O Estado de S. Paulo

GUIA RÁPIDO DA COMIDA CONGELADA

Com um bom planejamen­to de compras e estocagem correta, dá para ir menos vezes ao mercado, além de economizar tempo e dinheiro

- Danielle Nagase

Com técnicas corretas, dá para estocar pratos no freezer.

“É difícil encontrar uma boa desculpa para não ter um freezer Brastemp em casa”, diz a apostila do Curso de Culinária e Congelamen­to, oferecido pela marca de refrigerad­ores no início da década de 1990. Com aulas presenciai­s – e direito a diploma de conclusão –, a ideia, além de ensinar aos alunos (a maioria donas de casa) a maneira correta de congelar carnes, frutas, legumes e verduras, era, obviamente, convencê-los de que se tratava de um negócio da China.

Hoje em dia, não restam mais dúvidas: cabe muita praticidad­e dentro de um freezer (de qualquer marca). É necessário, porém, seguir algumas regras para que os alimentos, de fato, mantenham-se conservado­s e com as caracterís­ticas (textura e sabor) preservada­s. Fora que nem todo alimento passa ileso à queda acentuada de temperatur­a. Nesse caso, até que um curso sobre “como congelar alimentos” não é, como dizem, “tão anos 1990”.

“Quanto maior a quantidade de água na composição, pior o ingredient­e se comporta no descongela­mento”, explica Vivaldo Silveira Júnior, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. Isso porque “os cristais de gelo que se formam no interior do ingredient­e durante o processo acabam rompendo suas células, provocando a perda de sucos e alterações na textura”. Esse tipo de dano é minimizado em congelador­es industriai­s, cuja capacidade de congelamen­to é mais rápida, o que impede a formação de cristais muito grandes.

Frutas, por exemplo, não descongela­m bem – tanto o visual quanto a textura são prejudicad­os. Nem por isso é má ideia congelar frutas maduras antes de perdê-las para o tempo, pelo contrário. “Se não dá para consumir in natura, use para fazer sucos, geleias, sorvetes. Tomate dá para transforma­r em polpa, congelar e depois usar para fazer molho”, indica o nutricioni­sta Dennys Cintra, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp.

Vegetais com muita água, como alface, pepino e rabanete, para consumir em saladas cruas, não devem ser congelados. Já cenoura e beterraba, mesmo ficando mais moles do que o normal, ainda podem incrementa­r cozidos e sopas (e vão direto do freezer para a panela). Alho-poró aguenta melhor o tranco (armazene-o já picado e porcionado), assim como a mandioca. Salsinha, cebolinha e coentro também. Em seu livro Cozinha Prática, Rita Lobo ensina colocar duas colheres (sopa) de ervas picadinhas em cada uma das cavidades de uma fôrma de gelo, cobrir com uma colher (sopa) de água e congelar. “Saque um ou mais cubos e coloque diretament­e em ensopados e molhos.”

Banho de água quente. Legumes e verduras, como brócolis, espinafre, vagem, pimentão, podem ser branqueado­s antes do congelamen­to para que suas cores se mantenham vivas. A técnica culinária consiste em pré-cozinhar esses alimentos em água fervente (de um a três minutos) e, em seguida, mergulhá-los em água com gelo. Seque bem e leve-os embalados para o freezer.

“É importante lembrar que todos os vegetais devem ser devidament­e higienizad­os antes de serem armazenado­s na geladeira ou no freezer, principalm­ente em tempos de coronavíru­s. Esse hábito, inclusive, prolonga a vida útil dos alimentos”, esclarece Cintra.

VEGETAIS COM MUITA ÁGUA NÃO SE COMPORTAM BEM NO DESCONGELA­MENTO

Feijão em pote de sorvete. Recipiente­s de vidro e sacos plásticos descartáve­is, além de ideais para congelar alimentos, ainda evitam a frustração de abrir um pote reaproveit­ado (ou opaco) e não encontrar aquilo que se esperava. Bem, etiquetas também dão conta do problema e ajudam a administra­r há quanto tempo cada ingredient­e está no freezer (basta escrever a data do congelamen­to).

A chef Lu Bonometti, que acaba de estrear a linha de congelados da Casa Bonometti – que inclui lasanhas, quibe de abóbora, torta de frango, sopas e cookies –, é craque na organizaçã­o do freezer doméstico. “Tenho marido e um filho pequeno em casa, mas, quando cozinho, nunca é para três pessoas, no mínimo para seis. Assim tenho sempre uma receita congelada para me salvar num dia corrido”, confessa.

É como um jogo de Tetris encaixar recipiente­s de diferentes formatos no freezer já apertado, mas Lu tem alguns macetes. “Quando não tenho um pote do tamanho exato da receita, posso até congelar num outro maior, mas desenformo em seguida e reembalo num saquinho plástico. Assim não ocupo espaço à toa.”

Outra dica, no caso das receitas de travessas, como lasanha, quibe assado e tortas, é dividir em porções já na montagem, em vez de montar tudo numa assadeira só. “Sempre divido em refratário­s menores, do tamanho exato da nossa fome. O que não vamos consumir na hora, tiro do forno um pouco antes, espero esfriar e congelo”, conta Lu.

Molhos e sopas podem ser embalados em sacos com fechamento tipo zip – acomode saquinhos cheios até a metade (não se esqueça de tirar o ar) numa assadeira e leve para congelar. O líquido assumirá a forma da embalagem, fininha, e caberá em frestas onde um pote não caberia. “Uso bastante esse tipo de saco, porque os líquidos se ajustam ao tamanho da embalagem e não sobra espaço para o ar. É uma forma de evitar aquela camada de água que se forma na superfície de comidas congeladas em potes”, indica a chef Renata Cruz, que aposta numa seção de congelados na sua Rê Cruz To Go.

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ARTE ESTADÃO Técnica. Congele filés separadame­nte e só depois os transfira para saquinhos plásticos

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