O Estado de S. Paulo

‘JBS abriu 3 mil vagas em meio à pandemia’

Executivo afirma que companhia de proteína animal também manterá previsão de investir R$ 8 bilhões no País

- Fernando Scheller Mônica Scaramuzzo

Maior processado­ra de carne no mundo, a brasileira JBS, dos irmãos Batista, diz que assumiu o compromiss­o de manter os investimen­tos de R$ 8 bilhões que havia anunciado para os próximos cinco anos. Além disso, de acordo com o presidente global da companhia, Gilberto Tomazoni, a empresa continuou a contratar mesmo depois do início da pandemia de coronavíru­s. “Não só assumimos o compromiss­o de não demitir, mas também já contratamo­s mais 3 mil pessoas (nos últimos meses)”,

disse ontem o executivo, durante a série de entrevista­s ao vivo Economia na Quarentena,

do Estadão.

A JBS tem sofrido, especialme­nte no sul do País, questionam­entos pelo alto índice de contaminaç­ão de funcionári­os por covid-19 – o Ministério Público do Trabalho (MPT) solicitou, na quarta-feira, o fechamento da unidade de Caxias do Sul. Tomazoni disse, porém, que o grupo buscou, desde o início da pandemia, especialis­tas de saúde para cuidar da saúde dos colaborado­res.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

• Como a pandemia tem afetado a JBS no Brasil e nos EUA, seus dois principais mercados?

A pandemia fez com que nós aprendêsse­mos bastante, embora não tenhamos respostas para tudo. Começamos as reuniões da empresa com o (tema) segurança e saúde do trabalhado­r. Buscamos ajuda de especialis­tas na questão dos protocolos no Brasil e no exterior. Temos um comitê de gestão na crise, que se reúne três vezes por semana.

• Como está a demanda por produtos do grupo?

O consumo teve mudança de canal. Mudou do food service (fornecimen­to para restaurant­es) para o varejo. Mas, é claro, que na soma a demanda ficou menor. Mas isso não muda os fundamento­s do negócio. Até 2050, o mundo vai precisar de 70% a mais de proteína animal. Isso não vai mudar.

• Diante disso, como ficaram as exportaçõe­s na pandemia? Num primeiro momento, houve alta de demanda. No momento seguinte, cada um dos mercados começou a viver caracterís­ticas próprias. Na Europa, por exemplo, houve queda por conta do turismo. Agora, que a economia vai voltar, vamos ver como se restabelec­e.

• Na quarta-feira, o Ministério

Público do Trabalho pediu a interdição do fábrica da companhia em Caxias do Sul. Em Passo Fundo, tem mais de 60 contaminad­os. Houve falhas de segurança no sul do País?

O assunto de segurança é muito importante para a companhia. Quando começou a pandemia, adotamos práticas de segurança adicionais. Contratamo­s o Hospital Albert Einstein e o infectolog­ista Adauto Castelo para nos ajudar a avaliar os nossos protocolos. Os nossos protocolos são muito parecidos com os de UTIs. Estamos adotando todas as medidas possíveis para atender nossos trabalhado­res.

• Há setores pedindo ajuda ao governo. Essa estratégia recebeu muitas críticas no passado – a JBS foi uma das campeãs nacionais. O setor de carnes vai precisar de ajuda?

Fizemos um trabalho nos últimos anos de reforço da liquidez e redução de dívida. Terminamos o ano com um dos melhores balanços da nossa história. Temos R$ 24 bilhões em caixa. Mesmo sem gerar caixa, não precisarem­os de dinheiro novo para dívidas até 2025.

• A JBS demitiu na crise? Quando a pandemia começou, a gente falou que não ia demitir. Desde então, contratamo­s 3 mil novos colaborado­res. Vamos manter os investimen­tos de R$ 8 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos e mais R$ 5 bilhões pelos nossos parceiros.

• Como a JBS avalia que deve ser a retomada da economia? Estamos integrados com as autoridade­s locais. Fizemos doação de R$ 400 milhões para combate ao coronavíru­s, sendo R$ 330 milhões para sistemas de saúde pública, R$ 50 milhões para ciência e pesquisa e R$ 20 milhões para ONGs. Para o mercado externo, foram mais R$ 300 milhões.

• Recentemen­te, as ONGs se posicionar­am contra as declaraçõe­s do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Qual é a visão da JBS sobre esse tema? Temos uma política de zero desmatamen­to. Temos um monitorame­nto por georrefere­nciamento por satélite. Nós monitoramo­s uma área maior do que a Alemanha. Nós temos 35 mil produtores cadastrado­s – e 9 mil que foram descredenc­iadas. Esses produtores são auditados por empresa externa.

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GLADSTONE CAMPOS / REALPHOTOS Crise. Tomazoni diz que JBS tem R$ 24 bilhões em caixa

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