Reino Unido se dispõe a abrigar 3 milhões de Hong Kong
Premiê britânico oferece vistos especiais e caminho para obtenção de cidadania e Pequim alerta contra ingerência
A China pediu ontem ao Reino Unido que pare imediatamente qualquer forma de interferência nos assuntos de Hong Kong, após Londres pedir a não aplicação de uma polêmica lei sobre segurança no território semiautônomo. O premiê britânico, Boris Johnson, declarou ontem que o Reino Unido não dará as costas ao povo de Hong Kong.
Johnson disse que o país oferecerá vistos a milhões de cidadãos do território e uma possível via para a obtenção da nacionalidade britânica – cerca de 3 milhões de pessoas podem se beneficiar – caso a China persista com essa lei de segurança nacional. As declarações provocaram a reação do governo chinês.
“Aconselhamos aos britânicos que abandonem sua mentalidade da Guerra Fria, seu espírito colonialista e reconheçam e respeitem o fato de que Hong Kong foi devolvido à China”, afirmou Zhao Lijian, porta-voz da Chancelaria chinesa. “Caso contrário, não farão mais que dar um tiro no pé”, completou, antes de informar que Pequim protestou oficialmente a Londres.
O projeto de lei aprovado pelo Parlamento chinês, que ainda não foi adotado em definitivo, prevê uma punição às atividades separatistas, terroristas, subversivas e à interferência estrangeira em Hong Kong. Reino Unido, EUA, Austrália e Canadá expressaram o temor de que a lei limite a autonomia de Hong Kong.
“Ainda há tempo para que a China reflita, se afaste do precipício, respeite a autonomia de Hong Kong e suas obrigações, assim como suas obrigações internacionais”, afirmou na terça-feira o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab.
Em um artigo publicado nos jornais Times of London e South China Morning Post, Johnson argumentou que muita gente em Hong Kong teme que sua vida, que a China se comprometeu a defender, esteja ameaçada. “Se a China continuar justificando esses medos, o Reino Unido não poderá, com a consciência tranquila, dar de ombros e olhar para o outro lado. Em vez disso, cumpriremos nossas obrigações e ofereceremos uma alternativa.”
“Hong Kong tem sucesso porque seu povo é livre”, escreveu Johnson, argumentando que a nova lei poderá destruir uma das joias da economia asiática e arruinar a reputação chinesa. “Se a China prosseguir, o faria em conflito direto com suas obrigações da declaração conjunta, um tratado de cumprimento obrigatório registrado nas Nações Unidas”, disse, referindo-se ao acordo firmado em 1984. Johnson repetiu a promessa de proporcionar aos portadores de passaportes de Cidadãos Britânicos no Exterior de Hong Kong um caminho para a obtenção da cidadania britânica, o que lhes permitiria se estabelecer no Reino Unido.
Cerca 350 mil pessoas de Hong Kong têm passaportes nacionais britânicos (internacionais), razão pela qual não precisam de visto para permanecer no Reino Unido por até seis meses. Outros 2,5 milhões poderiam solicitar um. Hong Kong foi devolvida à China em 1997 após mais de 150 anos sob controle britânico.