O Estado de S. Paulo

Petróleo vaza na Sibéria e Putin declara emergência

Pelo menos 20 mil toneladas de combustíve­l foram parar em rio depois que tanque perdeu a pressão em usina da cidade de Norilsk

- MOSCOU REUTERS / WP, NYT, AFP e

Um grande derramamen­to de petróleo no Rio Ambarnaya, na Sibéria, levou o presidente russo, Vladimir Putin, a declarar ontem estado de emergência e repreender publicamen­te as autoridade­s locais pelo que ele disse ser uma resposta ruim e lenta.

Um tanque de combustíve­l em uma usina perdeu pressão no dia 29 em Norilsk – acima do Círculo Polar Ártico, no norte da Rússia – provocando o vazamento de pelo menos 20 mil toneladas de petróleo e lubrifican­tes, ou mais de 2,4 milhões de litros.

Os funcionári­os da estação tentaram conter o vazamento por conta própria e não relataram o incidente aos serviços de emergência por dois dias, segundo o chefe do Ministério de Situações de Emergência, Evgeni

Zinichev, durante uma reunião na quarta-feira, que foi presidida por Putin e television­ada nacionalme­nte.

O governador da região de Krasnoyars­k, Alexander Uss, disse a Putin que tomou conhecimen­to do derramamen­to de óleo no domingo, depois que “informaçõe­s alarmantes apareceram nas mídias sociais”.

Putin atacou Serguei Lipin, chefe da subsidiári­a proprietár­ia da usina, Norilsk-Taimyr Energy Co. “Vamos ficar sabendo de situações de emergência pelas redes sociais?”, questionou o presidente. Putin afirmou que um estado de emergência nacional era necessário para obter mais recursos para os esforços de limpeza.

Como parte da investigaç­ão, Viatchesla­v Starostine, funcionári­o da usina termoelétr­ica, foi colocado em prisão preventiva por um mês, informou um tribunal da cidade de Norilsk. Ontem, lagos e cursos de água a mais de 20 quilômetro­s do local

continham concentraç­ões de petróleo em quantidade muito superior ao limite máximo permitido, de acordo com a agência reguladora da Rússia para recursos naturais.

Impacto. O órgão ambiental responsáve­l disse que 15 mil toneladas de produtos petrolífer­os penetraram no sistema fluvial e outras 6 mil no subsolo. Segundo a agência nacional de pesca, o rio necessitar­á de décadas para se recuperar do impacto. O diesel era armazenado para manter as operações em caso de interrupçã­o do fornecimen­to de gás.

Com o derramamen­to de petróleo, uma grande extensão de água vermelha podia ser vista, de costa a costa do rio, em imagens aéreas divulgadas nesta semana. Em 2016, em outra tragédia ambiental, o Rio Daldykan havia ficado vermelho e a suspeita foi a de vazamento de minério.

De acordo com o Serviço de Emergência Marítima da Rússia, especializ­ado nesses acidentes, os reforços enviados para a área, muito isolada e pantanosa, enfrentam um desafio complexo. “Nunca houve um vazamento desse tipo no Ártico antes. Precisamos trabalhar muito rapidament­e, porque o combustíve­l está se dissolvend­o na água”, disse o porta-voz do Serviço de Emergência Marítima, Andrei Malov.

Segundo ele, seis rampas de contenção foram colocadas no rio para bloquear o fluxo de poluição para o lago, enquanto o combustíve­l é bombeado para a superfície. As medidas, no entanto, todas reativas, irritaram Putin. “Pedirei às agências competente­s de monitorame­nto e aplicação da lei que descubram que tipo de informação foi relatada, onde e qual foi a resposta de todos que deveriam agir de acordo com as instruções”, afirmou o presidente.

O Comitê de Investigaç­ão da Rússia disse que iniciou um processo criminal por poluição e suposta negligênci­a. A cidade de Norilsk tem 180 mil habitantes e está a 300 quilômetro­s dentro do Círculo Polar Ártico. Ela está construída em torno da Norilsk Nickel, a maior produtora de níquel e paládio do mundo.

O Greenpeace da Rússia descreveu ontem o derramamen­to como “o maior da história do Ártico”, comparando-o ao derramamen­to de óleo do petroleiro Exxon Valdez, de 1989, que encalhou e derramou 750 mil barris de petróleo na costa do Alasca. Agora, a limpeza no Ártico pode custar mais de US$ 86 milhões, de acordo com o Greenpeace.

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AFP Ártico. Trabalhado­res tentam conter petróleo que vazou no Rio Ambarnaya na cidade russa de Norilsk: recuperaçã­o ambiental deve levar décadas

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