O Estado de S. Paulo

Produção industrial cai 18,8% em abril.

Foi o pior resultado da série história da pesquisa feita pelo IBGE, iniciada em 2002; de 26 setores, 22 registrara­m queda de atividade

- Daniela Amorim Vinicius Neder / RIO

A pandemia do novo coronavíru­s provocou uma perda recorde na indústria brasileira em abril. Em meio a medidas de isolamento social e paralisaçã­o de fábricas, a produção despencou 18,8% em relação a março, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Foi a maior queda da série histórica da sondagem, iniciada em 2002. Segundo o IBGE, houve reduções em 22 das 26 atividades pesquisada­s, sendo que 15 delas nunca operaram em patamar tão baixo.

O destaque negativo em abril foi a indústria automobilí­stica, que despencou 88,5% ante março, devido a paralisaçõ­es e interrupçõ­es de várias unidades produtivas. Em dois meses de perdas, a atividade de veículos encolheu 91,7%. Houve redução na produção de automóveis, mas também de caminhões, ônibus, carroceria­s e autopeças.

Outras reduções recordes na produção ocorreram nos setores de bebidas, têxteis, calçados, derivados de petróleo e eletrônico­s, entre outros.

Na direção oposta, a pandemia impulsiono­u a fabricação de produtos alimentíci­os (3,3% ante março), produtos farmoquími­cos e farmacêuti­cos (6,6%) e perfumaria, sabões e produtos de limpeza (1,3%). Segundo André Macedo, gerente da Coordenaçã­o de Indústria do IBGE, os setores foram impulsiona­dos por hábitos de consumo decorrente­s das medidas de isolamento social, com maior demanda por alimentos para consumo no domicílio e produtos de higiene e limpeza.

Macedo observou também que, “dado o aumento no número de óbitos em função da pandemia”, houve um aumento na produção de caixões. Além de caixões, a indústria também produziu mais seringas, agulhas, cateteres, gorros e máscaras protetoras, desinfetan­te, detergente, sabão, papel higiênico, fralda descartáve­l, instrument­os e aparelhos para transfusão de sangue.

‘Medo’. Em nota, o Instituto

de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial ((Iedi) disse que o mês foi marcado por um “quadro de elevado medo e incerteza”. “Contribuír­am para tanto (para a queda do indicador) as medidas de isolamento social, mas também a queda acentuada das exportaçõe­s de manufatura­dos, rupturas de cadeias de fornecedor­es e o quadro de elevado medo e incerteza, bloqueando decisões de investimen­to e de consumo de muitos bens industriai­s”, afirmou a entidade.

O tombo já era esperado, mas a fraqueza da demanda e a lentidão do governo na implementa­ção de medidas para mitigar a crise lançam preocupaçõ­es sobre a retomada, disse José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast, entidade que representa a indústria do plástico, e segundo vice-presidente da Fiesp.

Segundo ele, a fraqueza da demanda já é a maior preocupaçã­o agora, tendo em vista que boa parte da indústria conseguiu adotar protocolos de restrição nos contatos sociais para evitar a propagação do novo coronavíru­s nas fábricas. “A demanda caiu não só porque as pessoas não queriam comprar, mas porque não tinham como comprar. As empresas que tinham e-commerce cresceram”, afirmou Roriz Coelho.

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