O Estado de S. Paulo

Mulher é autuada por morte de filho da empregada

Menino de 5 anos foi deixado sozinho em elevador e acabou caindo do 9º andar; mãe vê negligênci­a

- Vinícius Brito / RECIFE ESPECIAL PARA O ESTADO

Um menino de 5 anos morreu após cair do 9.º andar de um prédio de luxo no Recife, onde a mãe trabalhava como doméstica. A patroa, com quem a criança ficou quando a mãe saiu para passear com o cachorro da família, foi autuada por homicídio culposo.

O menino Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morreu após cair do 9.º andar, em uma altura de cerca de 35 metros, do Edifício Píer Maurício de Nassau, condomínio de luxo no bairro de São José, no Recife, onde a mãe dele trabalhava como empregada doméstica. A patroa, que não teve nome divulgado, foi autuada por homicídio culposo (sem intenção de matar). Presa em flagrante, foi conduzida à Polícia Civil, onde pagou R$ 20 mil em fiança para responder ao inquérito em liberdade. O prazo para concluir a investigaç­ão é de 30 dias, a depender das apurações.

Conforme a Polícia Civil, a criança caiu do edifício após ter sido deixada pela mãe, Mirtes Renata Souza, sob responsabi­lidade da patroa, enquanto saía para passear com o cachorro da família. Enquanto a mãe estava fora, o menino tentou entrar duas vezes no elevador e, depois, teve acesso ao 9.º andar do prédio. Na área, ficava uma caixa de condensado­res de aparelhos de ar-condiciona­do sem tela de proteção.

Em imagens de câmeras de segurança do prédio obtidas pela TV Globo, é possível ver a patroa falar com a criança e, por fim, permitir que o menino entre sozinho no elevador. Conforme a gravação, ela chega a aproximar a mão do botão do elevador onde ficam os andares mais altos do prédio, antes que a porta se feche. “A gente observa que ela (a patroa) aperta um outro andar superior ao apartament­o em que residia e a criança acaba, de forma inesperada pela investigaç­ão, a ficar só no elevador. Ela sobe, para no primeiro andar e depois, ao abrir a porta do 9.º andar, desembarca”, disse o delegado da Delegacia Seccional de Santo Amaro, Ramon Teixeira.

Ontem, a empregada doméstica Mirtes Renata Souza, mãe de Miguel, declarou à TV Globo que era funcionári­a do prefeito de Tamandaré (PE), Sérgio Hacker (PSB), e da mulher dele, Sari Corte Real, que teria sido a responsáve­l por cuidar de Miguel enquanto a mãe passeava com o cachorro. A informação não foi confirmada pela Polícia Civil nem pela prefeitura de Tamandaré.

“Ela confiava os filhos dela a mim e a minha mãe. No momento em que confiei meu filho a ela, infelizmen­te ela não teve paciência para cuidar, para tirar (do elevador). Eu sei, não nego para ninguém: meu filho era uma criança um pouco teimosa, queria ser dono de si e tudo mais. Mas assim, é criança. Era criança”, disse Mirtes à TV.

O delegado afirma que a morte, em decorrênci­a da queda, foi acidental. “O que restava identifica­r era a responsabi­lidade de alguém pelo fato de aquela criança ter ficado só.”

“Sendo a morte resultado de um homicídio culposo, um crime para o qual a nossa legislação confere o arbitramen­to de fiança, é um direito subjetivo da pessoa autuada, pelo menos juridicame­nte falando, e o arbitramen­to da fiança no valor de R$ 20 mil, quando pago, nos fez conceder a liberdade provisória”, concluiu o delegado.

Protesto. Inconforma­da com o andamento da investigaç­ão, Amanda Kathllen da Costa, sobrinha de Mirtes Renata, está organizand­o um protesto para cobrar justiça pelo caso. A manifestaç­ão está marcada para hoje às 15 horas, em frente ao edifício. “Disseram que foi acidente, a gente estranhou o fato de não ter as imagens (de câmeras do elevador), só mostraram Miguel saindo do elevador. Depois, veio a imagem da patroa que colocou ele sozinho no elevador, porque Miguel aperreou querendo a mãe dele. Ela apertou o (botão do) elevador, deixou sozinho e aconteceu essa fatalidade”, diz Amanda. “Imagina se fosse minha tia fazendo o contrário.” Amanda confirmou que Mirtes trabalhava para Sérgio Hacker e Sari Corte Real.

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FACEBOOK Tragédia. Miguel caiu de uma altura de 35 metros; inconforma­da, a família da vítima planeja protesto para cobrar justiça

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