O Estado de S. Paulo

Pais trocam colégio privado por público

Rede de SP já registra 2.388 transferên­cias; Paraná tem migração ainda mais expressiva

- Renato Vieira Angelo Sfair ESPECIAL PARA O ESTADO/ CURITIBA

A crise tem feito alunos deixarem escolas particular­es. Em São Paulo, foram 2.388 transferên­cias para colégios estaduais em abril e maio, ante 219 em 2019.

Com a crise econômica potenciali­zada pela pandemia, o Pais já têm transferid­o alunos de escolas particular­es para a rede pública. A Secretaria de Educação paulista registrou 2.388 transferên­cias de alunos da rede privada para colégios estaduais em abril e maio, ante 219 no mesmo período do ano passado. No Paraná, mais de 8,4 mil alunos da rede privada migraram para a estadual desde março. Especialis­tas dizem que o movimento deve crescer nos próximos meses e defendem planejamen­to da rede pública para receber demanda extra.

O governo paulista criou agora a possibilid­ade de matrículas para o atual ano letivo – as de 2021 ainda não estão abertas – serem feitas no site sed.educacao.sp.gov.br. O governo estadual ainda discute plano para retomar aulas presenciai­s só em agosto, com 20% dos alunos e ações sanitárias.

Segundo Thiago Cardoso, coordenado­r da Coordenado­ria de Informação, Tecnologia, Evidências e Matrícula da pasta, o fenômeno é recente e por isso dados socioeconô­micos e a etapa escolar dos novos alunos não foram levantados. Mas ressalta que o movimento foi bem mais expressivo na capital.

A rede pública do Estado tem cerca de 3,4 milhões de alunos, 1 milhão a mais que a estimativa da rede privada. Cardoso afirma que as diretrizes logísticas e pedagógica­s das escolas públicas não devem ser modificada­s por causa da migração. “Por mais que o aumento seja significat­ivo, a rede pública é maior em número de escolas e alunos do que a rede privada. Essa quantidade de transferên­cias não impacta. Teria de ter uma migração muito maior.”

No Paraná, a rede estadual afirma ter matriculad­o alunos em turmas que podem receber a demanda extra. Os dois filhos do casal Daniel de Lara e Karine Carvalho, donos de uma panificado­ra em Curitiba, fazem parte desse grupo. “Nosso faturament­o familiar caiu 60% no começo da pandemia e agora o momento é muito instável. Tem dia que vende bem, mas há aqueles em que não vendemos nada”, conta a empresária, mãe de crianças de 8 e 10 anos.

Por enquanto, os novos alunos assistem às classes pelos sistemas online, criados para manter atividades durante a pandemia. “O Paraná tem 35 mil salas de aula físicas, que recebem 10 aulas por dia e totalizam, no Estado,

350 mil aulas diariament­e. Todas as aulas foram recriadas para que os alunos possam receber o conteúdo dos professore­s que já conheciam”, disse ao Estadão o secretário de Educação, Renato Feder.

Desafios. A tendência de migração pode se acentuar se a crise continuar aguda, diz a pedagoga Anna Helena Altenfelde­r, superinten­dente do Centro de

Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitári­a (Cenpec). Para ela, é preciso que a rede pública tenha, além da capacidade de absorver alunos, planejamen­to relativo ao tamanho da turma, sobretudo pela demanda de distanciam­ento social motivada pela covid.

Outra preocupaçã­o de especialis­tas é sobre a educação infantil. Como a educação não é obrigatóri­a entre zero e 3 anos,

a crise financeira pode tirar muitas crianças da escola, considerad­a crucial no desenvolvi­mento infantil.

Segundo Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabeleci­mentos de Ensino de São Paulo, a estimativa de inadimplên­cia de mensalidad­es em maio deve chegar a 30%. Em abril, havia sido 20%. Silva conta que os pequenos colégios privados são os que sofrem mais com a falta de pagamento e a perda de alunos. “O caixa das escolas está zerado e as pequenas estão com dificuldad­es para acessar linhas de crédito.”

Silva lembra que a classe C, que tem maior participaç­ão no ensino privado desde os anos 2000, deve ficar mais prejudicad­a. “Alguns perderam emprego e outros são autônomos. Se não houver ajuda do governo para essas famílias, muitas escolas fecharão e haverá uma multidão na porta das escolas públicas.”

Diane Cundiff, diretora-geral do Colégio Santa Maria, na zona sul paulistana, acredita que pequenas escolas correm risco, já que os alunos de colégios caros são de famílias com mais poder aquisitivo. No Santa Maria, há um seguro, que pode ser usado caso o responsáve­l pelo aluno seja demitido. Muitos dos pais, porém, têm negócio próprio e perderam grande parte da renda. “A escola está entrevista­ndo família por família e tentando ajudar, dando algum desconto durante a pandemia.”

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DIEGO HERCULANO / ESTADÃO–30/8/2018 Desafios. Especialis­tas veem riscos para sobrevivên­cia de pequenas escolas particular­es

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