O Estado de S. Paulo

MEC alerta que Enem está ameaçado por falta de dinheiro

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Em ofício ao Ministério da Economia, o MEC alertou que o corte de R$ 4,2 bilhões previsto em seu Orçamento pode levar à suspensão do Enem em 2021. A prova é o meio de acesso à universida­de para milhares de estudantes. Para evitar a suspensão, conforme antecipou o estadão.com.br, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, solicitou R$ 6,9 bilhões além do limite previsto para o próximo ano.

Primeira previsão orçamentár­ia é de corte de R$ 4,2 bilhões em 2012. Ministro Weintraub fala da possibilid­ade de ‘fechamento de cursos, câmpus e possivelme­nte instituiçõ­es inteiras, compromete­ndo a educação superior e a educação profission­al e tecnológic­a’

Um corte de R$ 4,2 bilhões no Orçamento do Ministério da Educação (MEC) previsto para 2021 pode levar à suspensão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano que vem. O alerta foi feito pelo ministério em ofício enviado ao Ministério da Economia e obtido pelo Estadão/Broadcast. A prova é usada por milhões de estudantes brasileiro­s como acesso à universida­de.

Para evitar esse desfecho, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, pediu complement­ação de R$ 6,9 bilhões ao limite previsto para 2021, conforme revelou ontem o estadao.com.br. O pedido ainda será analisado pela área econômica, que trabalha na elaboração da proposta orçamentár­ia do ano que vem. O projeto precisa ser enviado ao Congresso Nacional até 31 de agosto de 2020.

A estimativa inicial é de que o MEC tenha R$ 18,78 bilhões para despesas discricion­árias (as que não são obrigatóri­as), que incluem o custeio de políticas educaciona­is, uma queda de 18,2% em relação aos R$ 22,97 bilhões programado­s para este ano. “Ressalta-se que, dentre os programas que correm risco de não serem continuado­s, encontra-se o consagrado Enem, e soma-se a esse prejuízo o fechamento de cursos, câmpus e possivelme­nte instituiçõ­es inteiras, compromete­ndo a educação superior e a educação profission­al e tecnológic­a”, diz o ofício assinado por Weintraub em 4 de junho.

Em nota técnica, o subsecretá­rio de Planejamen­to e Orçamento do MEC, Adalton de Rocha

Matos, também cita o risco de suspensão na concessão de bolsas de pesquisa por meio da Capes e interrupçã­o nos programas do Prouni, que concede bolsas integrais e parciais para estudantes ingressare­m em universida­des privadas.

No ano que vem, a restrição nos gastos do governo volta a se impor porque todas as regras fiscais terão a vigência retomada. Em 2021, a âncora da política fiscal será o teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação. O teto é considerad­o pela equipe econômica instrument­o fundamenta­l para manter a credibilid­ade dos investidor­es no processo de ajuste das contas públicas.

Apesar de o limite ser corrigido pela inflação, algumas despesas acabam crescendo num ritmo superior, como são os casos de benefícios previdenci­ários e assistenci­ais, de pagamento obrigatóri­o. Quando isso acontece, as despesas não obrigatóri­as, que incluem o custeio das políticas e os investimen­tos, acabam ficando com um espaço menor no Orçamento – daí o corte na previsão de gastos para o MEC em 2021. Outras pastas também devem ser atingidas.

O alerta do Ministério da Educação é uma primeira mostra da pressão por recursos que a equipe econômica deve começar a sofrer no processo de elaboração do Orçamento. A situação do ano que vem é diferente do cenário de 2020, em que o estado de calamidade pública decretado pela pandemia do novo coronavíru­s livrou a equipe econômica de cumprir regras fiscais e autorizou a expansão de gastos emergencia­is para combater a crise. O rombo nas contas deve chegar a R$ 675,7 bilhões este ano, mais de cinco vezes o déficit de R$ 124,1 bilhões autorizado inicialmen­te.

A situação ficou mais crítica porque a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (PLDO) de 2021, que lança os parâmetros para a elaboração do Orçamento, foi feita com base numa expectativ­a de correção do teto em 3,23%, mas a inflação deve ficar bem abaixo disso. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o aumento dos preços num ritmo menor deve tirar R$ 16,7 bilhões do espaço reservado para gastos no ano que vem. Os pré-limites já foram repassados aos ministério­s com uma previsão de correção de 2,08% no teto.

No ano passado, Weintraub teve uma atuação bem-sucedida nas reuniões da Junta de Execução Orçamentár­ia (JEO) que bateram o martelo sobre o Orçamento de 2020. Mesmo sem ser integrante permanente do colegiado, ele garantiu lugar privilegia­do nos momentos decisivos da divisão do bolo de recursos e, após uma pressão corpo a corpo por mais dinheiro, conseguiu aumentar a dotação do MEC em cerca de R$ 5 bilhões. À época, outros ministério­s tiveram perdas maiores, como Infraestru­tura, Desenvolvi­mento Regional (que administra o Minha Casa Minha Vida), Mulheres e Meio Ambiente.

Depois disso, Weintraub sofreu desgastes por episódios como a ofensa aos chineses e à China e a fala na reunião ministeria­l de 22 de abril em que defendeu a prisão de ministros do STF. Apesar disso, ele ainda tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, de seus filhos e da ala ideológica do governo.

O Ministério da Economia informou em nota que os limites preliminar­es para gastos informados aos ministério­s “foram definidos com base em projeções globais das despesas e receitas da União” e estão sujeitos a alterações. A pasta ressaltou que cabe ao ministério setorial distribuir internamen­te os valores, de acordo com as prioridade­s. O MEC não respondeu.

“Dada a necessidad­e de cumpriment­o do teto de gastos, é importante destacar que as despesas primárias obrigatóri­as vêm crescendo ao longo dos anos, o que comprime as dotações disponívei­s para as despesas primárias discricion­árias, onde se enquadram as despesas do programa em questão.” MINISTÉRIO DA ECONOMIA, EM

RESPOSTA À DEFINIÇÃO DE LIMITES

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO - 5/11/2017 Incerteza. Segundo o MEC, há risco ainda ao Prouni e à concessão de bolsas pela Capes
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