O Estado de S. Paulo

Desmate cresce na Amazônia

Perda foi de 1.844 quilômetro­s quadrados nos 5 primeiros meses do ano; especialis­tas temem alta de queimadas e risco para indígenas

- Giovana Girardi

Perda foi de 1.844 km2 nos 5 primeiros meses do ano, alta de 22% ante o mesmo período de 2019.

Nos cinco primeiros meses deste ano, o desmatamen­to na Amazônia foi 22% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, segundo o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A perda foi de 1.844 km², ante 1.512 km² de janeiro a maio do ano passado. O total desmatado neste ano é o maior para o período de 5 meses desde 2015.

Em apenas dez meses, os alertas de desmate da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. Entre agosto do ano passado até 28 de maio deste ano, o Deter divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Nos 12 meses anteriores (agosto de 2018 a julho de 2019), foram 6.844 km² .

O dado mantém um cenário de alta que se instalou na Amazônia há um ano. Com agravante de que junho e julho são tradiciona­lmente meses que trazem as maiores taxas de desmatamen­to, o que indica que o período atual de 12 meses deve ter devastação ainda mais elevada do que a do ano passado.

O Deter é um sistema de monitorame­nto por satélite em tempo real, voltado para alertar a fiscalizaç­ão a combater crimes ambientais em campo. Não serve como taxa oficial de desmate, mas é um bom termômetro da situação.

Por ser muito dinâmico, acaba sujeito a uma baixa visibilida­de quando há muitas nuvens, e nem sempre consegue ver tudo, mas a tendência apontada por ele normalment­e é confirmada depois pelo Prodes, sistema que traz os dados anuais oficiais de desmatamen­to. O Prodes mede o que foi perdido na floresta entre agosto de um ano e julho do ano anterior.

Enquanto o Deter alertou, no passado, os 6.844 km², o Prodes depois bateu o martelo: foram devastados 9.762 km², a taxa mais alta desde 2008. Se em maio, segundo o Deter, 2020 já quase alcançou 2019, é de se imaginar que o Prodes também virá com uma taxa ainda mais alta que a do ano anterior.

O aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federal, como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio) e Funai adotem, imediatame­nte, ações de comando e controle para conter ações de desmatamen­to na Amazônia.

Pandemia. Estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela pandemia, mas isso não impediu o avanço de criminosos. Tribos indígenas estão sendo contaminad­as, em parte, por garimpeiro­s ilegais. Estudo do Instituto Socioambie­ntal (ISA) em parceria com a Universida­de Federal de Minas (UFMG), com revisão da Fiocruz, estima que quase 40% dos ianomâmis que vivem perto de áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi podem ser contaminad­os pela covid-19. A terra indígena têm hoje cerca de 20 mil garimpeiro­s ilegais em sua área. Conforme o ISA, três ianomâmis morreram da doença e há 55 infectados entre os ianomâmis e os ye’kwana.

“Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, em que as queimadas costumam ser recorrente­s na região, conforme vimos ano passado. Isso significa que mais pessoas precisarão de atendiment­o médico por causa dos problemas respiratór­ios causados pela fumaça e pelas cinzas da floresta queimando”, diz Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace, em nota à imprensa. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não se manifestou sobre o tema.

 ?? GABRIELA BILO / ESTADÃO - 27/8/2019 ?? Queimada. Aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federa adotem ações de comando e controle
GABRIELA BILO / ESTADÃO - 27/8/2019 Queimada. Aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federa adotem ações de comando e controle

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil