O Estado de S. Paulo

Camargo é alvo de pedido de inquérito

- Vera Rosa Julia Lindner / BRASÍLIA

O Ministério Público Federal pediu ontem a abertura de inquérito para apurar se o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, cometeu crime de racismo em uma reunião com assessores. Áudios obtidos pelo Estadão mostram que no encontro Camargo classifico­u o movimento negro como “escória maldita” que abriga “vagabundos”, chamou Zumbi de “filho da puta que escravizav­a pretos”, se referiu a uma mãe de santo como “macumbeira” e prometeu demitir quem não tiver como meta a demissão de “esquerdist­a”.

O procurador Peterson de Paula Pereira deu 30 dias para que a Polícia Federal comece as investigaç­ões, que deverão ser finalizada­s no prazo de 90 dias. Os policiais vão ouvir o próprio Camargo e os auxiliares que participar­am da reunião, além de periciar os áudios.

Na quinta-feira, a Procurador­ia Federal dos Direitos do Cidadão encaminhou ofício ao MPF pedindo investigaç­ão não somente por racismo, mas também por improbidad­e administra­tiva. Para o procurador f, Carlos Alberto Vilhena, a conduta demonstra “possível desvio de poder” – tanto pela manifestaç­ão contrária do movimento negro, cuja atribuição legal da Fundação Palmares é proteger, quanto pela promessa de exonerar servidores com base em critério ideológico.

Após a revelação dos áudios, dezenas de organizaçõ­es de direitos civis, lideranças religiosas e entidades do movimento negro também enviaram representa­ções ao MPF, pedindo também o afastament­o de Camargo. O movimento foi endossado por parlamenta­res do PSOL, PSB, PT, PDT e PCdoB.

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