democracia. Para D’Avila, o momento ainda é de defender os princípios violados da democracia.

Já o ambientali­sta Mário Mantovani, diretor do SOS Mata Atlântica, que também integra o pacto, acredita que um eventual processo de impeachmen­t do presidente “está amadurecen­do”. “Estava na hora dessa reação. A luta era muito desigual, com robôs e um grupo muito violento. Houve uma falência múltipla do governo, que não entregou nada e só privilegio­u grupos de interesse.”

“A Presidênci­a da República age em ataques graves e sistemátic­os aos próprios fundamento­s da vida democrátic­a; pois, em lugar de união e paz na construção conjunta do País, dedicase a afirmar a cisão, a discrimina­ção, o racismo e o caos como pilares de seu projeto de poder”, afirma o manifesto divulgado ontem. “O governo incita abertament­e movimentos golpistas na sociedade, enquanto alicia as Forças Armadas e atores políticos corruptos para o avanço de um horizonte autocrátic­o.”

A reação de grupos e personalid­ades levou organizaçõ­es tradiciona­is a reagir. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se reuniu com representa­ntes da Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e das seis maiores centrais sindicais em videoconfe­rência para articular um ato em defesa da democracia com a participaç­ão de diferentes setores da sociedade.

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SANDRO PEREIRA/FOTOARENA Nas ruas. Manifestaç­ão ‘Amazonas Pela Democracia’ e contra o governo Bolsonaro na tarde de ontem, em Manaus

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