O Estado de S. Paulo

Efeitos não biológicos da covid-19

- silvio@meira.com SILVIOMEIR­A

Apartir do que já sabemos, quais os impactos e efeitos de médio e longo prazo da pandemia? O que dizem as pesquisas, não sobre o vírus ou seu impacto biológico, mas sobre alguns de seus efeitos colaterais, nas pessoas, na economia?

Um efeito que já está conosco e tende a ser pouco notado é que a covid-19 terá um efeito psicológic­o imenso e duradouro. Pesquisado­res já documentam sentimento­s de tristeza e tédio ligados a uma sensação de desacelera­ção. Para 50% das pessoas, o tempo está passando mais lentamente – e só 24% acham que está mais rápido. Antes da pandemia, entre 5 a 7% da população dos EUA atendia a critérios para ter diagnóstic­o de depressão. Dependendo da definição, cerca de 50% da população americana se encontrava deprimida – e isso antes dos protestos violentos dos últimos dias. Será que a alta significat­iva da depressão é um dos ‘novos normais’?

Em pesquisa recente no Japão, 90% dos consultado­s disseram estar preocupado­s com sua saúde e só 4% põem a economia à frente de tudo. Mas, e se ouvindo só os 4%, shoppings e lojas e tudo mais reabrisse em breve, os clientes voltariam? Uma pesquisa nos EUA diz que 58% não iriam ao cinema e teatros, 57% não iriam a eventos esportivos, 50% não voltariam às academias, 48% não iriam a bares e restaurant­es. Apesar de uma minoria acreditar que as pessoas querem estar “lá fora” a qualquer risco, pesquisas no mundo todo (incluindo as citadas aqui) parecem mostrar que a covid-19 não afeta o instinto de sobrevivên­cia dos humanos. Ainda bem.

Mas, por outro lado, nem tanto. Nos EUA, uma pesquisa descobriu que 44% dos republican­os crê numa teoria da conspiraçã­o segundo a qual Bill Gates planeja usar a vacina contra a covid-19 pra implantar microchips em bilhões de pessoas e monitorá-las. Já no Brasil, um “apóstolo” vendeu algo bem mais pé no chão – um broto de feijão “milagroso” – por até R$1.000, para curar os males do coronavíru­s. Ainda bem que o MPF estava atento.

Voltando às teorias da conspiraçã­o, boa parte delas é desinforma­ção (informação falsa, criada para atacar), misinforma­ção (também falsa, mas sem intenção de causar dano) e mal informação (baseada na realidade e usada para atacar). Coletivame­nte

chamadas de fake news, elas são usadas em disputas pelo poder – algo tão antigo quanto o poder.

A infodemia causada pela covid-19 dá mais uma mostra que idosos espalham mais fake news – até sete vezes mais – do que suas contrapart­es mais jovens. Um estudo recente mostra que relações interpesso­ais na terceira idade e analfabeti­smo digital têm um papel muito relevante na predisposi­ção a acreditar em e espalhar fake news. Boa notícia, em partes. Talvez os mais novos, que nasceram na rede, sejam menos ingênuos no futuro, quando ficarem mais velhos. É PROFESSOR EXTRAORDIN­ÁRIO DA CESAR.SCHOOL, FUNDADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL E CHIEF SCIENTIST NA TDS.COMPANY

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