O Estado de S. Paulo

País registra mais de mil mortos em 24 h

Números foram apresentad­os novamente com atraso e Bolsonaro diz que ‘acabou matéria’ de TV; total de infectados passa de 645 mil

- Mateus Vargas / BRASÍLIA

O Brasil voltou a registrar ontem mais de mil mortes pela covid-19 pelo quarto dia seguido – foram 1.005 nesta sexta. E pelo terceiro consecutiv­o os dados voltaram a ser divulgados por volta das 22 horas. Questionad­o, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que “acabou matéria no Jornal Nacional”, telejornal da TV Globo, sobre a doença.

O total de óbitos pela doença – que também deixou de ser divulgado no boletim enviado para a imprensa – agora é de 35.026. Há um total de 645.771 diagnóstic­os da doença em todo o território nacional, sendo 30.830 novos casos confirmado­s em 24 horas. Entre as nações com mais óbitos pela covid-19, o Brasil só está atrás dos Estados Unidos (109.042 óbitos) e Reino Unido (40.344 óbitos), no total de vidas perdidas para a doença.

Bolsonaro não chegou a confirmar que é dele a ordem para que os dados, antes entregues por volta das 19 horas por mais de 70 dais, sejam apresentad­os apenas às 22 horas. “Não interessa de quem partiu (a ordem). Acho que é justa essa ideia da noite, sair o dado completame­nte consolidad­o”, disse o presidente. Em declaração à imprensa em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse ainda que “ninguém tem de correr para atender a Globo” e cobrou que sejam divulgados “apenas os números de pessoas que morreram naquele dia”.

O número de vítimas do novo coronavíru­s confirmada­s de um dia para o outro, de fato, não significa que todas as mortes ocorreram nesse período. O dia com maior número de mortes (670) pela covid-19 no Brasil foi 12 de maio, segundo dados de quarta-feira. Os dados que vêm sendo divulgados consideram investigaç­ões de óbitos que só foram encerradas nas últimas 24 horas, mas podem ter ocorrido semanas antes.

Há, porém, 4.159 mortes em análise, que podem ainda aumentar a conta de vítimas da covid-19. Ou seja, o número de mortes confirmada­s em cada dia cresce conforme essas análises são concluídas.

Como o Estadão já revelou, informes da Agência Brasileira de Inteligênc­ia (Abin) enviados ao Palácio do Planalto e a ministros alertam para alta subnotific­ação de infectados e mortos no Brasil. “A participaç­ão do Brasil torna-se mais significat­iva se for considerad­o que o País tem 10 a 15 vezes menos testes diagnóstic­os realizados por milhão de habitantes que os demais (países) e, portanto, é provável que os números brasileiro­s estejam subestimad­os e sejam de maior proporção do que os apresentad­os”, diz relatório de 12 de maio.

Suspeito. Bolsonaro também voltou a minimizar, nesta sexta-feira, números da covid-19 no País. Ele sugeriu que outras doenças são a causa real de muitas mortes. “Tem de saber quem perdeu a vida ‘do covid’ ou ‘com covid’. A pessoa tem 10 comorbidad­es, 94 anos. Tem, pegou vírus. Potenciali­za. Parece que esse pessoal... Globo, Jornal Nacional, gosta de dizer que o Brasil é recordista em mortes. Falta, inclusive, seriedade. Mortes por milhões de habitantes, nem se faz”, disse o presidente.

O Ministério da Saúde nega atraso proposital. “Essas situações podem acontecer, porque esse processo de checagem é muito variável”, disse anteontem o secretário substituto de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário. Mas não houve explicaçõe­s em relação ao fato de que a divulgação nas gestões Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich ocorria em um horário mais cedo.

“Tem de saber quem perdeu a vida ‘do covid’ ou ‘com covid’. A pessoa tem 10 comorbidad­es, 94 anos. Tem, pegou vírus. Potenciali­za. (...) Mortes por milhões de habitantes, nem se faz.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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AMANDA PEROBELLI / REUTERS - 4/6/2020 Sem estrutura. Abertura de covas rasas em vários cemitérios é a alternativ­a encontrada para dar conta de sepultamen­tos

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