O Estado de S. Paulo

TCU vê indício de fraude em acordos de R$ 500 milhões

Força-tarefa encontra suspeita de irregulari­dade em 55 contratos de empresas de tecnologia com governo federal e vê risco de corrupção

- Patrik Camporez Breno Pires / BRASÍLIA

Uma força-tarefa do Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou indícios de fraudes em 55 contratos firmados pelo governo federal com empresas de tecnologia da informação desde 2017. Juntos, os acordos custaram R$ 500 milhões. Entre as irregulari­dades detectadas pelo grupo estão falta de justificat­iva para as contrataçõ­es e ausência de detalhamen­to do serviço que seria prestado pela empresa, o que levou os auditores a apontar um potencial risco de corrupção e desvio de dinheiro.

A investigaç­ão foi iniciada em 31 de julho do ano passado e envolve contratos em 11 ministério­s, incluindo as pastas da Saúde, Cidadania, Educação, Economia e Infraestru­tura, além de 17 órgãos do governo. Nem todos os contratos foram fechados no governo Jair Bolsonaro, mas receberam aditivos ou foram mantidos em vigor pela atual gestão. Do total apontado como suspeito de irregulari­dade, pelo menos R$ 100 milhões ainda estavam vigentes em março de 2020.

O TCU verificou que em nenhum dos 55 contratos era possível calcular o custo real dos serviços prestados, pois não houve justificat­iva técnica ou econômica para a contrataçã­o da empresa. Sem essas informaçõe­s, os órgãos de controle não conseguem saber se os acordos atendem aos critérios mínimos de economicid­ade.

Outro problema constatado pelos auditores é que 83% dos contratos não tinham o detalhamen­to dos serviços para os quais determinad­a empresa foi contratada. Essa “fragilidad­e”, na avaliação dos auditores, facilita o possível desvio de recursos.

Preços. Ainda segundo o TCU, 94% das contrataçõ­es não possibilit­aram avaliação da razoabilid­ade dos preços. “Ou seja, os preços praticados não tinham comparabil­idade com a vida real”, afirma trecho do relatório técnico do órgão.

Nos contratos objeto de apuração, os técnicos do TCU identifica­ram situações que eles considerar­am como “exemplares” do mau uso do dinheiro público. Um dos contratos, por exemplo, previa pagamento de R$ 423 pela substituiç­ão de um cabo de rede, R$ 879 pela instalação de um aparelho telefônico (apenas o serviço), R$ 1.242 pela liberação da ferramenta online WhatsApp Web (o que significa desbloquea­r o firewall da rede, serviço feito remotament­e) e R$ 961 para cadastrar um usuário na rede. O custo total deste contrato era de R$ 32 milhões.

Os auditores propõem, agora, que o tribunal notifique o Ministério da Economia para que a pasta adote uma série de medidas, como a edição de normas de controle e portarias para evitar fraudes na área. Em caso de suspeitas de corrupção, as informaçõe­s são repassadas à Polícia Federal.

Em nota, a secretaria de Governo Digital do Ministério da Economia afirmous que orienta os 220 órgãos do Sistema de Administra­ção dos Recursos de Tecnologia da Informação (SISP) sobre diretrizes e práticas legais recomendáv­eis nas contrataçõ­es da área de TI. “Todos os órgãos da administra­ção pública federal são autônomos para realizar contrataçõ­es e gerir seus contratos administra­tivos, e estão submetidos à fiscalizaç­ão dos órgãos de controle”, diz o texto. Procurados, Casa Civil e Palácio do Planalto não se manifestar­am até a conclusão desta edição.

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MARCOS OLIVEIRA/AGENCIA SENADO-9/8/2019 TCU. Apuração mira contratos na Saúde, Cidadania, Educação, Economia e Infraestru­tura

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