O Estado de S. Paulo

País faz captação de US$ 3,5 bi no exterior

O governo aproveitou a melhora no cenário internacio­nal e fez captação de US$ 3,5 bilhões de títulos da dívida externa. Resultado animou a equipe econômica.

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Demanda por papéis com prazo de vencimento de 5 e 10 anos chegou a US$ 18 bi, o que, segundo o governo, seria um sinal de interesse dos investidor­es estrangeir­os por títulos do País; sob impacto dos efeitos da covid-19, juros ficam acima de operação fechada em 2019

O governo brasileiro aproveitou a melhora no cenário internacio­nal para fazer ontem uma captação externa de US$ 3,5 bilhões de títulos da dívida externa, com bônus de 5 anos e 10 anos de prazo de vencimento, de acordo com dados do Tesouro Nacional. A operação teve demanda de até US$ 18 bilhões pelos papéis e animou a área econômica, que viu nisso um sinal de interesse de investidor­es pelos títulos soberanos do País.

Foi a primeira emissão do Brasil depois que a pandemia da covid-19 foi decretada pela Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS) – que aumentou a aversão ao risco global. O governo foi ao mercado internacio­nal num momento em que vários países já estão saindo do isolamento social, com reação positiva nos mercados (mais informaçõe­s nesta página). O custo da operação, no entanto, ficou um pouco maior por causa do prêmio de risco na fase pós-covid-19.

O bônus de 5 anos com vencimento em 2025 foi vendido com taxa de retorno de 3% ao ano. Já o bônus de 10 anos foi emitido com taxa de retorno ao investidor de 4% ao ano, mais alta do que papel com mesmo prazo vendido em novembro do ano passado (a 3,8% ao ano).

Apesar da demanda elevada (US$ 10 bilhões para o bônus de 10 anos e US$ 8 bilhões para o de 5 anos), o governo encurtou o prazo de vencimento da dívida externa. Foi a primeira emissão de um papel da dívida externa de 5 anos desde 2004.

A opção do Tesouro foi não captar num prazo de 30 anos para não “travar” a taxa de juros do papel por um prazo tão longo num momento ainda de grande incerteza. Segundo fontes envolvidas na operação, fazer um lançamento com apenas o prazo de 10 anos poderia aumentar o custo. É que, quanto maior o prazo, maior o custo para o Tesouro. O prêmio de risco teria sido maior, argumentam.

Os investidor­es que compram esses papéis da dívida pública pagam em dólar ou outras moedas, como euro, e até em reais. Na data do chamado resgate, eles recebem de volta o valor pago ao governo brasileiro. Além disso, o Brasil paga juros a esses investidor­es, a cada seis meses ou um ano, dependendo do contrato.

O lançamento de bônus no mercado externo funciona como um leilão: os investidor­es fazem suas propostas de taxa de juros e quantidade de títulos que desejam receber, e o Tesouro aceita ou não essas ofertas. Os pedidos são feitos aos bancos contratado­s pelo Tesouro para liderar a operação.

Maior liquidez. Durante a crise gerada pela pandemia, os bancos centrais e os Tesouros de vários países fizeram operações de estímulo monetário, aumentando a liquidez de recursos circulando nos mercados. Isso gerou um mundo de países mais endividado, com empresas mais endividada­s e recessão. É de esperar, portanto, que toda esta injeção de liquidez aumente a busca por investimen­tos mais atrativos, com rentabilid­ade maior.

O governo viu na emissão uma oportunida­de de mostrar que os investidor­es estrangeir­os continuari­am com apetite pelo Brasil, mesmo num cenário de incertezas políticas e alastramen­to da covid-19. Nas últimas semanas, cresceu a preocupaçã­o dos estrangeir­os com o País, temor que chegou a ser manifestad­o a integrante­s da própria área econômica do governo.

Nos últimos meses, a saída forte de estrangeir­os, que venderam papéis do Tesouro da dívida interna (só em março, a venda foi de R$ 54,59 bilhões), assustou o governo, mas começa a apresentar melhora gradual nas últimas semanas. Ao contrário dos títulos vendidos no mercado doméstico, os bônus lançados no mercado internacio­nal não têm risco da variação cambial nem de conversibi­lidade da moeda.

Para o economista-chefe da BlueLine Asset, Fabio Akira, o movimento de captação tem mais a ver com o interesse dos investidor­es globais por ativos que “ficaram para trás” no rally das últimas semanas do que algo mais específico do Brasil. “Depois do rally das Bolsas de países desenvolvi­dos, os emerging markets ficaram muito defasados e a liquidez continua forte”, afirmou. Na sua avaliação, porém, a “aparente” calmaria política local ajuda nesse momento, mas a percepção é de que o fator externo tem sido prepondera­nte nessa melhora.

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WASHINGTON COSTA/MINISTÉRIO DA ECONOMIA–18/5/2020 Juros. Custo da operação ficou maior pela covid-19

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