O Estado de S. Paulo

O rali da Bolsa

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Muita gente olha para a disparada da Bolsa e balança a cabeça: o mercado de ações não deve refletir a economia? Se a economia está nesse deus nos acuda, com as contas públicas aos cacos, grande número de empresas com o caixa parado e à beira da insolvênci­a, como explicar esse rojão? Pura especulaçã­o?

Não há uma única explicação para o sucesso da Seleção de 70 – e lá se vão 50 anos. A conquista do tri foi o resultado de vários fatores positivos, que agora os comentaris­tas esportivos vêm analisando, cada um com sua carga de saudades. O momento da Bolsa também não tem explicação única.

A começar pela mola que existe (dizem) no fundo do poço. Em apenas três semanas a partir de março, a Bolsa havia despencado 40% (veja o gráfico), empurrada pelo efeito manada, quando prevalecia o medo da pandemia e seus efeitos sobre a economia. Esta alta tem a ver com um movimento dialético que busca a volta do equilíbrio, que ninguém sabe onde está.

Outra catapulta é o afundament­o dos juros no mercado interno. A Selic (juros básicos) está no seu piso histórico de 3,0% ao ano, com perspectiv­a de cair ainda mais. O Banco Central já avisou que, na próxima reunião do Copom (dia 16), cairá mais 0,75 ponto porcentual, para 2,75% ao ano. Com o estancamen­to da demanda, a inflação foi para o negativo e deve continuar aí. O mercado entende que, até o fim deste ano, a Selic estará a 2,25%, como ficou mostrado na última segunda-feira pelo Boletim Focus, do Banco Central. Estamos falando de números que apontam para um rendimento líquido também negativo para a maioria das aplicações de renda fixa, desde que se coloquem nos cálculos a inflação e os juros rastejante­s, mais as garfadas da taxa de administra­ção e do Imposto de Renda. Ou seja, o administra­dor de um patrimônio está sendo empurrado para as aplicações de risco. A Bolsa reflete o aumento de demanda por seus ativos.

E há o retorno à atividade econômica nos países avançados, especialme­nte nos Estados Unidos e na Europa, depois de quase três meses de isolamento social. É a economia mundial voltando a se mexer e isso esparrama alento pelos mercados.

Não se pode desprezar o efeito do enorme despejo de moeda pelos grandes bancos centrais, não ainda para retomada do emprego e da renda, mas, principalm­ente, para manter o mercado irrigado. É natural que uma parcela desses recursos tome o rumo do segmento de risco, especialme­nte o das ações. A Bolsa brasileira está sendo beneficiad­a com isso porque grande número de papéis de empresas brasileira­s está sendo negociado nas bolsas internacio­nais. O que acontece por lá acaba tendo impacto também por aqui.

Há boa dose de lógica nesses fatos. Embora os juros devam continuar muito baixos e, portanto, estimuland­o as aplicações de risco, não dá para, a partir daí, contar com trajetória­s firmes dos preços das ações nos próximos meses. A Bolsa é de se antecipar. Em março antecipou-se aos efeitos do coronavíru­s e agora, à recuperaçã­o lá fora. Em seguida, poderá olhar para o que foi destruído e para as novas incertezas e será outro movimento.

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