O Estado de S. Paulo

Governo tenta segurar ‘Super Refis’

Para equipe econômica, projeto apresentad­o na Câmara que dá perdão de 90% em multas deveria ser discutido com a reforma tributária

- Adriana Fernandes Camila Turtelli / BRASÍLIA

A equipe econômica já se movimenta para tentar barrar o ímpeto de parlamenta­res por um novo e amplo programa de parcelamen­to de débitos tributário­s. Projeto apresentad­o na quarta-feira na Câmara cria um “Super Refis” para dívidas contraídas até o fim da pandemia, com o perdão de até 90% de multas. A ideia do governo é que o assunto seja discutido junto com a proposta de reforma tributária. Nessa disputa, o Ministério da Economia ganhou ontem o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Dada a gravidade da crise, o Ministério da Economia considera difícil não fazer nenhum tipo nenhum tipo de parcelamen­to de débitos tributário­s, segundo apurou o Estadão. Mas a avaliação é de que o momento agora é ainda “prematuro”, porque não se sabe o tamanho do Refis que será necessário.

Para o governo, esse cenário pós-covid-19 só ficará mais claro mais à frente. Assim, a discussão do Refis na reforma tributária – cuja proposta é de simplifica­ção do emaranhado de impostos – daria tempo para avaliar o efeitos da pandemia e os setores mais afetados pela desacelera­ção da atividade econômica.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, em encontro com representa­ntes do setor de serviços, tinha sinalizado com a possibilid­ade de parcelamen­to de impostos que já tiveram seu pagamento adiado durante a atual crise. Há ainda forte pressão por novos diferiment­os (suspensão do pagamento), o que não está descartado.

Em linha com o governo, o presidente da Câmara também disse ontem que a discussão do tema deveria esperar pelos debates envolvendo a reforma tributária. Para fontes da equipe econômica, com isso se evitaria que os chamadores devedores contumazes sejam beneficiad­os. Se a reforma tributária andar rápido, segundo as fontes, isso deverá ocorrer em agosto ou setembro, quando se espera que o País já tenha retomado integralme­nte o nível anterior de atividade econômica.

De autoria do deputado Ricardo Guidi (PSD-SC), o projeto cria o Programa Extraordin­ário de Regulariza­ção Tributária (Pert/Covid-19) para débitos da Receita e da Procurador­iaGeral da Fazenda Nacional. Na prática, o texto dá salvo-conduto para empresas e pessoas físicas deixarem de pagar os débitos contraídos até dezembro, quando termina o estado de calamidade pública decretado pelo governo com a pandemia.

Um requerimen­to de urgência assinado pelo líder do Centrão, deputado Arthur Lira (PPAL), foi apresentad­o na Câmara. Se aprovada a urgência, o projeto pode ser votado imediatame­nte pelo plenário.

‘Discussão’. A declaração de Maia atrelando o Refis à reforma tributária, na prática, deve travar o avanço da proposta neste momento. “Nós deveríamos aproveitar a crise para fazer uma discussão mais ampla, a partir de julho. Primeiro de forma virtual e depois presencial.

Fazer uma grande discussão da reforma tributária e, dentro dela, discutir um último Refis”, afirmou ele.

O apelido de Refis nasceu do nome do primeiro parcelamen­to especial, feito há 20 anos, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na época, o programa foi destinado somente a empresas. De lá para cá, já foram 39 programas, segundo a Receita, inclusive para bancos e clubes de futebol.

Ao Estadão, o relator da reforma tributária e líder da maioria, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), afirmou ser precipitad­o fazer um Refis agora. Para ele, é preciso ver “qual é, de fato, o tamanho da confusão na economia” provocada pela covid-19 e como afetará as contas públicas.

“Depois disso, ainda tem os investimen­tos clamando por recursos do Orçamento. Ainda que com a presença da iniciativa privada vai ter de ter um pouco de recurso para incrementa­r”, afirmou. “Tudo isso tem de quantifica­r para organizar os cenários.”

Na sua avaliação, o que poderia fazer e foi feito é a suspensão no pagamento dos impostos, jogando parcelas um pouco mais para frente. “Mas tratar de Refis agora é jogar no escuro. Não tem cenário. Não adianta antecipar isso agora. O empresário só vai ter clareza da situação dele quando chegar um pouco no futuro”.

‘Último Refis’ “Deveríamos aproveitar para fazer uma discussão mais ampla, a partir de julho. Fazer uma grande discussão da reforma tributária e, dentro dela, discutir um último Refis.” Rodrigo Maia (DEM-RJ) PRESIDENTE DA CÂMARA

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NAJARA ARAUJO/CÂMARA DOS DEPUTADOS Convergênc­ia. A exemplo de governo, Maia diz que debate deve esperar reforma tributária

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