‘CONTEÚDO PRÓPRIO É A SOLUÇÃO INICIAL’
Especialista diz que covid atuou como ‘acelerador’ que ‘obrigou’ times a interagir com os torcedores
O Estadão começa hoje uma série de reportagens semanais sobre a retomada financeira dos clubes. Sem cotas de TV e bilheterias e sem uso de suas arenas, os times precisam encontrar caminhos para salvar suas finanças.
A primeira conversa é com Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing. Ele talvez seja o profissional que mais fecha patrocínios, pontuais ou não, no futebol brasileiro. Atualmente, tem parcerias no futebol com Corinthians, Palmeiras, Santos, Botafogo e Fluminense, e mantém contato com praticamente todos os clubes da Série A.
Wolff vê a pandemia como um “acelerador de tendências” – os clubes precisaram olhar para a produção de conteúdo online. Ele citou como case de sucesso o documentário Last Dance, de Michael Jordan, disponível no Netflix. A partir dele, o eBay, empresa de comércio eletrônico, informou que as vendas de produtos licenciados do Chicago Bulls subiram 5.156%.
• A pandemia vai mudar a maneira de fazer negócios no futebol brasileiro?
Vejo a pandemia como um acelerador de tendências. A questão digital, as redes sociais, ela vem sendo trabalhada mais por alguns clubes do que por outros. Alguns estavam mais preparados para se dedicar às redes sociais e estão nadando de braçada.
Isso não quer dizer que conseguem substituir backdrop, placa de publicidade no CT, faturamento com jogos ao vivo, com o digital. Mas a interação pelas mídias digitais com os torcedores é fundamental para criar novas receitas.
• Os negócios foram muito afetados nesse momento?
Estamos há três meses em gestão de crise. Temos diversos contratos com clubes de futebol e federações.
• Sua projeção de faturamento vai ser afetada com os clubes?
Difícil ainda saber porque tem uma série de variáveis. Não sabemos se todos os campeonatos serão realizados neste ano. O Walter Feldman (secretário-geral da CBF) disse que o Brasileirão deverá ser realizado. Da nossa parte tivemos só uma rescisão até aqui, de uma empresa que saiu do País. Para haver rescisão tem de existir um motivo, um problema na entrega, a quebra da empresa.
• Quais ações te chamaram a atenção no período?
Talvez o melhor exemplo foi o que aconteceu com os produtos licenciados do Chicago Bulls. Um exemplo. Desde que a Netflix lançou o documentário do Michael Jordan, a venda de produtos do Chicago cresceu mais de 5.000%. É um exemplo de como trabalhar conteúdo via streaming e estimular o e-commerce.
• A saída para evitar a crise está no online então?
Sim. É uma saída que se você for ver está sendo feita nas mais diversas áreas. As lives de artistas é uma saída online. A WTorre teve a ideia de fazer o drive-in (no Palmeiras), que não é online. Foi uma ideia segura para gerar receita. O mais importante é fazer algo segmentado e de qualidade. Os clubes têm essa ferramenta. Isso é uma tendência. Produzir conteúdo, vender individualmente aos torcedores.
• Como vê a administração do futebol no Brasil?
Se os clubes fossem mais profissionais, preocupados com o orçamento, muitos não continuariam carregando os atuais números. Tem clube que gasta mais de 80% das receitas com jogadores. A conta não vai fechar nunca. Tem de mudar.
• O Cruzeiro é o principal exemplo do que não fazer?
O formato da gestão tem de ser repensado. Não dá para gastar mais do que arrecada, contratar 40 jogadores, aí empresta jogador para outro clube pagando 50% dos salários. São coisas que chegam a dar nervoso na gente. Não tem como o futebol brasileiro continuar assim. Tem clube que deve mais de R$ 600 milhões. O Cruzeiro caiu para a Série B. Ele precisa subir para a Série A no próximo ano porque a receita de televisão mudou. Se não voltar, terá problema e vai se afundando cada vez mais.