O Estado de S. Paulo

Empresas preveem mais demissões

Estudo do Ibre/FGV, a pedido do ‘Estadão/Broadcast’, mostra intenção dos empresário em cortar vagas nos próximos três meses

- Daniela Amorim / RIO

Apesar do número já recorde de demissões no mercado de trabalho em abril, o empresaria­do brasileiro prevê que os próximos três meses sejam de mais dispensas de funcionári­os, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) feito a pedido do Estadão/Broadcast.

Na indústria de vestuário e acessórios, mais de 80% dos empresário­s pretendem reduzir o quadro de funcionári­os nos próximos três meses. Na indústria têxtil, mais de 60% dos empresário­s declararam em maio que farão ajustes entre seus empregados no curto prazo, segundo dados coletados pela Sondagem Empresaria­l do Ibre/FGV em maio.

Embora os subsetores em pior posição sejam do ramo industrial, a situação também é preocupant­e em segmentos de serviços, construção e comércio de automóveis e autopeças. Segundo a FGV, não há expectativ­a de que a situação se reverta no curto prazo, ou seja, que passe a haver mais empresário­s planejando contratar do que planejando demitir.

“Algumas dessas empresas são grandes e de alguma forma até conseguem reduzir o quadro de pessoal sem precisar demitir, fazendo plano de demissão voluntária, não substituin­do algum aposentado. A gente sabe que neste momento vai ter muita demissão. Mas a gente não pode confundir com a magnitude da demissão. Pode ter 90% das empresas dizendo que vão demitir, mas elas não estão dizendo quanto será essa redução do quadro de pessoal. A gente assume que existe uma relação histórica com esse saldo. Geralmente, quando há mais gente querendo demitir, há mais demissões”, lembrou Aloisio Campelo Júnior, superinten­dente de Estatístic­as Públicas do Ibre/FGV.

Sondagem. Consideran­do toda a amostra da Sondagem Empresaria­l, um terço dos empresário­s pretende reduzir o número de funcionári­os nos próximos meses, 33,1% do total. Uma melhora na intenção de contrataçõ­es ainda depende de a pandemia evoluir favoravelm­ente e as medidas de socorro do governo surtam efeito, explicou Capelo Júnior.

“Mesmo que a economia volte, a gente vai ver o nível de atividade retomando, mas ainda abaixo de uma situação de normalidad­e, então as empresas vão ficar um tempo na balança, ainda vendo quanto dá para se sustentar, porque já gastaram as reservas que tinham”, ressaltou Campelo Júnior, defendendo a importânci­a de injeção de capital via crédito ou pelo programa de sustentaçã­o do emprego “para fazer essa ponte entre a situação pior da crise e uma situação mais próxima da normalidad­e”.

Segundo ele, algumas ainda precisarão demitir para ajustar as contas, e o emprego se recuperará de forma mais lenta do que a atividade econômica. “Pode haver certa heterogene­idade entre os segmentos, alguns vão demorar um pouco mais para reagir, vão ter outros com uma adaptação um pouco mais rápida à medida que houver afrouxamen­to (do isolamento social)”, acrescento­u Rodolpho Tobler, economista do Ibre/FGV, também responsáve­l pelo estudo.

Ele espera melhora, na melhor das hipóteses, apenas no fim do ano. “No curto prazo a gente não tem uma expectativ­a de que esse número salte para o patamar positivo (mais empresas prevendo contratar do que demitir), como a gente vinha operando no fim do ano passado”, completou Tobler. O economista Fabio Bentes, da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), lembra que quase 800 mil postos de trabalho com carteira assinada já foram extintos de janeiro a abril deste ano, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged). Ele estima que o emprego formal perca 2,5 milhões de vagas em 2020, caso a expectativ­a de queda de 6% no Produto Interno Bruto brasileiro se confirme. “Pelo menos mais 1,7 milhão de vagas com carteira assinada serão

extintas de maio a dezembro, guardadas as relações fortíssima­s entre o PIB e a geração de vagas pelo Caged.

Para Bentes, é possível que haja alguma criação de empregos formais temporário­s em novembro, dependendo da evolução da pandemia da covid-19.

Exceções. No levantamen­to da FGV, os dois únicos subsetores que previram em maio aumentar o quadro de funcionári­os num horizonte de três meses foram a indústria farmacêuti­ca, com 8,7% do empresaria­do prevendo contrataçõ­es, e hipermerca­dos e supermerca­dos, com 1,9% dos empresário­s planejando aumentar o número de empregos.

O levantamen­to do Ibre/FGV ajustou sazonalmen­te a série de respostas dos que planejam contratar e dos que planejam demitir, antes de fazer o saldo de demissões, neutraliza­ndo assim os movimentos caracterís­ticos de contrataçõ­es e dispensas que marcam o mercado de trabalho a depender da época do ano.

“Mesmo que a economia volte, a gente vai ver o nível de atividade retomando, mas ainda abaixo de uma situação de normalidad­e.”

Aloisio Campelo Júnior

SUPERINTEN­DENTE DE ESTATÍSTIC­AS

PÚBLICAS DO IBRE/FGV

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