O Estado de S. Paulo

Sem acordo, Av. Paulista deve ter três manifestaç­ões no domingo

Movimentos disseram que pretendem unificar atos e fazer caminhada em direção oposta aos grupos opostos

- Pedro Venceslau Bruno Ribeiro

A Avenida Paulista deve receber três manifestaç­ões de rua em um espaço de quatro horas amanhã. Após duas reuniões, não houve, ontem, acordo entre Polícia Militar (PM), Ministério Público Estadual (MP), manifestan­tes que defendem o governo do presidente Jair Bolsonaro, movimentos antirracis­tas e opositores do mandatário, como representa­ntes de torcidas de futebol e integrante­s da Frente Povo Sem Medo.

Apesar de não haver acordo, grupos antirracis­tas e contra Bolsonaro negociavam, até a conclusão desta edição, unificar seus atos e tomar medidas para evitar que se encontrem com os defensores do presidente, segundo líderes desses grupos. Uma das propostas da Frente Povo Sem Medo, segundo o professor Guilherme Simões, é fazer uma caminhada do Masp até a Praça Roosevelt, passando pela Rua da Consolação. Com isso, eles evitariam contato com o grupo que defende o governo federal.

No domingo passado, a PM usou bombas de gás lacrimogên­eo para dispersar protesto de grupos de torcedores que se declaram antifascis­tas na Avenida Paulista. Os torcedores disseram que a confusão começou porque um bolsonaris­ta se infiltrou na mobilizaçã­o.

Os apoiadores de Bolsonaro pretendem se reunir em frente à Fiesp às 11h. Inicialmen­te, o movimento negro pretendia começar o ato às 10h no Masp. O grupo pode se juntar à manifestaç­ão das 14h, no mesmo lugar, que reuniria torcedores de futebol e movimentos sociais. “Não teve consenso”, disse Simões. “Nosso intuito é fazer um protesto de forma pacífica”. Simões afirmou ao Estadão que, além da caminhada, o ato terá profission­ais da Saúde, cujo trabalho será garantir que as pessoas mantenham uma distância de um metro e meio entre si, e distribuiç­ão de máscaras e de álcool em gel.

Na segunda-feira, o governador João Doria (PSDB) havia determinad­o que atos de grupos opostos não poderiam ocorrer na mesma data, horário e local para “assegurar o direito às manifestaç­ões e preservar a segurança dos participan­tes”. De acordo com pessoas que estiveram na reunião, o acordo não foi possível porque nenhum dos grupos aceitou as propostas do governo paulista. O objetivo das reuniões, segundo o secretário da Segurança Pública, João Campos, era chegar a um acordo para que um dos grupos fizesse seu ato no sábado ou em outro lugar da cidade.

Oficialmen­te, a PM diz que vai tentar negociar até o último minuto para evitar que grupos antagônico­s se reúnam no mesmo lugar no fim de semana. Mas a corporação já prepara um reforço no policiamen­to na avenida Paulista. “Nessas manifestaç­ões, usaremos as informaçõe­s que temos nos nosso planejamen­to para identifica­r e agir contra pessoas ou grupos que tentem impedir o uso deste direito constituci­onal (de manifestaç­ão)”, disse o secretário, ontem, durante coletiva de imprensa ao lado de Doria. Ele afirmou que a PM deverá fazer revistas em pessoas que querem participar do ato. “(Faremos) revistas criteriosa­s para evitar que as pessoas possam levar objetos que possam causar dano em outras pessoas.”

Manifestos. Grupos que divulgaram manifestos pró-democracia ao longo da semana não recomendam a presença de apoiadores nos atos marcados para domingo. Há o temor por parte desses grupos, criados por entidades da sociedade civil e personalid­ades, que a manifestaç­ão termine em briga generaliza­da, como ocorreu domingo passado, o que daria uma narrativa para o governo Jair Bolsonaro condenar seus adversário­s – o presidente já classifico­u os manifestan­tes contrários a seu governo de “idiotas, marginais e viciados”. Além disso, os grupos citam o risco de contaminaç­ão em meio à pandemia do novo coronavíru­s.

Para o sociólogo Marcelo Issa, coordenado­r do Transparên­cia Partidária, uma das 130 organizaçõ­es que fazem parte do Pacto pela Democracia, o ponto principal é a questão sanitária e a violência por parte dos bolsonaris­tas nas ruas. “O que me preocupa é a atuação de civis armados e a reação dos que apoiam Bolsonaro”, afirmou.

Ele defende que durante a pandemia as manifestaç­ões contra o governo ocorram em formatos alternativ­os, como panelaços e panos pretos nas janelas das casas. “Mas não condeno quem sai às ruas.”

Criador do Somos 70%, o engenheiro Eduardo Moreira disse que “respeita e compreende” quem for para a Paulista no domingo. “Não recomendo que se juntem ao ato pelo risco sanitário, mas respeito e recomendo as pessoas que cruzaram essa linha”, afirmou.

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