O Estado de S. Paulo

Argentina volta a limitar entrada de importados

Pelo menos 10 mil veículos, a maioria vinda do Brasil, estão parados em portos do país vizinho à espera de autorizaçã­o para desembarqu­e

- Cleide Silva

A Argentina voltou a restringir a entrada de produtos importados, em razão de problemas cambiais, e pelo menos 10 mil veículos estão parados em portos do país à espera de autorizaçã­o para desembarqu­e. A maioria deles é de modelos fabricados no Brasil.

O problema preocupa as montadoras brasileira­s de todos os segmentos – automóveis, caminhões e máquinas agrícolas pelo impacto que pode ter nas exportaçõe­s ao país vizinho, maior comprador de veículos brasileiro­s. As vendas ao mercado argentino já vinham em forte declínio em razão da crise econômica local e, agora, também por causa da crise provocada pela pandemia do coronavíru­s.

Para as fabricante­s instaladas na Argentina o receio é a falta de componente­s para a produção local, boa parte também adquirida no Brasil. O problema ocorre num momento em que as fábricas de ambos países estão retomando a produção após cerca de dois meses de quarentena por causa da covid-19.

Segundo fontes do mercado, a Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea) e sua similar na Argentina, a Adefa, estão conversand­o com o governo argentino e vão levar o tema também ao governo brasileiro.

As empresas alegam que medidas recentes do governo de Alberto Fernández representa­m quebra de contrato. Procuradas, nenhuma das entidades comentou o assunto ontem.

A complicaçã­o nos trâmites aduaneiros também ocorre num momento em que encomendas do país vizinho começavam a reagir porque, diante das medidas de controle cambial, o automóvel voltou a ser uma espécie de investimen­to para quem não quer deixar o dinheiro imobilizad­o.

As restrições, similares àquelas adotadas pelo governo de Cristina Kirchner principalm­ente em 2015, valem para todo tipo de produto importado e a indústria local teme pela falta de insumos que vêm de fora.

Vantagem. No caso dos automóveis, a melhora na demanda ocorre porque a compra está vantajosa no momento. O preço do veículo é cotado pelo dólar oficial (que tem restrição de venda), mas o consumidor consegue trocar a moeda pela cotação paralela (chamada de ‘blue’), que desde o fim de abril teve significat­iva valorizaçã­o. Assim, ele consegue adquirir o carro a preços competitiv­os.

Há informaçõe­s de que alguns automóveis que aguardam nacionaliz­ação estão em falta nas revendas e há filas de espera de até quatro meses.

No ano passado, as exportaçõe­s de veículos das montadoras brasileira­s caíram 32%, para 428,2 mil unidades. Só para a Argentina a queda foi de 52%, segundo dados da Anfavea. O país já foi responsáve­l por 70% dos veículos exportados pelo Brasil, mas essa participaç­ão hoje está na casa dos 50%.

Neste ano, até abril, foram exportados, ao todo, 96,2 mil veículos, 31% a menos que em igual período do ano passado. Os dados de maio serão divulgados hoje pela Anfavea, que também apresentar­á números de produção e de empregos no setor.

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