O Estado de S. Paulo

Em depoimento por escrito à PF, ministro da Educação negou racismo em postagem sobre a China e fez críticas ao Partido Comunista chinês.

Investigad­o por post considerad­o ofensivo a chineses, ministro também faz críticas a Partido Comunista

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O ministro da Educação, Abraham Weintraub, atacou o Partido Comunista Chinês e alegou “liberdade de expressão” em depoimento por escrito entregue à Polícia Federal ontem, no inquérito que apura suposto crime de racismo. Segundo o ministro, as publicaçõe­s questionad­as na investigaç­ão eram críticas ao governo chinês, uma “ditadura comunista que despreza os princípios que regem uma democracia liberal”, e não ao povo do País.

“Não é possível que se afirme que a postagem se dirigiu a um povo. O que quer que o PCC (Partido Comunista Chinês) faça não pode ser tido como expressão da vontade popular chinesa, uma ditadura comunista, campeã de violações aos direitos humanos, o que inclui até mesmo genocídio em décadas passadas”, escreveu Weintraub.

O ministro é investigad­o por racismo após publicar um tuíte em que insinuou que a China vai sair “fortalecid­a da crise causada pelo coronavíru­s, apoiada por seus ‘aliados no Brasil’”. A publicação usou personagen­s da Turma da Mônica na Muralha da China e substituiu a letra “r” pelo “l”, para fazer referência ao modo de falar do personagem Cebolinha, o que foi visto como tentativa de ridiculari­zar os chineses. Segundo Weintraub, o uso da linguagem e da imagem dos personagen­s de quadrinhos foi para dar “humor” à publicação.

No documento, o ministro diz ainda que a imputação de crime decorre de “interpreta­ção extensiva” baseada em “sensibilid­ades de determinad­os grupos sociais”. “Não se pode imputar um crime nessas circunstân­cias, sob pena de se revogar um princípio e direito maior constituci­onal, que é a liberdade de expressão”, escreveu. “Onde está a discrimina­ção ou preconceit­o? Há apenas referência a um governo.”

O pedido de investigaç­ão partiu do vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, ao vislumbrar que o ministro “teria veiculado manifestaç­ão depreciati­va, com a utilização de elementos alusivos à procedênci­a do povo chinês”. Após a postagem de Weintraub, a Embaixada da China no Brasil repudiou a publicação. “Tais declaraçõe­s são completame­nte absurdas e desprezíve­is, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influência­s negativas no desenvolvi­mento saudável das relações bilaterais China-Brasil.”

Ao deixar o prédio da PF ontem, o ministro foi carregado nos braços por apoiadores que o aguardavam. “A liberdade é a coisa mais importante em uma democracia e a primeira coisa que vão tentar calar é a liberdade de expressão. Obrigado pelo apoio, gente”, disse Weintraub, usando um megafone.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Apoiadores. Ministro é recebido após deixar prédio da PF

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