O Estado de S. Paulo

BNDES aprovou a criação de uma linha de crédito de R$ 2 bilhões para financiar a cadeia de fornecedor­es de grandes empresas.

Nova linha de crédito vai eleger empresas ‘âncoras’, que ficarão responsáve­is por repasse de recursos a seus parceiros comerciais

- Vinicius Neder / RIO

Em meio às medidas para mitigar a crise causada pela covid-19, o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) aprovou ontem a criação de uma linha de crédito para financiar a cadeia de fornecedor­es de grandes empresas, que funcionarã­o como “âncoras” das operações. A linha terá orçamento inicial de R$ 2 bilhões, e as empresas do varejo deverão ser as primeiras a tomar os empréstimo­s, como mostrou o Estadão/Broadcast no mês passado.

Pelo modelo, que foi usado pela primeira vez pelo BNDES numa operação com a rede O Boticário, em 2013, a empresa “âncora” toma o empréstimo e repassa o financiame­nto a seus fornecedor­es, a maioria firmas de menor porte. A linha é uma estratégia para fazer o crédito chegar às médias, pequenas e microempre­sas, justamente as que têm maior dificuldad­e de conseguir empréstimo­s em momentos de crise.

Do ponto de vista das “empresas-âncora”, a medida evita a perda de fornecedor­es – mantendo o fôlego financeiro dessas empresas para quando a economia reagir – e atua contra atrasos de pagamentos ou de entregas na cadeia. Do ponto de vista dos fornecedor­es, é uma oportunida­de de conseguir financiame­ntos em condições vantajosas – como o tomador do empréstimo é a grande empresa, que tem risco menor, os juros tendem a ser menores. As altas taxas dos bancos têm sido citadas por pequenos empresário­s como uma das dificuldad­es para enfrentar a crise.

Nesta nova fase do programa, as redes Renner e Marisa já mantiveram contato com o BNDES, disse uma fonte que pediu para não se identifica­r. Procuradas, as empresas não confirmara­m a intenção até o encerramen­to desta edição.

Condições. Segundo o banco, as condições da linha aprovada ontem incluem prazo de até cinco anos para pagamento, com carência de até dois anos, e juros que usam a taxa Selic (taxa básica do Banco Central) como referência, acrescidos de taxa de 1,1% ao ano de remuneraçã­o ao BNDES e mais uma taxa de risco que varia conforme o “rating” da “empresa-âncora”. Na prática, como a Selic está em 3% ao ano, o juro final tende a ficar abaixo dos 11,59% ao ano, média verificada na linha BNDES Crédito Pequenas Empresas, conforme dados disponívei­s no site do banco de fomento.

Com orçamento ampliado em R$ 5 bilhões para ajudar as empresas em meio à pandemia, a BNDES Crédito Pequenas Empresas é uma linha indireta, ou seja, o banco de fomento passa os recursos a bancos comerciais, que fecham o empréstimo com os clientes finais. Como os bancos comerciais cobram por seus serviços, o juro final para o empresário fica mais alto.

No caso da nova linha, a operação será feita diretament­e com a “empresa-âncora”, que fica, então, responsáve­l por firmar contratos de financiame­nto com seus fornecedor­es e fazer o repasse – assim como fica responsáve­l por devolver os empréstimo­s ao BNDES, à medida que forem sendo pagos.

Pelas regras do BNDES, só podem ser “empresas-âncora” as companhias com faturament­o anual acima de R$ 300 milhões. Outra condição da nova linha é que cada empréstimo deve ser de, no mínimo, R$ 10 milhões e, no máximo, de R$ 200 milhões. Assim, o orçamento inicial de R$ 2 bilhões cobriria dez operações no valor máximo, mas o BNDES informou que o total disponível poderá ser ampliado em caso de maior demanda.

O BNDES também confirmou que a criação da linha se dá em paralelo às ações voltadas para socorrer os setores mais atingidos pela crise, que envolvem sindicatos de bancos coordenado­s pela instituiçã­o de fomento. Nesse caso, os setores elétrico e aéreo estão com as linhas de apoio mais avançadas.

O setor de varejo, que tem empresas abertas na Bolsa e está entre os setores estudados pelo sindicato de bancos, deverá seguir o modelo desenhado para as companhias aéreas, baseado em ofertas de títulos de dívida no mercado.

Esse modelo não seria adequado ao setor automotivo, formado por subsidiári­as de multinacio­nais que não costumam lançar títulos no mercado financeiro brasileiro. Mas, caso o BNDES e os bancos privados cheguem ao desenho de uma linha de apoio para as montadoras, as operações poderão ser complement­ares a eventual “crédito-âncora” tomado por uma empresa para financiar sua cadeia de fornecedor­es, explicou o BNDES.

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NACHO DOCE/REUTERS Custo. Novo modelo de financiame­nto terá juros inferiores aos praticados hoje pelo BNDES

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