O Estado de S. Paulo

País negocia possibilid­ade de fazer vacina de Oxford

Acordo com empresa permitiria que a produção brasileira abastecess­e toda a América Latina; Unifesp já coordena a testagem no Brasil

- Roberta Jansen / RIO

O Brasil negocia para se tornar um dos produtores mundiais da vacina contra a covid-19 que está sendo desenvolvi­da pela Universida­de de Oxford e a AstraZenec­a. A produção brasileira abasteceri­a a América Latina e colocaria o país na dianteira entre os que receberão a vacina, caso ela seja aprovada nos testes. A AstraZenec­a está fechando outros acordos para a produção de 1,7 bilhão de doses.

O Brasil está em negociaçõe­s para se tornar um dos produtores mundiais da vacina contra a covid-19 que está sendo desenvolvi­da pela Universida­de de Oxford em parceria com a AstraZenec­a. A produção brasileira abasteceri­a toda a América Latina. O acordo do governo com a iniciativa privada colocaria o país na dianteira, em um momento em que corria o risco de estar no fim da fila da vacina.

A AstraZenec­a anunciou ontem que já fechou acordos internacio­nais para a produção de 1,7 bilhão de doses e segue em busca de novos parceiros. Os acordos já firmados são com o Reino Unido, os Estados Unidos, a CEPI (Coallition for Epidemic Preparedne­ss Innovation­s), a Aliança de Vacinas (Gavi) e o Instituto Serum, da Índia. Mas ainda há uma capacidade adicional de produção de 300 milhões de doses para alcançar o objetivo de ter um ponto de partida de 2 bilhões de doses. Para além dessa meta inicial, o objetivo é continuar buscando parceiros.

“Já há negociaçõe­s com diferentes governos de diferentes países, entre eles o Brasil”, afirmou a infectolog­ista brasileira Sue Ann Clemens, diretora da Iniciativa Global de Saúde da Universida­de de Siena e pesquisado­ra da Unifesp, que está coordenand­o os centros de testagem da vacina no Brasil. “Essa é uma oportunida­de muito grande para o nosso país não só no campo da pesquisa clínica, mas também na produção de imunizante­s.”

Para a pesquisado­ra, tanto o Instituto Butantã, em São Paulo, quanto a Fiocruz, no Rio, têm plena capacidade e reconhecim­ento internacio­nal para produzir as vacinas necessária­s não só para o Brasil como para toda a América Latina. A grande vantagem de se ter uma produção local, segundo Clemens, para além da transferên­cia de tecnologia, seria o acesso mais fácil e mais rápido ao imunizante. “Até meados do ano que vem já teríamos a vacina pronta para ser aplicada”, afirmou a infectolog­ista, que também é consultora da Fundação Bill e Melinda Gates para imunizante­s.

O Brasil estava sob o risco de ser um dos últimos a ter acesso a vacina. As decisões polêmicas do governo de Jair Bolsonaro sobre a hidroxiclo­roquina e as medidas de isolamento, bem como as trocas dos ministros da Saúde, fizeram com que o país sequer fosse convidado para o lançamento da “Colaboraçã­o Global para Acelerar o Desenvolvi­mento, Produção e Acesso Equitativo a diagnóstic­os, tratamento e vacina contra o covid-19”, no fim de abril, na Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS).

O acordo privado pode alterar essa circunstân­cia. Segundo a pesquisado­ra, ao Brasil também foi oferecida a primazia na compra de doses da vacina. “Essa foi uma das primeiras perguntas que eu fiz para o Andrew

(Pollard, que coordena o desenvolvi­mento da vacina de Oxford), quando ele me ligou, pedindo que fizesse a ponte para fazermos testes no Brasil: se teríamos acesso prioritári­o”, contou Clemens. “Ele respondeu que isso estava em discussão, mas que a capacidade de produção deles era limitada. Depois disso, no entanto, eles firmaram o acordo com a AstraZenec­a, ampliando a capacidade de produção. Sei que o Brasil já tem em mãos uma ordem de compra e que foi um dos primeiros

países abordados para a possibilid­ade de produção local.”

Das mais de 100 vacinas contra a covid-19 em desenvolvi­mento hoje no mundo, a de Oxford é a que está na fase mais avançada das testagens, a 3, que vai aferir a eficácia do imunizante em pelo menos 10 mil pessoas. A meta dos pesquisado­res é conseguir antes do fim deste ano um registro provisório da vacina e um sinal verde dos órgãos reguladore­s para seu uso em caráter emergencia­l.

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DADO RUVIC/ILLUSTRATI­ON/REUTERS-10/4/2020 Imunizante. Expectativ­a é de, em caso de sucesso, obter doses aplicáveis até meados de 2021, segundo infectolog­ista

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