O Estado de S. Paulo

No ministério, bilionário defende uso preventivo da substância

Empresário diz que em 30 dias será possível ver avanços com o uso do polêmico medicament­o no Brasil

- Mateus Vargas / BRASÍLIA

De malas prontas para assumir um cargo no Ministério da Saúde, o empresário Carlos Wizard defende o uso de coquetel de medicament­os, incluindo a cloroquina, para pacientes como forma de prevenir o novo coronavíru­s. Ao Estadão, ele usou como exemplo o coquetel adotado em Porto Feliz, interior de São Paulo.

“Precisa ter mais evidência do que uma cidade com 75 mil habitantes, com mais de 500 infectados e sem nenhum óbito?”, questionou Wizard.

A reportagem levantou, porém, que a informação não é correta. Oficialmen­te, a cidade de 51.928 habitantes registra 60 casos positivos e 3 óbitos pela doença. A vizinha Salto, com o dobro da população – 104.688 moradores –, que não adota o medicament­o, tem 64 casos e apenas uma morte. Em Porto Feliz, o uso da hidroxiclo­roquina associada a outros medicament­os começou no início de abril, bem antes do protocolo de 20 de maio do Ministério da Saúde, liberando para pacientes com sintomas leves.

• Como o senhor pretende contribuir para o enfrentame­nto da pandemia do coronavíru­s? Comecei a fazer primeiras reuniões com principais diretores da secretaria. São 600 funcionári­os, entre servidores, bolsistas e consultore­s. E um orçamento de R$ 20 bilhões. O Ministério da Saúde não trabalha sozinho. Trabalhamo­s diretament­e ligados aos secretário­s de cada Estado e município. A comunidade internacio­nal está muito preocupada em oferecer vacina para covid-19. Estamos já em contatos avançados com Oxford.

• Qual a sua visão sobre o uso da cloroquina como tratamento? Qual nossa orientação, em nota técnica distribuíd­a a secretário­s de Estados e municípios? Com base em estudos feitos no Brasil, e internacio­nalmente, em centenas de países, que comprovada­mente indicaram que a cloroquina e a hidroxiclo­roquina preservam a vida, na fase 1 da covid-19, logo que paciente demonstra primeiros sinais. Os resultados são muito satisfatór­ios. No ministério antigo, no tempo do Mandetta, diziam: se você está com febre leve, fica em casa. E as pessoas ficavam. Essa conduta trouxe milhares de pessoas a óbito. Elas ficavam em casa, não recebiam tratamento. A doença evolui. Milhares foram a óbito. Com essa nova orientação técnica estamos salvando vidas.

• Já há dados que mostram melhores resultados após divulgação da mais recente orientação do ministério sobre cloroquina?

Acredito que em 30 dias vai ter uma comparação muito nítida. Do que era, e qual está sendo resposta.

• Em relatórios diários, técnicos da SCTIE não apontam benefício da cloroquina contra a covid-19. Quais estudos comprovam a eficiência?

Não trabalhamo­s com observaçõe­s empíricas. O Ministério da Saúde só toma suas decisões, normativas, com base em estudos científico­s, publicados em revistas especializ­adas na área médica internacio­nal. Estamos trabalhand­o com vidas. Não podemos correr risco. Caso você queira, especifica­mente, vou pedir para a assessora mandar um calhamaço de pelo menos cem estudos comprovado­s internacio­nalmente.

• Pretende ampliar a orientação do ministério sobre cloroquina? Vamos combinar. Você não vai colocar cloroquina, chame de coquetel, conjunto, grupo de vários fármacos que preconizam­os. A resposta é sim. Se um pai de família é diagnostic­ado, quando volta para casa também recomendam­os tratamento profilátic­o para esposa, sogra, filhos, quem estiver no núcleo familiar. Profilatic­amente falando, já recomendam­os sob orientação médica.

 ?? DENNY CESARE/ESTADÃO–29/11/2016 ?? Wizard. ‘Com a orientação, estamos salvando vidas’
DENNY CESARE/ESTADÃO–29/11/2016 Wizard. ‘Com a orientação, estamos salvando vidas’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil